A Eni, multinacional petrolífera italiana, está a investir na agricultura em vários países africanos e asiáticos, com o objectivo de produzir sozinha cerca de 1/5 da matéria-prima agrícola que necessitará para o seu negócio de biocombustíveis até 2025, afirmaram dois executivos de topo do grupo energético.
As empresas de energia apostam no aumento da procura de combustíveis produzidos a partir de óleos vegetais, óleos alimentares usados e gorduras que, segundo elas, desempenharão um papel fundamental na descarbonização dos sectores dos camiões, da aviação e do transporte marítimo ao longo dos próximos anos.
Para satisfazer esta procura esperada, a Eni está a aumentar a sua capacidade de bio-refinação e, ao mesmo tempo, está a expandir os empreendimentos agrícolas para garantir o abastecimento e reduzir o risco de volatilidade excessiva no mercado de matérias-primas.
“O nosso objectivo é cobrir 20% da nossa produção de biocombustíveis com matéria-prima proveniente do nosso agro-negócio até 2025, o que é um limiar relevante, uma vez que aumentámos os nossos objectivos de produção”, explicou o director de operações da Eni Energy Evolution, Giuseppe Ricci, numa entrevista à Reuters.
Em Fevereiro, a Eni afirmou que tinha como intuito aumentar uma capacidade de bio-refinação de mais de três milhões de toneladas por ano até 2025, e mais de cinco milhões de toneladas até 2030, contra os actuais 1,1 milhões.
Este valor está de acordo com as previsões dos analistas do banco Barclays no Reino Unido, segundo as quais a procura global de biocombustíveis triplicará para 30 milhões de toneladas até ao final da década.
A Eni assinou acordos com diversos países para identificar terras degradadas onde os agricultores semeiam culturas que não competem com a cadeia de abastecimento alimentar.
“Temos grupos de agricultores locais que cultivam para nós, obtemos sementes, esprememo-las e levamos o óleo para as nossas bio-refinarias, óleo este que é obtido a partir de resíduos e detritos de agro-industrias”, disse Guido Brusco, director de operações da Eni Natural Resources.
Prevê-se que cerca de 700 000 agricultores estejam envolvidos nas actividades agrícolas da empresa até 2026, ao abrigo de acordos assinados com vários países como Angola, Benim, República Dominicana do Congo, Guiné-Bissau, Quénia, Costa do Marfim, Moçambique, Ruanda e Vietname. Estão em curso estudos de viabilidade em Itália e Cazaquistão.
“Estamos a replicar a integração vertical que temos noutras matérias-primas e a lógica é reduzir a volatilidade, garantir a matéria-prima e ter mais controlo sobre os custos”, acrescentou Guido Brusco.
“Também seguindo o modelo de integração vertical, a BP (empresa britânica que opera no sector de energia) está a considerar comprar participações em produtores de matérias-primas para biocombustíveis e investir directamente em empreendimentos agrícolas”, explicou o chefe de biocombustíveis da empresa, Nigel Dunn.
“Até ao final do ano em curso, tomaremos a decisão final de investimento numa nova bio-refinaria em Livorno (Itália), que se juntará às duas bio-refinarias existentes em Itália e a duas potenciais novas unidades nos Estados Unidos e na Malásia”, declarou Giusseppe Ricci.
A ENI afirma que os biocombustíveis podem reduzir as emissões líquidas de gases com efeito de estufa entre 65% e 90% em comparação com os combustíveis fósseis, dependendo do tipo de matéria-prima e do processo de produção.
“Mesmo que os biocombustíveis tenham custos mais elevados, o facto de poderem ser produzidos com as infra-estruturas existentes torna-os uma solução competitiva para descarbonizar os transportes”, concluiu Giusseppe Ricci.