Alguns economistas ouvidos hoje (5) pelo DE consideraram muito elevado o aumento dos coeficientes de reservas obrigatórias, anunciado na última quarta-feira, pelo Banco de Moçambique (BdM), em que os passivos em moeda nacional subiram de 28% para 39%, e em moeda estrangeira de 28,5% para 39,5%, “visando absorver a liquidez excessiva no sistema bancário, com potencial de gerar uma pressão inflacionária”.
Para os analistas, são 11 pontos percentuais (pp) bastantes significativos e elevados, o que significa que os bancos comerciais já não terão a liquidez necessária para poder continuar com a provisão do crédito aos consumidores que, por sinal, é o seu negócio.
Ao DE, Estrela Charles, economista e investigadora do Centro de Integridade Pública (CIP), organização não-governamental moçambicana, anuiu que, como impacto directo desta medida, o nível de investimento na economia irá diminuir, visto que haverá escassez da moeda nacional assim como da estrangeira no mercado. Como tal, “o banco central está a mostrar, mais uma vez, que a política monetária levada a cabo durante todo o ano de 2022 não teve os efeitos económicos esperados, que seriam a redução da taxa de inflação. O que aconteceu com a política do BdM foi que, no ano passado, se observou uma economia mais restritiva em termos de produção, ou seja, foi afectando a capacidade produtiva das empresas devido ao não acesso ao financiamento”, explicou.
Na óptica da economista, o aumento dos coeficientes está votado ao falhanço se for isolado e se não atender ao carácter estrutural da dinâmica da inflação no País.
“Nós sabemos muito bem que a nossa inflação não é causada directamente pela questão do excesso de liquidez na nossa economia. É uma inflação causada também do lado da oferta e do lado da produção”, frisou a investigadora, acrescentando que a decisão “não terá efeito algum se não for conciliada com a política fiscal”.
Alinhando no mesmo argumento, Egas Daniel, economista e coordenador do programa em Moçambique do International Growth Center (IGC) da London School of Economics, entende que a medida não vai resolver a espiral da inflação, visto estar condicionada por “problemas estruturais”.
“Significa que [as empresas] vão pagar as suas dívidas com um custo muito maior”, logo, esta medida “pode pôr em causa a rentabilidade e a continuidade das operações de muitas delas. É a parte nociva que acompanha estas medidas de carácter restritivo”, afirmou o economista, sublinhando que a rentabilidade dos investimentos das empresas fica comprometida.
Egas Daniel enfatizou ainda que “nenhuma empresa projecta fazer investimentos com base em empréstimos ou em financiamento bancário, num contexto em que as taxas de juro estão tão altas”. Por outro lado, a sobrevivência de “alguns bancos pequenos” está em risco, acrescentou, porque têm de lidar com “apertos já extraordinários” impostos pelo regulador.
O economista manifestou ainda dúvidas relativamente ao argumento de que o excesso de liquidez está a provocar uma pressão inflacionista, defendendo que a alta de preços em Moçambique é causada por factores estruturais, como a fraca produção e produtividade da economia. Neste sentido, o banco central “não encontra uma estrutura económica que permita que as medidas sejam eficazes”.
Já o economista e docente universitário Elcídio Bachita considerou arriscada a decisão de subir os coeficientes de reservas obrigatórias impostas aos bancos comerciais.
“Eu diria que não é exactamente uma medida prudente”, olhando para o estado da economia, explicando “que, naturalmente, isto vai ter as suas repercussões, porque os bancos comerciais vão ficar com menos recursos financeiros para financiar a economia”.
À Lusa, Bachita frisou ainda que o Banco de Moçambique “está a actuar de forma isolada, sem se coordenar com outros actores da economia nacional, porque as medidas monetárias, apenas, não se estão a mostrar efectivas no combate à inflação”.