Com a entrada em 2023, chegou a vez de provarmos os vinhos da colheita enigmática de 2013. Anualmente, e sempre dez anos depois da colheita, o painel da revista portuguesa Grandes Escolhas regressa a algumas dezenas de grandes tintos daquele país com tradição na produção da adega.
Num artigo para fazer a apreciação dos que considera serem os melhores vinhos de há dez anos, o autor, Nuno Oliveira Garcia, realizou uma espécie de casting junto dos produtores e enólogos de todo o país para ter a verdadeira noção da qualidade dos vinhos que foram produzidos naquele ano que, em Portugal, foi de um rigoroso Inverno.
Francisco Ferreira (Vallado) e Jorge Moreira (Poeira), ambos centrados na região do Douro, destacam o perfil fresco dos vinhos que os tornam muito agradáveis de beber (muito bons tintos e excelentes brancos), não deixando de referir que faltou, num ou outro vinho, um pouco mais de maturação que contribuísse com profundidade. Jorge Moreira, ainda sobre este aspecto, realça que os vinhos têm evoluído muito bem, e que só por falta dessa maior maturação é que não têm ainda mais personalidade.
Mário Sérgio Nuno (Quinta das Bágeiras) destaca também o ano frio na Bairrada, onde não se sentiu qualquer tipo de escaldão no Verão, o que contribuiu com vinhos mais finos e menos estruturados (comparados com 2011 e 2012 ou até 2015), com taninos em todo o caso sérios e austeros que garantem longevidade.
Dois terços dos tintos provados aguentarão outros dez anos ao mesmo nível (ou até melhorarão) e, muitos desses, muito mais anos… Falando de transversalidade, todas as regiões em prova apresentaram vinhos de altíssima qualidade
Ao sul, no Alentejo, Pedro Baptista (Fundação Eugénio de Almeida) só tem boas palavras para a colheita, elogiando-a ao ponto de a equiparar à mítica de 2011, salientando que as temperaturas foram “doces durante o ano” garantindo, genericamente, maturações lentas e equilibradas. Para o enólogo e administrador, 2013 é responsável por alguns dos vinhos alentejanos mais elegantes e equilibrados dos últimos anos.
Quanto à prova verdadeiramente dita, a primeira nota positiva vai para a prestação dos vinhos ao nível da sua juventude. Dois terços dos tintos provados aguentarão, certamente, outros dez anos ao mesmo nível (ou até melhorarão) e, muitos desses, seguramente, muito mais anos. Falando ainda de transversalidade, realça o facto de todas as regiões em prova apresentarem vinhos de altíssima qualidade.
Pela análise climática de 2013, pode-se dizer que foi um ano que favoreceu as regiões mais quentes, com Douro e Alentejo à cabeça (com vários vinhos entre os mais pontuados), mas entre os que deram melhor prova constam também vinhos da Bairrada (com destaque para Outrora e Kompassus) e do Dão (belíssimos os Quinta da Pellada e Quinta da Vegia). No estilo e mecânica de prova, é impossível não realçar os alentejanos Mouchão, Procura e Esporão Private Selection como alguns dos mais gastronómicos, da mesma forma que os durienses Pintas, Poeira e Carvalhas se elevaram pela juventude e perfil compacto.