Fernando Pacheco, engenheiro agrónomo angolano, criticou esta segunda-feira, 5 de Junho, a subida brusca de quase 100% do preço da gasolina no país, por constituir “efeitos gravosos na vida das pessoas, na inflação e na confiança ao Governo”, defendendo um aumento gradual.
“Era inevitável (a subida) como toda a gente dizia, mas deveria acontecer gradualmente, já a última foi muito brusca e agora acontece outro aumento brusco de quase 100%. Isto não pode acontecer. Não me parece que seja correcto fazer este tipo de aumentos bruscos”, disse Fernando Pacheco à Lusa.
Para o agrónomo angolano, o aumento do preço dos combustíveis tem efeitos “muito gravosos na vida das pessoas, na confiança que as pessoas têm no Governo e, claro, na inflação, que era uma bandeira do Executivo com o nível mais baixo dos últimos tempos”.
“Mas, agora, possivelmente vai haver um retrocesso (da inflação) e isso, mais uma vez, vai retirar a confiança dos cidadãos, que já era pequena. Sabemos que tal está já a trazer bastante insatisfação e algumas manifestações por parte dos cidadãos”, realçou.
O clima de insatisfação dos cidadãos, em consequência do aumento dos preços dos combustíveis, “em nada contribui para o clima de paz e concórdia que me parece que é fundamental nesta altura no país. Não é errado aumentar o preço dos combustíveis, na perspectiva de se diminuir os subsídios que é muito elevado e penaliza muito o erário público, mas o que é errado é a forma como está a acontecer esse aumento”, observou Fernando Pacheco.
Desde a passada sexta-feira que o litro de gasolina em Angola passou a custar 300 kwanzas, contra os anteriores 160 kwanzas, com os cidadãos a recearem o aumento dos preços dos produtos da cesta básica.
O Governo angolano anunciou na quinta-feira passada a retirada gradual de subsídios à gasolina, mantendo a subvenção ao sector agrícola e da pesca.
De acordo com o ministro de Estado para a Coordenação Económica de Angola, Manuel Nunes Júnior, as tarifas dos taxistas e mototaxistas vão ser subvencionadas, continuando os mesmos a pagar 160 kwanzas o litro de gasolina, cobrindo o Estado a diferença.
Em relação aos subsídios atribuídos aos taxistas, aos mototaxistas e ao sector produtivo, o também ex-conselheiro do Presidente angolano referiu que a medida “poderia ser correcta se o nosso país estivesse organizado. Porque a reacção dos cidadãos “é logo pensar que as pessoas que vão beneficiar dos subsídios vão tentar encontrar esquemas para abastecer e revenderem ao preço normal ou até superior. Essa é a ideia que perpassa por toda a sociedade e acredito que isso vá acontecer”, disse.
Fernando Pacheco considerou ainda que Angola precisa “fundamentalmente de se organizar, em termos das instituições, para que outras medidas possam ser tomadas. Enquanto isso não acontecer, nós vamos viver esta situação de instabilidade”, rematou o agrónomo, que é igualmente membro do Observatório Político e Social de Angola (OPSA).
O Governo angolano vai liberalizar os preços dos combustíveis, de forma faseada, até 2025, começando pela remoção parcial dos subsídios à gasolina, cujo preço será “livre e flutuante” já no próximo ano, anunciaram as autoridades