A administradora do Banco de Moçambique (BdM), Silvina Abreu, admitiu hoje, sexta-feira (2), perante críticas de empresários, que a economia possa ter de “sangrar”, no curto prazo, por causa da política monetária, para conter a inflação.
“Nós achamos que é necessário que seja consentido um momento, no curto prazo, em que a economia – por causa dos efeitos da política monetária – possa estar a ‘sangrar’, digamos assim, mas para um bem maior”, referiu, num encontro com a Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA).
“Estamos a lutar para que, depois, o efeito seja uma redução da inflação em que todos os agentes económicos que estão a operar no mercado possam tirar benefício disso, incluindo as famílias”, acrescentou.
Questionada sobre se já teria sido alcançado o pico das medidas de política monetária, Silvina Abreu não se comprometeu com uma resposta.
Em causa está o aumento das reservas obrigatórias que os bancos comerciais têm de manter junto do banco central: o regulador decidiu na quarta-feira (31) subir os coeficientes para 39% dos passivos (caso dos depósitos) em moeda nacional, e 39,5% no caso de moeda estrangeira.
A inflação homóloga em Moçambique desacelerou em Abril para 9,6%, o valor mais baixo em 12 meses.
O BdM justificou a acção “visando absorver a liquidez excessiva no sistema bancário, com potencial de gerar uma pressão inflacionária”, mas os empresários acham que a decisão vai tornar ainda mais caro contrair financiamento bancário, essencial numa economia de pequenas e médias empresas, que vão ter mais dificuldades.
“Antevemos muitas dificuldades para que [as empresas] possam crescer, prosperar e gerar valor para a economia”, referiu Oldemiro Belchior, vice-presidente do pelouro de Política e Serviços Financeiros da CTA, no encontro de hoje. O aumento das reservas obrigatórias vai levar a um aumento das taxas de juro e o serviço da dívida “vai agravar-se, não só para quem procura crédito, como também para quem já beneficia. As empresas vão ressentir-se com o “aumento expressivo das reservas obrigatórias”, declarou o responsável.
Apesar de admitir que pode haver uma pressão a curto prazo, Silvina Abreu recusa a ideia de ver a política monetária como causa iminente de falta de crédito à economia.
“Não gostaria que se dissesse que é por esta razão que não se vai dar crédito à economia, porque já houve outros momentos de inflação mais baixa e também não estava a haver um encaminhamento [de crédito] pelo sector bancário para a economia”, considerou.
“Haverá outros factores que podemos depois, com calma, verificar, que levam a que a economia não esteja a ser priorizada em termos de crédito”, disse.
A administradora sugeriu que a banca utilize formas mais “criativas” de viabilizar o financiamento à economia. “Nós estamos a fazer a nossa parte”, como banco central, referiu. Se tal não acontecesse, “poderíamos ser acusados de não desempenhar esse papel e ter a inflação a crescer acima do desejável”, explicou.