A transição digital está em curso em todos os aspectos das nossas vidas. Afecta-nos dos pontos de vista profissional, pessoal, cultural e social. Somos parte integrante e, muitas vezes, os agentes catalisadores deste processo de transformação.
Em poucas palavras, este processo consiste na adopção de tecnologias digitais no nosso dia-a-dia, na cultura e nas operações das organizações. Envolve a substituição de processos e sistemas analógicos por soluções digitais, visando melhorar a eficiência, a produtividade, a inovação e a experiência do beneficiário.
Da transição digital faz parte um conjunto de tecnologias e práticas, como a realidade aumentada, a Inteligência Artificial, a virtualização, a Internet das Coisas (IoT), a computação em nuvem, a automação de processos, o armazenamento e análise de dados, entre outras. Estas tecnologias digitais têm o potencial de transformar a forma como as empresas operam ou interagem com os seus clientes e criam valor.
Neste processo de transformação, somos encantados pelas vantagens. Pelo potencial de oportunidades e de obtenção de resultados inovadores que representa. Pela possibilidade de sermos mais eficientes. Pelas novas experiências a que somos expostos e/ou que proporcionamos. A transição digital, de facto, representa tudo isso… e muito mais.
A adopção de novas ou diferentes tecnologias na nossa vida influencia a forma como trabalhamos, como nos relacionamos com as nossas partes interessadas e como as decisões são tomadas.
Neste contexto, a nível das Organizações, a mesma deve acontecer como parte de um processo de gestão de mudança, de uma estratégia que esteja alinhada com a estratégia e objectivos de negócio. Devem ser considerados, de forma estruturada, todos os aspectos que afectam a transformação digital.
As pessoas, as organizações e os países devem compreender bem o processo da transição digital. Devem entender o impacto das suas vantagens e dos riscos. Devem manter-se informadas para que compreendam e assumam o controlo da sua transição.
Não nos devemos apenas concentrar nas vantagens da transição digital. Existem riscos que podemos correr, com potencial impacto negativo e significativo, caso não adoptemos as medidas e acções correctas no momento certo
Um dos aspectos intimamente relacionados com a transformação digital são os dados que produzimos como resultado da nossa actividade. Cada vez e mais rapidamente, produzimos uma grande quantidade de dados.
Esses dados serão transformados em informação, que deverá apoiar os processos de tomada de decisão. A informação produzida terá um valor inestimável, sendo fácil concluirmos que este é um dos resultados da transformação digital: contribuição para a criação de valor através do conhecimento organizacional.
Esta transição está em curso! De forma voluntária e planeada ou por força das circunstâncias, com os seus riscos identificados ou não.
Sucede que, quando a transição acontece de forma não planeada, ou incorrecta/insuficientemente planeada, não avaliamos os riscos do processo em que estamos envolvidos. Logo, não devemos apenas concentrar-nos nas vantagens da transição digital. Existem riscos que podemos correr, com potencial impacto negativo e significativo, caso não adoptemos as medidas e acções correctas no momento certo.
A muita e valiosa informação que produzimos deve ser protegida. Nesta transição, as pessoas, organizações e países ficarão associados e dependentes de processos que se encontram expostos, e eventualmente vulneráveis, à violação de dados, a ciberataques, às alterações climáticas, entre outras ameaças, que poderão deixar os sistemas indisponíveis. Referi atrás que associada à transição digital, encontra-se a criação de um grande volume de informação. Esta, em parte, será crítica, confidencial, estratégica e privada. Portanto, deve ser protegida e assegurada a sua privacidade, a sua confidencialidade, a sua disponibilidade e a sua integridade.
É importante investir em medidas de segurança adequadas. Apostar em redundâncias, assegurar cópias de segurança dos dados e da informação, investir em sistemas de recuperação, formar adequadamente os colaboradores, de forma que contribuam para a alta disponibilidade dos sistemas. A implementação de boas práticas de segurança da informação e cibersegurança tornam-se, cada vez mais, obrigatórias.
Outro aspecto que deve ser acautelado relaciona-se com as novas profissões associadas à transformação digital. O processo de transição requer muito conhecimento especializado em várias áreas que, até à data, poucas pessoas detinham. Os programas curriculares e as formações disponíveis devem ser adaptados às novas necessidades, produzindo potenciais profissionais que respondam à elevada e crescente solicitação do mercado. Por outro lado, é importante garantir programas de capacitação e reciclagem profissional para que as pessoas se adaptem às mudanças e se mantenham relevantes no mercado de trabalho.

Embora estejamos todos na mesma corrida, infelizmente não possuímos todos os mesmos meios. Para muitas nações, o acesso à educação, a uma sociedade segura, a uma alimentação saudável e a água potável, assim como a erradicação da pobreza, são, ainda, um desafio. Neste contexto, a ausência de uma estratégia sólida de transição digital pode contribuir para que se saliente a desigualdade digital.
Determinadas pessoas ou sectores de actividade poderão ficar à margem deste processo e, consequentemente, em desvantagem. Portanto, é importante garantir que todos tenham acesso e oportunidade de se beneficiarem da transformação digital. Isso pode envolver acções para reduzir a exclusão digital, como programas de inclusão e acesso a tecnologia em comunidades menos favorecidas. É fundamental garantir que a transformação digital seja inclusiva, fomentando oportunidades de acesso à tecnologia e a programas de alfabetização e inclusão digital, para garantir que todos possam beneficiar deste processo.
Adicionalmente, e não menos importante, devemos ter atenção à utilização e implementação não regulada da Inteligência Artificial. A nossa evolução remeteu para segundo plano a necessidade do trabalho muscular, tendo as pessoas sido, ao longo do tempo, em larga escala, substituídas por máquinas que fazem o trabalho pesado e mecanizado.
Vários estudos, com os quais concordo, defendem que o próximo desafio é evitar ou limitar que as máquinas e os sistemas substituam a nossa capacidade de pensar e tomar decisões, tornando-nos cada vez menos necessários.