O lugar do cinema, da televisão, da música. O lugar familiar onde nunca estivemos. Seguimos em Los Angeles e rumo a Las Vegas.
Em poucas décadas, Los Angeles expandiu-se desmedidamente, até esbarrar nas suas fronteiras naturais: as montanhas, o deserto e o oceano.
A Califórnia tornou-se sinónimo do American Dream e todos ambicionavam morar na american suburbia, de infinitas moradias unifamiliares, jardim e garagem, somente interrompidas pelas lojas de grandes cadeias e restaurantes de fast food, tão comuns por aqui.
O carro tornou-se um bem indispensável, a cidade perdeu a sua pedonalidade e a sua rede de transportes públicos nunca conseguiu satisfazer as necessidades da população.
Vivem aqui mais de doze milhões de pessoas e não será mais uma faixa de trânsito ou uma nova auto-estrada que solucionarão os seus problemas de locomoção. Parados no trânsito, rapidamente se abate sobre nós o saudosismo da metrópole asiática, onde o metro passa a cada dois minutos e eficientemente nos transporta a qualquer canto da cidade. LA tem várias características únicas, mas nenhuma mais fascinante que a diversidade da sua população. A cidade é um melting pot como nenhum outro, onde coexistem as mais diversas culturas, religiões e nacionalidades.
O Oeste americano: a última fronteira, o lugar do sonho. O lugar do cinema, da televisão, da música. O lugar familiar onde nunca estivemos
Com o maior número de mexicanos fora do México, de samoanos fora do arquipélago de Samoa e de coreanos fora da Coreia, LA é dos lugares mais multiculturais do planeta. O que daí origina? O mundo inteiro nestes quatro mil quilómetros quadrados. Koreatown, Little Tokyo, Little Armenia, Thai Town, Chinatown, Little Ethiopia, Filipinotown, El Pueblo…
Cada um destes bairros tem a sua própria cultura e identidade, fazendo-nos crer que não estamos na Califórnia, mas nalgum outro lugar do globo. E a gastronomia destes bairros? É incrível! O melhor pad thai que já comi fora da Tailândia? Thai Town! O melhor sushi fora do Japão? Little Tokyo!
Os melhores dumplings fora da China? Chinatown! Passamos os dias a percorrer os imensos bairros da cidade, a conhecer a história das suas comunidades e a visitar os locais dos nossos filmes e videoclipes favoritos: o banco de 500 Days of Summer, o Griffith Observatory de La La Land, Mulholland Drive de… bem, Mulholland Drive, a ponte de Sixth Street de Terminator e Long Beach de inúmeros videoclipes de Vince Staples e de Snoop Dogg.
Voltando à gastronomia… cheat day? Talvez cheat week seja o mais correcto… o frango com waffles do Roscoe’s, os dónutes do Randy’s, os hambúrgueres do Chick-fil-A e do Shake Shack, os doces do Cheesecake Factory… não há como resistir.
Museus? Existem dezenas e são alguns dos melhores que já visitei. Interesse por Belas Artes? LACMA, MOMA, Getty Center são imperdíveis. Interesse por história? Museu do Holocausto, Museu de História Natural e o California African American Museum merecem uma visita.
Há demasiado para fazer em Los Angeles: demasiada arte, demasiado entretenimento, demasiadas galerias, cinemas, exposições e concertos, demasiadas culturas e subculturas. Precisamos de mais dias aqui: passou uma semana e sentimos que ainda mal conhecemos a cidade e as suas pessoas… mas é altura de partir.
De Los Angeles a Las Vegas são 300 milhas (482 quilómetros), cinco horas. Partimos após a chegada da noite, de maneira que evitemos o trânsito. O deserto está mais perto que o esperado e, aos poucos, a cidade começa a desvanecer: desaparecem os restaurantes e os parques de estacionamento; depois, as casas e os campos de futebol; e, finalmente, os carros.
Os faróis iluminam o alcatrão e somos só nós e a estrada – ninguém à nossa frente, ninguém atrás de nós. A noite despe-se dos tons laranja das luzes da metrópole e voltamos ao breu e às estrelas que o interrompem.
Desaparecem todos os sons, menos o constante rumor do motor e é este que nos mantém na linha fina entre o road movie (8) romântico e o filme de terror. Estrada e mais estrada.
Os ponteiros avançam e fazemos de tudo para nos mantermos acordados até que, abruptamente, as luzes de novo. Luzes como nunca vi, mais coloridas e intensas do que em qualquer outro lugar, como um resplandecente oásis a meio do deserto, como algo entre o sonho e a realidade. Las Vegas.
Também aqui, o mundo inteiro. No entanto, não em bairros que preservam a cultura dos lugares distantes de onde os seus habitantes são provenientes, como em Los Angeles, mas sim em casinos e resorts que, ao longo desta gigantesca avenida, mimicam os mais emblemáticos locais do globo: os canais de Veneza, Nova Iorque e a Estátua da Liberdade, o Arco do Triunfo e a Torre Eiffel, o Coliseu de Roma e a Fonte de Trevi.
Caricato? Sim. Curioso? Também. O que sei sobre Las Vegas? A famosa trilogia de Soderbergh, “Fear and Loathing in Las Vegas”, “Panic! at the Disco” e pouco mais. Mas é assim que prefiro um lugar: com mais a desbravar e a descobrir. E o que acontece em Vegas, fica em Vegas… Portanto, o melhor é ficarmos por aqui.



Texto João Tamura • Fotografia João Tamura & D.R.