Numa altura em que o mundo enfrenta problemas cada vez mais severos decorrentes das mudanças climáticas, verifica-se uma cada vez maior preocupação em dar resposta a esses fenómenos através da mitigação dos efeitos negativos da acção do homem sobre o meio ambiente. Como se manifestam e porque devem ser encorajadas?
É irrefutável que a tónica dos debates no mundo está, hoje, assente em questões ambientais. Apesar de existirem outros problemas e desafios que preocupam os líderes mundiais, o foco está, agora, mais do que nunca, virado para as mudanças climáticas e presente na agenda de especialistas da área, Governos e organismos internacionais.
Entre as várias iniciativas desenvolvidas neste âmbito, a maior parte provém de jovens, através de startups ou organizações não-governamentais (ONG) com interesse em assuntos ambientais. Uma dessas iniciativas, das mais inovadoras do mercado moçambicano, é a AJT do projecto Makobo – uma plataforma moçambicana com a missão de prover e fomentar serviços que criem bem-estar social de grupos menos favorecidos, através de acções de responsabilização individual e corporativa.
E em que consiste a AJT? Exercendo grande impacto na redução dos resíduos plásticos em lugares públicos ao transformá-los em blocos interlock.
De acordo com informações no website da plataforma Makobo, a maior parte desses resíduos é recolhida nas praias e/ou retiradas das lixeiras na cidade de Pemba, capital provincial de Cabo Delgado, no Norte do País. O plástico é um material difícil de compactar e gera um grande volume de resíduos.
A produção de fogões ecológicos provou já ter um impacto significativo ao nível da sustentabilidade e é uma aposta para um número crescente de pequenas empresas
Por isso ocupa um grande espaço no meio ambiente e acaba por dificultar a decomposição de outros materiais orgânicos, razão pela qual a iniciativa Makobo é tida como transformadora.
Outra das várias inovações de destaque no País é a famosa “Casa de Vidro”, situada nas imediações do Macaneta Beach Resort, no distrito de Marracuene, província de Maputo.
A obra foi feita por iniciativa do ambientalista Carlos Serra, com o apoio da Noruega, e consiste no uso de garrafas, plásticos, redes, etc. (“lixo” também recolhido nas praias), dispensando o tradicional betão e laje, mas oferecendo, mesmo assim, 100% de segurança. Há que destacar ainda o primeiro cartão de débito biodegradável de Moçambique.Trata-se de um produto que resulta da parceria entre o Banco Comercial e de Investimentos (BCI) e a Fundação para a Conservação da Biodiversidade (BIOFUND).
A inovação neste produto reside no facto de ser de origem biológica, isto é, desenvolvido com material PLA (ácido poliláctico), um substituto do plástico derivado do petróleo, obtido a partir de fontes renováveis (o milho), podendo ser reciclado e incinerado ou colocado em aterros, pois não é tóxico. Esta iniciativa permite não só angariar fundos para apoiar projectos de conservação da biodiversidade, mas introduz um modelo sustentável de cartões que pode, no curto prazo, ser replicado por outros bancos. Outra iniciativa que merece destaque é da Ecolola Green Glass, que fabrica copos com base em garrafas de vidro descartadas e recolhidas pelos catadores de lixo, em Bilene, província de Gaza.
Esta ideia constitui uma importante fonte de rendimento para um número significativo de famílias, além de ajudar a remover os resíduos de vidro do meio ambiente.
“Acredito que quanto mais apoio for canalisado, em termos de políticas e economicamente, para o empreendedorismo, inovação, tecnologia… será melhor”, diz Carlos Serra
Boas ideias, mas com fraco apoio e insustentáveis
Se as iniciativas inovadoras e sustentáveis no quadro da preservação do meio ambiente são uma realidade, falta garantir a sua continuidade, o que não é possível sem o apoio pelo qual os seus investidores clamam.
Carlos Serra, docente de advocacia, investigador e ávido activista social e ambiental, refere esta questão, apesar de reconhecer que a sociedade global está atenta ao desenvolvimento da economia circular e que cresce a inspiração em reduzir a pegada de carbono.
“Temos estado a acompanhar o que se passa pelo mundo fora. Estamos a dar os primeiros passos, mas ainda não podemos falar seguramente da sustentabilidade, incluindo a económica, que é um elemento vital. Digo isto porque estou a liderar várias iniciativas e o nosso dia-a-dia é sobre como conseguir apoio”, começa por explicar o ambientalista.
“Acredito que quanto mais apoio for canalisado, em termos de políticas e economicamente, para o empreendedorismo, inovação, tecnologia… será melhor.

Hoje sentimos a necessidade de suporte não só financeiro, porque todos os tipos de apoio são essenciais, mas temos de nos focar nas prioridades. Se estas forem mesmo a protecção da biodiversidade e a resiliência às mudanças climáticas, então temos de incentivar toda a investigação e todos os investimentos que estejam a ser feitos em soluções”.
Mudanças de política também são precisas
Não há dúvidas de que tudo o que é considerado lixo é susceptível de valorização. No entanto, há todo um conjunto de factores a que é preciso responder para que se chegue lá. “Há medidas que fariam muita diferença ao nível político e administrativo e que ajudariam bastante a catapultar este tipo de iniciativas. Mas, seguramente, estamos ainda muito longe delas”, aponta Carlos Serra, esclarecendo que “noutros países, certos tipos de embalagens têm os dias contados, mas não por proibição de as utilizar. Determinou-se que, a partir de um determinado ano, embalagens de uso único serão as do tipo A, B ou C que substituirão as actuais.
Isto cria logo um nicho de oportunidades. Então, temos de procurar soluções e pensar em materiais que não sejam nocivos ao ambiente, que sejam reutilizáveis e utilizem material orgânico”, explicou Carlos Serra. Recorrendo ao exemplo da iniciativa da plataforma Makobo, o ambientalista acrescentou que “quando encontramos solução para um produto que pode ser colocado no mercado e que resolverá este problema, temos menos impacto na saúde pública e no ambiente.
A iniciativa Makobo também está associada a construções resilientes, logo, a partir deste exemplo, poderemos equacionar outros. É que este mesmo plástico, que hoje é um problema, pode ser uma solução para um conjunto de materiais que estão a encarecer no mercado”.
E insistiu: “é preciso algum apoio, algum investimento para fazer com que possamos ter construções mais resilientes, mais duráveis e fazer o uso de algo que está no ambiente, principalmente para os centros urbanos vulneráveis às mudanças climáticas onde já registamos uma subida dos preços dos materiais de construção”.

O papel das redes sociais
Carlos Serra explicou ainda que antes da existência das redes sociais, pouca gente acompanhava o seu trabalho ou fazia ideia do que fazia e defendia em termos de ideias. Mas com o Facebook conseguiu logo estabelecer uma rede de contactos que não tinha antes, identificou uma série de pessoas com habilitações que passaram a fazer parte deste movimento e a fazer melhor noutros lugares. “Quando dei conta, já fazia parte de uma família global de pessoas que trabalham na prevenção e combate à poluição de resíduos, em particular plásticos”, esclareceu Carlos Serra.
Isto significa que hoje temos acesso a um mundo, não somente de comunicação, mas também de informação, que nos permite saber o que está a acontecer à nossa volta.
A concluir, o ambientalista apela à necessidade de se utilizar o “enorme” talento que a juventude tem a favor do meio ambiente neste momento único na história da humanidade. “Temos de nos posicionar e começar pelas coisas mais simples, mesmo à nossa vista, fazendo uso do contexto académico para catapultar estas iniciativas”, observou.

Texto Ana Mangana e Nário Sixpene • Fotografia Jay Garrido & D.R.