O analista da consultora Rystad Energy, Pranav Joshi, afirmou nesta segunda-feira (10) que a petrolífera TotalEnergies só deverá regressar a Moçambique em 2024, atrasando o início da produção de Gás Natural Liquefeito (GNL) para 2028.
De acordo com o analista, a TotalEnergies deverá enfrentar um aumento dos custos no regresso a Cabo Delgado, devido à necessidade de renegociar os contratos e por causa da significativa subida da inflação no mundo, principalmente em Moçambique.
“As coisas podem complicar-se já que os contratos podem precisar de ser renegociados e os novos acordos podem incluir o impacto da inflação, o que poderá levar ao atraso do levantamento da ‘força maior’. Assim, estimamos que o projecto só comece a sua produção em 2028”, disse Pranav Joshi, em entrevista à Lusa.
“A TotalEnergies parece estar a trabalhar nos bastidores para garantir um levantamento suave da ‘força maior’. A petrolífera estava a apontar para o final do ano, tendo publicado recentemente um relatório assinado pelo perito em direitos humanos, Jean-Christophe Rufin, que apresentava muitas recomendações, incluindo a constituição de um orçamento socioeconómico multianual de 200 milhões de dólares”, frisou o analista da Rystad Energy.
No entanto, no que diz respeito a um possível aumento de 25% nos custos para a operação da TotalEnergies em Moçambique, o responsável pelo Departamento de Energia na Rystad Energy, Audun Martinsen, vincou que esta subida nos preços é aplicável não só no País, como também no resto do continente.
“Globalmente, os custos do GNL aumentaram 25%. No entanto, baseado no âmbito e no modelo de execução, o valor varia de projecto para projecto, entre 15% a 30%. Se a TotalEnergies não mudou o conceito, estarão expostos ao mesmo nível de aumento dos custos da inflação, tal como os outros”, explicou Audun Martinsen.
Actualmente, Moçambique tem três projectos de desenvolvimento aprovados para a exploração das reservas de GNL da bacia do Rovuma, classificadas entre as maiores do mundo, ao largo da costa de Cabo Delgado.
Dois desses projectos têm maior dimensão e prevêem canalizar o gás directamente do fundo do mar para terra, arrefecendo-o numa fábrica para o exportar por via marítima em estado líquido.
Um é liderado pela TotalEnergies (consórcio da Área 1) e as obras avançaram até à suspensão por tempo indeterminado, após um ataque armado a Palma, em Março de 2021, altura em que a energética francesa declarou que só retomaria os trabalhos quando a zona fosse segura.
O outro é o investimento ainda sem anúncio à vista liderado pela ExxonMobil e Eni (consórcio da Área 4).
Um terceiro projecto concluído e de menor dimensão pertence também ao consórcio da Área 4 e consiste numa plataforma flutuante de captação e processamento de gás para exportação, directamente no mar, que arrancou em Novembro de 2022.
A província de Cabo Delgado tem vindo a ser afectada por um conflito desde 2017 que aterroriza as populações. Grupos de rebeldes armados têm pilhado e massacrado aldeias e vilas um pouco por toda a província e uma variedade de ataques foi reivindicada pelo ‘braço’ do autoproclamado Estado Islâmico naquela região. O conflito já provocou mais de 4000 mortes (dados do The Armed Conflict Location & Event Data Project) e pelo menos um milhão de deslocados, de acordo com um balanço feito pelas autoridades moçambicanas.