A Precision Neuroscience, uma startup americana, está (tal como a Neuralink) a desenvolver implantes cerebrais para integrar sistemas que consigam ler, interpretar e comunicar instruções de e para o cérebro humano, directamente a partir de um computador.
O dispositivo criado por esta startup é cinco vezes mais fino que um fio de cabelo e é feito de um material idêntico ao celofane, que se adapta à superfície onde é colocado.
A primeira experiência em humanos realizou-se entre Abril e Maio e foi operada por cirurgiões da Universidade de West Virginia, nos Estados Unidos da América. Para já, o objectivo era perceber se o dispositivo conseguia ler, gravar e mapear os impulsos eléctricos no lobo temporal do cérebro, nos três pacientes envolvidos na experiência.
As experiências foram realizadas durante procedimentos cirúrgicos para remover tumores cerebrais e foram bem-sucedidas. Os dispositivos revelaram-se capazes de cumprir as tarefas, nos 15 minutos em que “estiveram em funções”.
O próximo passo é avançar para uma nova fase: ligar o dispositivo a um interface cérebro-computador (BCI, na sigla em inglês) e permitir uma comunicação directa entre os dois pontos, que torne possível transmitir e executar comandos, como mover um braço robótico, escrever ou mover um cursor.
“O dispositivo mais usado hoje para este fim é o Utah, feito de silicone e com o tamanho do rosto de Abraham Lincoln numa moeda de cêntimos de dólar”, descreve a revista americana Wired, que relata o primeiro teste da Precision em humanos. O Utah faz uso de 100 agulhas minúsculas, revestidas de metal condutor, e é posicionado no tecido cerebral para registar a actividade dos neurónios mais próximos.
A colocação deste implante requer uma craniotomia, um procedimento cirúrgico que exige perfurar o crânio para chegar ao cérebro. A recuperação demora um mês ou mais. Os resultados são promissores, mas a complexidade da cirurgia torna o processo pouco apelativo.
Para além disso, como penetra no tecido cerebral, o Utah pode causar inflamação e pequenas cicatrizes nas zonas circundantes, que perturbam a qualidade do sinal ao longo do tempo e com isso a eficácia da comunicação.
O implante da Precision integra 1024 eléctrodos, inseridos num pequeno dispositivo, que é colocado com um procedimento pouco invasivo: um pequeno corte na pele e no crânio, para poder fazer deslizar o implante para o córtex. A remoção também é mais fácil e como o dispositivo não deixa qualquer lesão na zona do implante, a mesma zona pode ser usada para instalar futuros implantes, o que não acontece com o Utah.
Com os seus mais de mil eléctrodos, espera-se que o implante da Precision consiga garantir informação mais precisa que a maior parte das soluções actuais, sobre a actividade cerebral que vai monitorizar.
Outra vantagem desta solução é o facto de ser modular, o que no futuro permitirá ligar diferentes implantes e cobrir uma zona mais extensa do cérebro, para abrir caminho a interacções mais complexas.
Nesta primeira fase, e como o nível de risco da experiência para os pacientes era reduzido, não foi necessária autorização prévia do organismo regulador da saúde. Para fazer testes como BCI, a Precision já vai precisar de uma autorização, que está a tentar obter.
Os próximos testes vão resolver as dúvidas que persistem, mas nos testes já realizados em pequenos porcos foi possível manter os dispositivos no lugar durante um mês, segundo revelou a empresa.
Numa primeira fase, a Precision quer usar a tecnologia para apoio ao diagnóstico, em alternativa aos eléctrodos que são hoje usados para ajudar a detectar tumores cerebrais e crises epilépticas, mas o objectivo final é desenvolver um interface que ajude pessoas incapacitadas a andar e comunicar.
No mesmo caminho estão várias outras startups, como a Synchron que criou um implante para que pessoas com limitações diversas escrevam mensagens ou usem a Internet apenas com comandos cerebrais. Também aqui não é necessário remover parte do crânio para colocar o implante. Neste caso, é inserido no corpo através da veia jugular, no pescoço, e ajustado até ficar adjacente ao córtex motor.
A Neuralink, que recebeu recentemente autorização para testar o seu BCI em humanos, recorre a implantes que são colocados no tecido cerebral, mas está a desenvolver um processo mais simples e menos invasivo para tal, que recorre a um pequeno robot. Ainda não se sabe se nos testes com humanos essa tecnologia vai ser já aplicada.