A economia moçambicana continuou a recorrer em 2022 à poupança externa para o financiamento das suas necessidades de consumo e investimento.
Segundo os dados que constam no boletim anual da balança de pagamentos, divulgado recentemente pelo Banco de Moçambique (BdM) e a que o DE teve acesso, as necessidades líquidas de financiamento externo em Moçambique aumentaram em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) em 14,6 pontos percentuais (pp), ao passar de 22,4%, em 2021, para 37%, em 2022.
De acordo com o documento, contribuíram para este resultado a deterioração do défice da conta corrente (CC), em 74,8%, fixando-se em 6,2 mil milhões de dólares (equivalente a 37,4% do PIB), combinado com a redução do saldo superavitário da conta de transferências de capital em 5,7%.
“A deterioração do défice da CC reflecte, essencialmente, o aumento em mais de 100% do saldo negativo da conta de bens, justificado pelo incremento das importações por parte dos grandes projectos (GP), em 4,6 mil milhões de dólares, devido à chegada da plataforma flutuante Coral Sul, FLNG (Floating Liquefied Natural Gas), na bacia do Rovuma. Por sua vez, a contracção no saldo superavitário das transferências de capital deveu-se à diminuição dos donativos para projectos de investimento recebidos pela Administração Central”, explica o relatório.
O documento aponta ainda que a conta de rendimentos primários (que inclui os pagamentos e recebimentos de rendimentos de factores como o trabalho ou o capital) contribuiu, igualmente, para o aumento do défice da CC, ao incrementar o seu saldo negativo de 339,9 milhões de dólares para 924,2 milhões de dólares (5,5% do PIB), em resultado do aumento do repatriamento de capitais, sob forma de dividendos e juros de empréstimos, por parte das empresas de investimento directo estrangeiro (IDE), com destaque para os GP.
Do lado inverso, o défice da conta de serviços melhorou em 16,6%, fixando-se em 1,4 mil milhões de dólares (o equivalente a 8,6% do PIB), reflectindo a diminuição na contratação de serviços de assistência técnica pelos GP, associado ao aumento da receita líquida de turismo em mais de 100%. Outrossim, “as transferências correntes líquidas registaram um excedente de 1,1 mil milhões de dólares (55,9% a mais em relação a 2021), justificado, essencialmente, pelo incremento nos recebimentos líquidos do sector privado e da Administração Central”.
Entretanto, em 2022, a conta financeira, segundo revela o relatório, registou a entrada de recursos de 5,6 mil milhões de dólares (33,5% do PIB), representando um acréscimo de 2,9 mil milhões de dólares face a igual período de 2021, como resultado do aumento acima de 100% dos fluxos financeiros da categoria de Outro Investimento, determinado pelo efeito combinado da redução na aquisição líquida de activos financeiros e do aumento do endividamento externo, ambos sob a forma de créditos comerciais realizados pelos GP.
Neste sentido, “o défice conjunto das CC e capital foi superior aos influxos da conta financeira, facto que concorreu para o registo de um saldo global da BoP negativo de 584,1 milhões de dólares que, por sua vez, foi financiado com recurso ao desgaste de activos de reserva da autoridade monetária, culminando com o saldo das reservas internacionais brutas de 2,8 mil milhões de dólares”.
No geral, o boletim indica que o saldo devedor de Moçambique face ao exterior, medido pela Posição de Investimento Internacional (PII), deteriorou-se em 9,8%, tendo-se fixado em 68,9 mil milhões de dólares devido ao incremento da posição de passivos externos, em 7,5%, para 83,9 mil milhões de dólares, conjugado com a redução de activos detidos no exterior em 2%, no total de 14,9 mi milhões de dólares.