Não se pode falar da arte em moçambique sem se mencionar o nome de Reinata Sadimba, a escultora e ceramista conhecida mundialmente pelas obras de arte com formas antropomórficas (com traços humanos), umas agradavelmente estranhas, outras bastante excêntricas.
Nasceu em 1945, numa família de camponeses em Cabo Delgado, distrito de Nemu, região da etnia maconde, como mostram as tatuagens verdes no seu rosto, feitas à faca, uma marca de identidade da sua cultura.
Aprendeu a trabalhar o barro mesmo no seio familiar. Inicialmente, fabricava objectos de uso doméstico, sem mesmo pensar na possibilidade de os comercializar. Despertou para a possibilidade de explorar comercialmente os seus produtos graças a um grupo de turistas que naquela altura visitou a aldeia.
“Os turistas viram-me trabalhar o barro, apreciaram os objectos que eu fabricava, que no caso eram panelas, e pagaram por cada uma delas um valor que correspondia a cerca de mil meticais. Foi aí que percebi que podia ganhar dinheiro por isso”, disse a “mamã” Reinata, como é carinhosamente tratada, com um tom de orgulho notável, ao pronunciar as palavras em xi-makonde, sua língua natal, da qual não se despega.
É considerada uma das artistas femininas mais importantes do continente africano. Já expôs as suas obras em vários países.
Depois de descobrir a possibilidade de comercializar os produtos que fabricava, e tendo perdido o pai muito cedo, Reinata usou a sua aptidão para comparticipar as despesas familiares. Além de objectos utilitários, virou-se para a arte, vendendo as peças em Mueda, uma das mais importantes sedes de distrito, no interior da província, onde chegou a residir.
A guerra e a evolução na Tanzânia
Com a guerra civil em Moçambique, de 1976 a 1992, Reinata migrou para a vizinha Tanzânia à procura de abrigo. Lá desenvolveu novas técnicas de modelagem e cozimento para melhor trabalhar o barro.
Regressou ao País pela mão do Governo moçambicano, para que a arte moçambicana fosse valorizada, juntamente com outros artistas proeminentes da altura, entre os quais o renomado pintor Malangatana, já falecido. Reinata passou a residir na cidade de Maputo, com atelier sediado num espaço do Museu de História Natural, onde funciona até aos dias que correm. Continuou a desenvolver os seus trabalhos e a ser cada vez mais valorizada em Moçambique, por toda a África e além.
Actualmente é considerada uma das artistas femininas mais importantes do continente africano. Já expôs as suas obras em vários países como Bélgica, Suíça, Portugal, Dinamarca, Itália, África do Sul e Tanzânia. Tem trabalhos em colecções de várias instituições nacionais e internacionais.
Nova exposição: “Quem Somos”
Reinata revela que vive da arte, embora já não seja tão rentável como antes. Recorda-se de dias em que “fazia muito dinheiro com as obras”. A baixa rentabilidade da actividade artística não é, entretanto, um crivo para a sua criatividade e nunca a fez pensar em recuar ou aposentar-se.
“Vou dedicar-me à arte todos os dias da minha vida, não penso nunca em parar, vou trabalhar nisto até ao dia em que morrer. O barro é como se fosse meu marido, vou dedicar-me sempre a isto”, expressou mamã Reinata, mostrando com orgulho as mãos “pintadas” de barro.
Passadas décadas de actividade artística e aos 78 anos de idade, Reinata Sadimba continua a trabalhar activamente com o barro. Recentemente, a 9 de Agosto, inaugurou a exposição “Quem Somos”, na Fundação Fernando Leite Couto. Trata-se de uma colectânea de 40 obras nas quais a ceramista reflecte sobre a essência da existência humana (quem somos, de onde viemos e para onde vamos) e narra, através das suas esculturas em barro e grafite, o quotidiano das sociedades moçambicanas.

Texto Filomena Bande • Fotografia Mariano Silva & D.R.