O Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) vai procurar, a partir desta semana, mobilizar financiamentos privados e locais para África enfrentar as alterações climáticas e ter um crescimento verde, recursos que estão hoje muito baixo dos conseguidos em regiões comparáveis.
O financiamento da luta contra as alterações climáticas em África tem sido principalmente dominado por intervenientes não privados, segundo dados do BAD.
De acordo com a agência Lusa, o banco refere, nos documentos de preparação das reuniões anuais deste ano, que dos 29,5 mil milhões de dólares (cerca de 27,33 mil milhões de euros) em financiamento climático no continente em 2020, apenas 14% vieram de actores privados, muito abaixo de outras regiões comparáveis, como América Latina e Caraíbas (49%), Leste Asiático e Pacífico (39%) e Sul da Ásia (37%).
Além disso, “esses recursos, limitados, foram capturados por um pequeno número de países com mercados financeiros relativamente desenvolvidos, como África do Sul, Nigéria, Quénia, Marrocos e Egipto”, refere no mesmo documento.
O BAD quer contribuir para corrigir a situação e vê nas reuniões deste ano, que vão decorrer de 22 a 26 de Maio em Sharm el Sheikh, no Egipto, “o quadro oportuno para encontrar propostas concretas para um crescimento inclusivo e sustentável” de África.
Para isso, sob o tema global “Mobilizar o Financiamento do Sector Privado para o Clima e o Crescimento Verde em África”, a instituição estruturou um conjunto de eventos de onde espera contributos dos representantes dos 81 países membros, regionais e não regionais, que participam nos encontros.
O primeiro desses eventos será um diálogo presidencial, que contará com os chefes de Estado presentes e com o Presidente do BAD, Akinwumi Adesina, sobre “a evolução da arquitectura financeira global e o papel dos bancos multilaterais de desenvolvimento”, que decorre na terça-feira, após a cerimónia oficial de abertura.
O lançamento do relatório “Perspectivas Económicas para África 2023”, que aborda as áreas-chave para o desempenho macroeconómico e, centrado no tema das reuniões anuais, traz indicações sobre como usar mecanismos de financiamento inovadores para mobilizar o financiamento do sector privado, é o segundo evento em destaque.
No relatório sobre o Desempenho e Perspectivas Macroeconómicas Africanas, lançado no inicio do ano, as previsões do BAD são de que o continente registe um crescimento médio de 4% do seu produto interno bruto real em 2023 e 2024, um valor superior às médias mundiais de 2,7% e 3,2%.
Em concreto, 53 dos 54 países africanos membros do Banco registaram uma evolução positiva em 2022, e as estimativas são de que continue nos próximos dois anos, com vários países a exceder 5%, incluindo Moçambique (6,5%), a República Democrática do Congo (6,8%), a Gâmbia (6,4%), o Togo (6,3%), a Líbia (12,9%), o Níger (9,6%) e o Senegal (9,4%).
Os temas dos outros eventos estruturados ao longo do programa de cinco dias dos encontros centram-se em “explorar o capital natural para financiar o crescimento verde e alterações climáticas” e “acções-chave para um crescimento inclusivo e desenvolvimento duradouro em África”.
Esta segunda-feira, dia que precede a abertura oficial, haverá reuniões de comités e organismos sectoriais, nomeadamente o Compacto Lusófono, assinado por Portugal, pelo BAD e pelos seis países africanos da CPLP, para promover o investimento privado nestes países.
Os encontros anuais reúnem os ministros das Finanças ou seus representantes dos 81 países membros regionais e não regionais do Grupo BAD, contando também com a presença de governadores dos Bancos Centrais, importantes líderes do sector financeiro e empresarial, académicos e parceiros de desenvolvimento.
Espera-se que até quatro mil pessoas participem das Reuniões Anuais de 2023 que vão decorrer no Centro Internacional de Conferências de Sharm el Sheikh.