“Como é que as PME podem ter acesso a mais oportunidades e fazer parte da cadeia de fornecedores das grandes empresas?” Será a questão de muitos milhões de dólares e de milhares de empresários moçambicanos que puderam ouvir algumas respostas de quem sabe no Business Pitch que decorreu em Maputo, em Abril.
Dezenas de pequenas empresas das mais diversas áreas de actividade – tecnológicas, do comércio e de serviços –, criadas por jovens empreendedores, aderiram, em meados do passado mês de Abril, a um convite para o chamado business pitch, na cidade de Maputo.
Mais do que contarem a história que norteou o seu surgimento, as motivações para terem abraçado a actividade empresarial e as ambições para o futuro, os novos empreendedores tinham, fundamentalmente, a tarefa de ouvir dos empresários mais experientes (dirigentes e donos de algumas das grandes empresas) os factores de sucesso e, sobretudo, a fórmula para atingir o topo através das ligações com as grandes empresas.
Num país ainda sem uma lei de Conteúdo Local, o business pitch, promovido pela Believer Team Leader – uma empresa moçambicana que apoia o empreendedorismo, servindo como elo entre as PME e as grandes empresas para promover o Conteúdo Local – foi a ocasião para mostrar que é possível avançar sem esperar pela respectiva lei. A primeira lição veio do empresário Salimo Abdula, PCA da Intelec Holdings e ex-presidente da Confederação Empresarial da CPLP. Mas foi mais focada na responsabilidade a ser assumida pelas multinacionais do que na que recai sobre as próprias PME. Abdula começou por reconhecer que o Conteúdo Local deve ser tomado como “uma ferramenta para alavancar as PME, uma vez que muitos jovens estão ávidos de transportar tecnologias novas para diferentes áreas do empreendedorismo no País e precisam de âncora para serem sustentáveis, e essa âncora é precisamente o Conteúdo Local”.
A par do esforço que os jovens empresários devem empreender para firmar negócios com os grandes empreendimentos, o empresário sugere que os megaprojectos têm o papel de “trazer valor acrescentado para o empoderamento da juventude”, nomeadamente através da divulgação de oportunidades, de uma melhor comunicação sobre as suas necessidades e de sessões de formação.
A par do esforço que os jovens empresários devem empreender, os megaprojectos têm o papel de “trazer valor acrescentado para o seu empoderamento”, defende Salimo Abdula
Referiu, igualmente, que a questão do Conteúdo Local e os megaprojectos (tanto públicos quanto privados) têm de contemplar uma forte componente de protecção no sentido de privilegiar a absorção do fornecimento de bens e serviços produzidos por jovens empreendedores.
Mas quem deve garantir que isso acontece? “É preciso que os pequenos empresários se empenhem, permanentemente, em conquistar o seu espaço junto das grandes empresas”, recomendou.
Uma chamada às boas práticas
Enquanto Salimo Abdula manteve o foco nos grandes projectos, Simone Santi, presidente da Associação dos Empresários Europeus em Moçambique (EUROCAM) – uma das entidades que intervêm no apoio às empresas de Cabo Delgado com vista à sua integração no negócio de exploração do gás na Bacia do Rovuma –, optou por dedicar a sua intervenção na postura que as empresas nacionais devem assumir para se projectarem. Simone Santi avisou os jovens empresários a saberem separar as necessidades pessoais das empresariais. Entende que antes de pensarem em melhorar o próprio padrão de vida devem investir no fortalecimento do seu empreendimento ao nível do capital humano, capital financeiro, parcerias, tecnologia, entre outros aspectos. Lembrou, no entanto, que a maior parte dos empreendimentos criados por jovens acabam por “cair” antes de se consolidarem porque estes não resistem à tentação de gastar em bens de consumo como carros de luxo.
A importância dos parques industriais
O segredo para estabelecer a tão ansiada ligação entre as PME e as multinacionais pode estar na instalação dos parques industriais, segundo Onório Manuel, director-geral da MozParks – entidade que investe, desenvolve e opera Zonas Económicas Sustentáveis, incluindo eco-parques industriais, agro-parques, Zonas Francas Industriais (ZFI) e Zonas Económicas Especiais (ZEE) e que tem como foco, entre outros aspectos, o estímulo ao empreendedorismo e a atracção de investimentos.
Para Onório Manuel, o projecto de construção de parques industriais, só por si, constitui uma das bases para que as PME possam encontrar infra-estruturas mínimas para poderem servir os grandes projectos. “A estratégia da abertura de parques industriais pela MozParks tem-se mostrado bastante eficaz para promover as actividades das PME”, revelou Onório Manuel, avançando o exemplo da província de Nampula, ao redor da mineradora australiana Kenmare (que explora as areias pesadas de Moma). Há dois anos, aquele empreendimento apresentava uma certa desaceleração no desenvolvimento de actividades empresariais, mas começou a mostrar ritmo favorável a partir do ano passado, quando foi criado o parque industrial de Topuito. “Com a criação desse parque, houve uma realocação de dez investidores que já estavam fora de Moçambique.
Ou seja, quando não houver parques industriais à volta dos megaprojectos, será certo que, mesmo que esses megaprojectos estejam em Moçambique, não contribuam para o desenvolvimento nacional porque a sua cadeia de valor está fora do País”, argumentou. E disse mais: “Uma vez criado esse ecossistema (parques industriais), mesmo que as PME nacionais não estejam capacitadas para trabalhar directamente com os megaprojectos, terão a oportunidade de ser subcontratadas por outras empresas directamente ligadas às multinacionais.
Assim, construímos essa cadeia de valor que é extremamente importante para criar oportunidades e tenha como consequência o desenvolvimento das próprias PME”, esclareceu.
Texto Filomena Bande • Fotografia Believer Team Leader