Um novo material que utiliza uma combinação de tecidos flexíveis, resistentes ao calor e à corrente eléctrica, poderá ser utilizado para fabricar Equipamento de Protecção Individual (EPI) capaz de inactivar vírus apenas com o calor – e sem queimar o utilizador.
O novo tecido compósito utiliza o efeito Joule (definido como a geração de calor a partir de uma corrente eléctrica num condutor) para descontaminar superfícies, neutralizando pelo menos 99,9% dos vírus numa superfície.
A máscara N95 pode ser reutilizada 25 vezes, desde que seja correctamente descontaminada. Itens como luvas feitas com o novo material podem ser usados centenas de vezes com segurança, evitando o desperdício de até 9kg que seria gerado pelo uso de luvas descartáveis de nitrilo, comuns em hospitais. De acordo com os cientistas responsáveis pelo desenvolvimento do material, o crescimento exponencial do descarte de EPI e os problemas com a rede de abastecimento durante a pandemia mostraram a necessidade de criar equipamentos reutilizáveis.
A tecnologia permite usar luvas ou outros equipamentos feitos com ele e nem sequer tirá-los para a descontaminação – o processo ocorre em segundos, permitindo que se volte logo ao trabalho. O tecido utiliza uma corrente eléctrica para aquecer a sua parte externa a temperaturas superiores a 100ºC, deixando a parte interna relativamente fria, a não mais de 36ºC, a temperatura do corpo humano.
O equipamento, é claro, precisa de ficar quente o suficiente para inactivar vírus como o SARS-CoV-2 de forma eficiente, mas não tão quente a ponto de queimar o usuário ou causar desconforto. Foi nisso que os engenheiros da Universidade de Rice, nos Estados Unidos, se concentraram, criando mecanismos de segurança para garantir a segurança do material.
O aquecimento a seco, em comparação com outros métodos de descontaminação, tende a ser mais fiável e menos susceptível de danificar o equipamento de protecção. No entanto, criar peças de vestuário capazes de aquecer à temperatura correcta para o trabalho exigiu muito trabalho.
Os testes laboratoriais centraram-se na inactivação térmica dos vírus, partindo da pandemia para compreender o mecanismo de “desligamento” dos agentes patogénicos e como este processo se acelera a temperaturas mais elevadas.
Segundo o portal Canal Tech, no início dos estudos, também foram feitas perguntas sobre o design do material, testando a sua capacidade de autodescontaminação – para quem assistiu aos experimentos no laboratório de virologia utilizado, como a biocientista Yizhi Jane Tao, a forma como os dados se aproximaram das previsões foi “impressionante”.
Em laboratório, as luvas foram testadas apenas contra o vírus que causa o covid-19, e o material saiu-se bem nos testes de infecção, prometendo eficiência protectora semelhante contra outros patógenos virais. Segundo os cientistas, considerando a diferença de temperatura entre o exterior e o interior, as luvas são surpreendentemente leves e flexíveis.
O princípio é semelhante ao dos fatos espaciais, que têm várias camadas – a mais interior é a que tem mais funcionalidade, sendo coberta por camadas com isolamento térmico completadas por uma camada protectora no exterior. O plano é utilizar tecidos inteligentes, como o produzido pela investigação, em integração com fatos espaciais e outros EPI, reduzindo o seu peso e acrescentando funcionalidades.