O Centro de Integridade Pública (CIP), organização não-governamental (ONG) moçambicana, considera que os anúncios da Tanzânia sobre investimentos em gás natural colocam pressão sobre Moçambique, que deve acelerar os seus projectos na bacia do Rovuma sem hipotecar princípios.
“Para maximizar os ganhos do gás, Moçambique deve avançar urgentemente” porque “a competição com a Tanzânia no sector reduz a janela de tempo” para o País “operacionalizar os seus projectos”, lê-se na análise do economista Rui Mate, publicada pelo CIP na quarta-feira, 7 de Junho.
O Governo tanzaniano anunciou que espera assinar este mês acordos com as petrolíferas Shell e Equinor para desenvolver um investimento de 42 mil milhões de dólares para exploração de gás natural ao largo da costa do país.
A decisão final de investimento está prevista para 2028, o que remete o início de exploração para depois de 2030.
Em Moçambique, dos três projectos de exploração de gás na bacia do Rovuma com os quais se espera impulsionar a economia, apenas o mais pequeno está activo, numa plataforma flutuante.
Em relação aos dois maiores, com um volume somado de investimento semelhante ao da Tanzânia, o projecto liderado pela TotalEnergies parou a meio da construção, em 2021, devido aos ataques armados em Cabo Delgado, enquanto o liderado pela Exxon está a ser redesenhado, ainda sem decisão final de investimento.
“O projecto de gás tanzaniano representa, sem sobras de dúvidas, concorrência para os projectos moçambicanos”, notou Rui Mate, realçando que este é o sector que “representa a luz no fundo do túnel para, a curto prazo, Moçambique vivenciar transformações estruturantes em termos de desenvolvimento económico e social”.
O economista considerou que “esta competitividade com a Tanzânia poderá estimular o espírito de sobrevivência e a necessidade de destaque de Moçambique no mercado de hidrocarbonetos, o que pode desempenhar um papel importante na operacionalização dos projectos”.
Em suma, “o Governo e as empresas sentir-se-ão pressionados pela possibilidade de perdas se não houver avanços em tempo útil”.
Face a esta pressão, Rui Mate identificou três riscos a mitigar. Considerou ser necessário aprimorar “aspectos cruciais de segurança e direitos humanos”, evitar “negociar benefícios para o Estado numa visão de curto prazo”, numa lógica de facilitismo e, por último, reforçar os “níveis de transparência”.
“É preciso que, nas negociações, se preste muita atenção no que se irá ceder e aceitar para que os projectos avancem”, concluiu.