O que são Sistemas Alimentares Sustentáveis?

Fonte: Adaptado da FAO (2014).
A garantia de segurança alimentar e nutricional é um dos maiores desafios globais que a sociedade tem enfrentado nos últimos anos. Infelizmente, o cenário referente ao acesso a alimentos em quantidade e qualidade é diferente nos países desenvolvidos e nos países em desenvolvimento. Para além disso, a produção industrial de alimentos contribui com um terço das emissões de gases de efeito estufa em todo o mundo, e o uso excessivo de água, fertilizantes e pesticidas tem um grande impacto ecológico. Sendo assim, com vista a contornar essas dificuldades, as organizações alimentares têm apostado na sustentabilidade, desenvolvendo e implementando ideias, estratégias e atitudes ecologicamente correctas, economicamente viáveis, socialmente justas e culturalmente diversas.
A fusão dos termos “sistemas alimentares” e “sustentabilidade” (definida no parágrafo acima) originou o termo “sistemas alimentares sustentáveis”, que designa uma teia complexa de actividades desde a produção até ao descarte de resíduos, que impactam positivamente as dimensões económica, social e ambiental das gerações presentes sem, contudo, comprometer a qualidade de vida das gerações futuras.
Na dimensão económica, para que um sistema alimentar seja considerado sustentável, para além da acessibilidade física e comercial das actividades, o mesmo deve agregar valor a todas as partes interessadas: renda para os trabalhadores, taxas para o Governo, lucros para as empresas e melhoria da cadeia de suprimentos de alimentos para os consumidores. Em relação à dimensão social, deve haver equidade na distribuição do valor económico agregado tendo em consideração os grupos vulneráveis, promovendo-se deste modo a saúde pública, tradições culturais e melhores condições de trabalho. No que tange à dimensão ambiental, o sistema alimentar sustentável deve assegurar que as suas actividades não impactem negativamente a biodiversidade, recursos naturais e clima; e que haja melhor reaproveitamento dos desperdícios alimentares.
Sistemas alimentares sustentáveis vs Economia circular

Fonte: Freepik
Os sistemas alimentares sustentáveis e economia circular são conceitos intimamente interligados. A economia circular propõe que os recursos sejam utilizados de forma eficiente e que os materiais sejam projectados para serem reutilizados, reparados e/ou reciclados, minimizando desta forma o desperdício e o consumo excessivo. Os sistemas alimentares sustentáveis podem beneficiar-se disso adoptando práticas, ao longo da cadeia de suprimentos, que minimizem o desperdício de alimentos e recursos.
Qual a importância da implementação de sistemas alimentares sustentáveis?
A implementação de sistemas alimentares sustentáveis é crucial por vários motivos sociais, ambientais, económicos e de saúde. Por exemplo:
- Aumenta a segurança alimentar;
- Reduz o impacto ambiental causado pelo processamento de alimentos;
- Promove a conservação da biodiversidade;
- Promove dietas saudáveis, melhorando a saúde pública;
- Estimula a economia local, uma vez que são gerados postos de trabalho;
- Promove justiça social e preserva culturas alimentares locais;
- Promove educação e consciencialização sobre os alimentos, saúde e meio ambiente.
Desafios dos sistemas alimentares
A reconstrução da economia pós crise pandémica oferece uma oportunidade única de transformar os sistemas alimentares e torná-los mais resistentes. Para tal, as agências das Nações Unidas, como a Organização para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e o Programa Mundial de Alimentos (PMA), colectivamente, sugerem quatro grandes mudanças para garantir a sustentabilidade dos sistemas alimentares:
- Cadeia de suprimentos de alimentos resilientes – melhora a distribuição dos alimentos localmente, diminuindo o risco de insegurança alimentar, desnutrição e aumento de preços, para além de gerar postos de trabalho;
- Dietas saudáveis – reduzir o consumo de alimentos de origem animal e altamente processados nos países desenvolvidos e melhorar o acesso a alimentos nutritivos nos países em desenvolvimento, promovendo a saúde pública por via da redução das assistências médicas;
- Redução de desperdícios alimentares – reduzir os desperdícios alimentares em toda a cadeia de suprimentos, nomeadamente a nível industrial, onde podem, sempre que possível, ser utilizados como matéria-prima (ex.: casca de ovos) para outros produtos alimentares (ex.: suplemento para papas infantis) e/ou não alimentares (ex.: suplemento para fertilizantes orgânicos);
- Actividade agro-pecuária sustentável e regenerativa – implementar o sistema de rotação de culturas e reduzir a actividade pecuária intensiva, promovendo a saúde dos solos, ar e água e ajudando a restaurar a biodiversidade.
Adicionalmente, os Governos, instituições e empresas podem adoptar as seguintes acções para implementar um sistema alimentar sustentável:
- Estabelecer políticas, regulamentos e normas que promovam sustentabilidade desde a produção até à distribuição de alimentos (ex.: normas de rotulagem de alimentos que informem os consumidores sobre a sustentabilidade dos produtos, como pegada de carbono);
- Fornecer incentivos financeiros e apoio técnico aos agricultores e processadores que adoptem práticas sustentáveis, como agricultura orgânica e uso de energias limpas nas fábricas alimentares;
- Estabelecer metas de redução de desperdícios alimentares e promover a doação de alimentos não vendidos a instituições de caridade;
- Desenvolver campanhas de consciencialização e educação alimentar que incentivem dietas baseadas em alimentos saudáveis, locais e sazonais, e subsidiar o acesso a alimentos saudáveis para grupos de baixa renda;
- Investir na pesquisa e desenvolvimento de tecnologias que reduzam o desperdício alimentar, como embalagens inteligentes e sistema de rastreabilidade;
- Implementar políticas de protecção e uso responsável dos recursos naturais;
- Promover práticas comerciais mais justas e cooperação entre países para enfrentar os desafios de sistemas alimentares sustentáveis.
Em suma, os sistemas alimentares sustentáveis não só ajudam a resolver desafios globais presentes como assumem um papel fundamental na construção de um futuro mais resiliente, saudável e equitativo para a sociedade. Estas mudanças não são apenas uma questão de escolha, mas de necessidade urgente: se não agirmos hoje, amanhã pode ser demasiado tarde.