De acordo com o último estudo da IRENA – Agência Internacional de Energia Renovável – publicado em Junho de 2023, para que o planeta não exceda a temperatura média global de 1,5ºC comparando com a era pré-industrial, o mundo deve adicionar à rede cerca de 1000 GW de capacidade de energia renovável, por ano, até 2030. Ora, para se ter uma ideia da ordem de grandeza, 1000 GW é a potência que os Estados Unidos da Améria precisam todos os anos para satisfazer as suas necessidades de consumo (1). Como se prevê, não será uma tarefa fácil…
No entanto, a revolução energética veio para ficar e as empresas a nível mundial começam a consciencializar-se que algo tem de mudar no seu dia-a-dia. Não só por causa de questões ambientais (ex.: redução da pegada carbónica), como também pelas questões sociais e económicas, tendo em conta que o aumento do custo da energia nos últimos tempos se tem reflectido de uma forma dramática no consumidor final.
Razões para a inclusão de Energias Renováveis
Implementar numa empresa um plano de transição energética considerando o uso de energias renováveis, tais como a solar ou a eólica, não só é uma acção sensata. É, também, uma atitude altamente responsável, demonstrando o compromisso da empresa para com a sustentabilidade. A inclusão das renováveis permitirá às empresas diversificarem a sua matriz energética, reduzindo, assim, a sua dependência de uma única fonte, como por exemplo o carvão ou o gás natural, ambos exemplos de energias fósseis que serão descontinuadas a curto e a médio prazo, respectivamente.
Embora o investimento inicial na infra-estrutura possa exigir recursos financeiros, a geração de energia a partir de fontes renováveis pode resultar em redução de custos operacionais a longo prazo, pois permite às empresas beneficiarem de tarifas de energia mais estáveis, reduzir a dependência de combustíveis fósseis, sujeitos a flutuações de preço no mercado, e até vender a energia excedente à rede (algo que já tem enquadramento legal no âmbito da Lei da Electricidade n.º 12/2022, publicada em Julho do ano passado em Moçambique).
A transição para energias renováveis exige inovação e desenvolvimento de novas soluções tecnológicas. Ao incorporarem esse tipo de iniciativas no seu plano de negócios, as empresas podem impulsionar a inovação interna, diferenciar-se dos concorrentes e posicionarem-se como líderes no seu sector. Algumas empresas localizadas no MOZPARKS (Parque Industrial de Beluluane) já são exemplo disso. Tal permitirá às empresas abrirem portas a novos mercados e a novas oportunidades de negócio, assim como tornarem-se apelativas para potenciais investidores que, cada vez mais, optam por colocar o dinheiro em empresas ambientalmente responsáveis, satisfazendo os critérios ESG (Environmental, Social e Governance), que são uma medida para avaliar o desempenho das empresas nessas áreas.
A revolução energética veio para ficar e as empresas começam a consciencializar-se que algo tem de mudar…
Por último, mas não menos importante, os governos de todo o mundo, incluindo o de Moçambique, encontram-se a criar regulamentos e normas cada vez mais rígidas relacionadas com as emissões de carbono e com o uso de energias renováveis nos países. Neste âmbito, o papel da Autoridade Reguladora de Energia (ARENE) e do Ministério dos Recursos Minerais e Energia (MIREME) tem sido bastante importante, tendo sido publicados em 2022 vários diplomas que visam a regularização deste sector. Neste sentido, cabe às empresas estarem atentas e perceberem como podem tirar proveito destes novos regulamentos, assim como garantir que estão em conformidade com os mesmos.
Avaliar os Riscos e as Oportunidades
Ao considerar a transição para as energias renováveis no seu negócio, é importante realizar uma análise cuidadosa da viabilidade económica do projecto, avaliando os riscos e oportunidades específicos para o seu sector de actividade, de modo que, posteriormente, possam identificar as melhores estratégias de implementação das acções. Nessa avaliação, é também importante considerar os riscos associados, tais como os custos elevados na fase de construção da infra-estrutura, a intermitência das energias solar e eólica e até os impactos ambientais negativos causados não só na fase de construção, como também aquando do fim de vida da infra-estrutura (ex.: parque fotovoltaico). Para tal, deve ser elaborado um plano onde esteja previsto um destino adequado para os resíduos gerados, privilegiando soluções de economia circular.
Para além das razões já apresentadas, a transição para as energias renováveis permite ainda criar empregos “verdes”, impulsionado a crescimento económico do país. Serão necessários quadros técnicos para a instalação e manutenção de painéis solares e fotovoltaicos, técnicos de turbinas eólicas, engenheiros de energias renováveis, especialistas em eficiência energética, entre muitos outros. Num país em que sol e vento não faltam, Moçambique e as suas empresas só têm a ganhar ao fazerem esta transição!
(1) Fonte: “Como evitar um desastre climático”, Bill Gates (Fevereiro, 2021)
