Um estudo do Instituto Nacional de Estatística (INE) refere que mais da metade das raparigas da província de Cabo Delgado entre os 15 e os 19 anos já estiveram grávidas. A direcção de Educação na província admite consequências no ensino, informou esta segunda-feira, 18 de Setembro, a agência Lusa.
“É bastante preocupante. Esse é um outro dado do enorme desafio que a província tem. Infelizmente não tem bons indicadores”, admitiu à Lusa o director provincial de Educação em Cabo Delgado, Ivaldo Quincardete.
Segundo a agência, o número médio de filhos de cada mulher moçambicana caiu para 4,9, o mais baixo em 25 anos, segundo o Inquérito Demográfico e de Saúde (IDS), apresentado em 24 de Agosto pelo INE. Acrescenta igualmente que 36% das adolescentes entre os 15 e os 19 anos já estiveram grávidas e 7,5% estão actualmente grávidas, contra os 29,3% e 8,2%, respectivamente, que constavam no IDS realizado em 2011. Contudo, 55,3% das adolescentes da província de Cabo Delgado de 15 a 19 anos já estiveram grávidas, o número mais alto do País.
“O que está a acontecer é que, infelizmente, temos algumas escolas em que as meninas ficam grávidas – porque agora permitimos que as meninas grávidas estudem -, estando elas a estudar. Mas a maior parte das crianças está fora do recinto escolar com uma menor, uma babá, a tomar conta do bebé, de 7 ou 8 anos, pelo que algumas das vezes percebemos que não estão a estudar”, reconheceu Ivaldo Quincardete.
“Resolvemos um problema, mas criou-se outro. Temos de trabalhar no sentido de também sensibilizar essas mães, de forma que no período contrário, se ela estuda de tarde, então deixa a babá a tomar conta da filha, para estudar de manhã, ou vice-versa”, acrescentou.
Numa província que há sete anos vive com a consequência dos ataques terroristas, que provocaram cerca de quatro mil mortos e mais de um milhão de deslocados, além de 200 escolas que permanecem destruídas, a taxa de analfabetismo é outra das preocupações do sector da Educação.
“É muito elevada. Infelizmente, é com muita mágoa que digo isto, temos um elevado número de pessoas que não sabe ler nem escrever. São principalmente do género feminino. Quase 70% das mulheres não sabem ler e escrever e esse é nosso desafio. Temos estado a trabalhar bastante para reduzirmos essa taxa, mas devido à actual conjuntura e à movimentação da população, por vezes não é fácil que esta fique concentrada para a podermos alfabetizar”, reconheceu Ivaldo Quincardete.
Actualmente, a província de Cabo Delgado conta com 824 escolas, 190 ainda fechadas. No ano passado contou com 596 mil alunos, da primeira à 12.ª classe, e no presente ano lectivo de 2023 com 671 mil alunos, prevendo em 2024 um total de 730 mil alunos.
Segundo o responsável, “as necessidades são muito grandes e Cabo Delgado, além da situação que vive [do terrorismo], já era uma província com défice de salas de aula”, revelando ainda que, no levantamento feito em 2020, apontava-se para a necessidade de mais 2222 salas de aula em toda a província “para tirar as crianças que estudassem ao ar livre por baixo das árvores e de cerca de 37 mil carteiras duplas para se tirar as crianças sentadas no chão”.
Cabo Delgado contava em 2021 com 96 mil alunos deslocados, número que caiu em 2023 para 40 mil.