Com a transformação digital a ganhar força em todo o mundo, é importante que as instituições conheçam as tendências da tecnologia na Saúde em 2023. Existem, inclusive, diversas ferramentas que se estão a popularizar no sector visando optimizar serviços e aprimorar o atendimento ao paciente. Moçambique ainda está distante desta realidade, claro, mas as tendências alastrarão, inevitavelmente, a todo o mundo
Muitos estudiosos de todo o mundo acreditam que é na área da saúde que mais se evidencia a rápida difusão da tecnologia, com soluções, a vários níveis, a serem anunciadas quase diariamente.
Por isso há vários estudos a demostrarem que é neste sector que a humanidade vai adquirir o maior benefício da inovação tecnológica, e as tendências têm demostrado isso. Mas antes de conhecer as tendências, há que revisitar o grande salto que a Inteligência Artificial (IA) permitiu ao sector da saúde.
Pesquisadores de diversas partes do mundo concordam que a IA ajudou aquele sector a desenvolver novos medicamentos e tratamentos e a melhorar a precisão dos diagnósticos. Um exemplo é o Microsoft Project InnerEye, uma ferramenta de IA de radioterapia que acelera drasticamente o processo de detecção e tratamento do cancro.
Outro grande exemplo é o sistema Brainomix e-Stroke desenvolvido no Reino Unido, que pode receber suporte de decisão em tempo real na interpretação de varreduras cerebrais usando algoritmos de IA de última geração. Isso ajuda os pacientes a obter o tratamento correcto na hora e no local certos.
Além de diagnosticar doenças, a IA também pode melhorar a saúde mental de forma eficaz, adaptando os seus serviços às necessidades individuais de cada usuário. Além disso, os usuários podem buscar suporte e orientação de serviços de saúde mental baseados em IA fora do horário tradicional de terapia e em vários formatos (por exemplo, chatbots, meditação guiada ou exercícios respiratórios).
Alguns aplicativos de saúde mental, como o Headspace e o Calm, podem personalizar técnicas de relaxamento, meditações ou exercícios de terapia cognitiva-comportamental (TCC) para usuários que usam os seus algoritmos de IA.
Alguns aplicativos de saúde mental, como o Headspace e o Calm, podem personalizar técnicas de relaxamento, meditações ou exercícios de terapia cognitiva-comportamental
A TCC é usada para tratar a ansiedade e a depressão, ajudando as pessoas a aprender como administrar os seus pensamentos e emoções de maneira saudável. Esses algoritmos de IA alteram as suas recomendações com base nos dados colectados, como os estados de saúde mental relatados pelos usuários, se eles terminam um exercício e a frequência de uso do aplicativo.
E qual será a tendência da saúde em 2023?
A primeira é chamada de interoperabilidade e trata da capacidade de um sistema se comunicar com outro de forma transparente e eficaz, sendo necessário, para isso, que exista um padrão aberto para as ferramentas se relacionarem e poderem compartilhar os seus dados sem comprometê-los durante a transferência.
Assim, uma das principais tendências de tecnologia na saúde em 2023 caminha para a criação de um padrão nas plataformas, ou, ao menos, uma forma de interligar os sistemas com sucesso. Esse processo surgiu da necessidade de trocar informações de maneira rápida, prática e segura, algo especialmente importante na saúde.
No entanto, uma vez que existem vários fabricantes e modelos de sistemas para adoptar, espera-se que a interoperabilidade seja um conceito trabalhado para unir esses componentes nas rotinas do dia-a-dia.

Enquanto isso, a tecnologia 5G também é uma tendência de tecnologia na saúde para 2023. Com esse novo modelo de conexão via satélite, será possível ter uma menor latência, ou seja, menor tempo de resposta entre o comando e a transmissão de dados. Além disso, a velocidade da Internet pode ser até 20 vezes maior que a geração anterior.
Na saúde, essa tecnologia irá optimizar os sistemas de troca de dados em hospitais e instituições médicas, permitindo uma comunicação ainda mais rápida. Além disso, será um dos pilares para, por exemplo, fortalecer a telemedicina e telemonitoramento de pacientes.
O mesmo se aplica à Internet das Coisas, um conceito que se refere à capacidade dos dispositivos de se conectarem à Internet, mesmo sem terem sido feitos para isso.
Na medicina, é um conceito que caminha com a interoperabilidade e com o 5G, pois permite mais eficiência nos processos médicos ao inovar os equipamentos com acesso online. Por exemplo, será mais simples localizar o processo clínico do paciente (documento digital que reúne todas as informações) e actualizá-lo com novos dados a partir de sistemas e triagens conectadas.
A aplicação da Internet das Coisas também beneficia os registos de exames e tratamentos. Por exemplo, pace-makers conectados podem informar o profissional no caso de inconsistências ou falhas cardíacas, aumentando as probabilidades de atendimento rápido.
O metaverso e os sistemas integrados dos hospitais
Uma das tendências de tecnologia na saúde para 2023 é também o metaverso, um conceito que une espaços físicos e virtuais, replicando as experiências humanas na rede.
Esse ambiente de realidade aumentada está a ser desenvolvido com foco no entretenimento e investimentos, mas, na área médica, pode ser uma ferramenta promissora. Afinal, reduz a distância entre as pessoas, sejam profissionais ou pacientes.
Os custos dos procedimentos e dos equipamentos ainda podem representar barreiras… mas o ano de 2023 promete aumentar a quantidade de procedimentos médicos realizados por robots
Além disso, permitirá estudos mais complexos, avaliações mais completas e planeamentos mais efectivos de tratamentos. Será possível criar simulações reais e treinar especialistas com mais rapidez, sem utilizar sistemas ultrapassados. Pode ser também uma forma de tornar os atendimentos mais humanizados, pois oferece distracções para crianças em tratamentos, melhora a experiência do paciente e traz a realidade virtual como aliada para incentivar os pacientes nos seus hábitos diários.
Os sistemas de integração para hospitais são, igualmente, uma das tendências de tecnologia na saúde no presente ano porque buscam atender à necessidade de conexão rápida que as instituições precisam. Assim, será possível não apenas aplicar a transformação digital em larga escala, mas também em pequenas rotinas, como integrar sectores internos e transmitir dados mais rapidamente pelo servidor. Com o uso da IA, as plataformas integradas também poderão usar mais bancos de dados para avaliar situações e diagnósticos, contribuindo para que o profissional chegue a uma conclusão mais ágil e precisa.
Robotização e cirurgia robótica
Que a cirurgia robótica traz mais precisão ao procedimento cirúrgico, os profissionais da área da saúde já sabem. Mas o que a maioria das pessoas não entende é como é que esse procedimento reduz os riscos pós-operatórios, tanto em mortalidade como em morbidade. Um robot também pode auxiliar o médico na questão da segurança na intervenção. Diversas áreas da medicina já utilizam robots para auxiliar em procedimentos cirúrgicos: ortopedia, urologia, geriatria.
Os custos dos procedimentos e dos equipamentos ainda podem representar barreiras para que de facto isso seja uma realidade comum, mas o ano de 2023 promete trazer um aumento significativo na quantidade de procedimentos realizados por robots.
A realidade é que a sociedade global está cada vez mais próxima de um cenário futurista, mas com mais humanização nos processos, o que promove o contacto humano mais empático e voltado para o paciente.
Atenção à saúde mental
O impacto da pandemia na saúde mental da população, somado aos efeitos psicológicos de factores tão variados quanto a guerra na Ucrânia, a crise climática e a inflação global, talvez seja incalculável.
Por isso a saúde mental passou a ser, também, o grande foco das healthtechs. As consultas online oferecidas por psicólogos, psicanalistas e outros profissionais da área dão uma pista. Irrisório até à quarentena, o acesso virtual a esses especialistas deverá movimentar 8,2 mil milhões de dólares até 2030. Pelas contas da consultoria Verified Market Research, foram 2,6 mil milhões de dólares no ano passado.
Estudiosos e pesquisadores das áreas de tecnologia acreditam que o futuro da healthtech é brilhante e que nos próximos anos a tecnologia desempenhará um papel cada vez mais indispensável no sector da saúde.
A propósito, estas questões acabaram por ser discutidas na cimeira sobre o assunto – HealthTech Summit – no dia 23 de Março, em Leuven, Bélgica, durante a 5.ª edição da conferência global sobre inovação na área da saúde. Anteriormente conhecido como Life on Chip, a HealthTech Summit reúne especialistas de todo o mundo em medtech, biotecnologia, saúde digital e atendimento ao paciente para examinar o estado actual e o futuro da inovação colaborativa.
Texto Celso Chambisso• Fotografia Istock Photo, D.R.