O mundo académico tem testemunhado o surgimento de inovações na área do ensino, e Moçambique já acompanha esta tendência. Uma iniciativa de um jovem chamado Daniel Alexandre Ngovene prova como, com um telemóvel e a disponibilidade de Internet, podemos aceder aos conteúdos do Sistema Nacional de Ensino.
Ferramentas tecnológicas que ajudam estudantes, autodidactas e até curiosos a chegarem ao conhecimento são muitas e não são de hoje. Basta olhar para as funcionalidades do YouTube ou do Google, entre outras ferramentas capazes de disponibilizar uma série de dados em pouco tempo sobre toda e qualquer área do saber que interesse também à área académica.
Mas, com o desenvolvimento das startups, este movimento não pára de evoluir e, nesta edição, trazemos a história da iniciativa desenvolvida pelo jovem Daniel Ngovene, natural da província de Gaza.
Partindo da sua experiência de leccionar aulas particulares, Daniel viu na programação a solução para resolver o problema da distância que o separava dos seus explicandos que, curiosamente, eram seus colegas de escola no nível secundário. Recorrendo ao conhecimento adquirido através do YouTube, criou uma rede social designada Filoschool (com o domínio filotchila.com) que consiste na troca de material escolar, explicação e resolução de tarefas académicas.
Embora esta não seja uma novidade para o mundo como tal (tanto é que, noutras geografias, plataformas como esta já existem), cá em Moçambique esta constitui uma boa nova. Se atentarmos a outros pontos do globo mundial, temos o caso da Alemanha que está na dianteira quanto à criação de redes sociais académicas, de onde se destaca o researchgate.com, que conta, actualmente, com mais de 16 milhões de usuários, e ajuda muitos pesquisadores a partilharem as suas experiências e a disponibilizarem os seus trabalhos.
Outra rede social académica é a academia.edu.com, de origem norte-americana. A plataforma é mundialmente reconhecida e ajuda com à disponibilização de diversos trabalhos já feitos por vários pesquisadores sobre diversos temas.
A do Daniel Ngovene, embora seja apenas mais uma no mundo, ganha particular importância por ser moçambicana e adaptada às necessidades do sistema nacional de ensino, que é acessível aos estudantes desta realidade. É uma das poucas iniciativas desta natureza em Moçambique, país que tem a particularidade de estar exposto a eventos climáticos adversos, obrigando, muitas vezes, ao encerramento de escolas. E é aqui onde a Filoschool ganha particular relevância.
O que é a Filoschol, essencialmente? “É uma rede social que ajuda os alunos na resolução dos exames, exercícios de aplicação e perguntas. O que pode ser encontrado na plataforma são exames feitos e resolvidos. Agrega, também, uma biblioteca na qual pode ser pesquisado um qualquer livro, com a oportunidade de o usuário colocar as suas dúvidas e ter o devido esclarecimento”, explica Daniel Ngovene, fundador da plataforma.
Para se registar na rede é necessário preencher um formulário, indicando apenas o nome completo e o género.
Mas quando é que começa esta caminhada? “Na verdade, quando comecei a interagir com o mundo da Internet, procurei sempre saber como as pessoas criavam aplicativos, até porque não sabia como era o processo. Com o andar do tempo, em finais de 2018, comecei a assistir canais no Youtube, altura em que também comecei a interessar-me muito pelo mundo de programação. Como já produzia aulas usando blogs e wordpress, acabei mesmo por aprender muito sobre o assunto”, esclareceu Daniel Ngovene.
Através da junção da palavra grega ‘filo’, que significa ‘amigo’, com a palavra inglesa ‘school’, que significa escola, saiu a expressão ‘amigo da escola’ – o nome da plataforma que já conta com uma equipa composta por dez pessoas.
Desde a sua criação, em 2020, a plataforma contabilizou mais de dez mil usuários. Devido, porém, a determinadas mudanças introduzidas para lhe dar maior dinamismo, perdeu cerca de quatro mil que não conseguiram voltar a aceder, tendo, por isso, ficado com seis mil usuários.
“Por enquanto, ainda não começámos a rentabilizar a plataforma, mas estamos já a tentar colocar anúncios e, dentro de alguns meses, iremos começar a limitar respostas grátis, para que as pessoas, durante o mês, tenham de pagar para ter acesso às respostas”, explica Daniel Ngovene ao falar da sustentabilidade da plataforma.
O responsável destaca que “estamos, simplesmente, a pensar em colocar anúncios. Mas se a ideia dos anúncios não sair como esperado teremos de cobrar a mensalidade”.
Daniel Ngovene mostra-se optimista quanto ao desenvolvimento da sua plataforma e assegura que “a sociedade está a aderir, apesar de alguns impasses no que diz respeito à disponibilidade e custo de Internet, mas estamos a ter um feedback positivo”.
Neste momento, o grande desafio é a rentabilização da plataforma para poder construir um escritório próprio.
Texto Nário Sixpene • Fotografia Marino Silva