A consultora Eurasia Group reviu este sábado, 10 de Junho, a análise sobre a trajectória de longo prazo de Moçambique, melhorando-a de “negativa” para “neutra” devido ao conjunto de reformas que deverão entrar em vigor nos próximos meses.
“Um conjunto de medidas em curso vão, em breve, reformar o regime fiscal, o sector financeiro e os requisitos regulatórios para as empresas estrangeiras e locais em Moçambique, com o objectivo de encorajar o regresso dos operadores de gás e outros investimentos em grande escala no País”, escrevem os analistas da Eurasia, explicando a melhoria que fizeram à perspectiva de evolução de Moçambique.
“Antecipando o regresso da produção de gás, o Governo também está a investir nas infra-estrutura públicas na região de Cabo Delgado [Norte], o que vai aumentar a actividade económica e pode limitar a actividade dos insurgentes a longo prazo”, acrescenta-se na nota enviada aos clientes e a que a Lusa teve acesso.
Na actualização da perspectiva de evolução de longo prazo para “neutra”, apesar da perspectiva “negativa” a curto prazo, a Eurasia diz que “os esforços do Governo para fomentar o regresso dos operadores de petróleo e gás vão impulsionar a actividade económica e ajudar a manter a perspectiva de segurança na região”.
A perspectiva de evolução a curto prazo, no entanto, permanece negativa porque, argumenta a Eurasia, “apesar de haver menos insurgentes do que no período mais conturbado da insurgência, em 2021, muitos estão agora escondidos e lançam ataques provenientes das regiões vizinhas de Niassa e Nampula, o que significa que o risco de ataques violentos aos trabalhadores nas eleições [presidenciais de Outubro de 2024] e nas infra-estruturas vai aumentar, principalmente com o aproximar das eleições municipais”.
Em Moçambique, dos três projectos de exploração de gás na bacia do Rovuma, com os quais se espera impulsionar a economia do País, apenas o mais pequeno está activo, numa plataforma flutuante.
Em relação aos dois maiores, com um volume somado de investimento semelhante ao da Tanzânia, o projecto liderado pela TotalEnergies parou a meio da construção, em 2021, devido aos ataques armados em Cabo Delgado, enquanto o liderado pela Exxon Mobil está a ser redesenhado, ainda sem decisão final de investimento.
A região de Cabo Delgado enfrenta há quase seis anos uma insurgência armada com alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico. A situação levou a uma resposta militar desde Julho de 2021 com apoio do Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projectos de gás, mas surgiram novas vagas de ataques no sul da região e na vizinha província de Nampula. O conflito já fez um milhão de deslocados, de acordo com o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), e cerca de 4000 mortes, segundo o projecto de registo de conflitos ACLED.