Os munícipes da cidade de Maputo consideram que o custo de vida no País tem vindo a agravar-se ao contrário do que foi recentemente divulgado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). De acordo com o Índice de Preços no Consumidor (IPC), referente ao mês de Abril, a inflação desacelerou para um dígito, situando-se nos 9,61%, menos 1,22 pontos percentuais do que em Março.
Segundo o boletim do INE, que se baseou na recolha de dados para cálculo da inflação em oito cidades – Maputo, Beira, Nampula, Quelimane, Tete, Chimoio, Xai-xai e Inhambane –, alguns alimentos ficaram mais baratos, como o milho em grão, óleo alimentar, coco, alface e galinha, assim como outros produtos – caso das motorizadas e televisões.
Entretanto, ao DE, Maria Ernesto, residente no bairro do Choupal, arredores da cidade de Maputo, disse não ter sentido essa desaceleração, visto que os preços dos produtos no mercado continuam altos. “Os preços não baixaram, continuamos a comprá-los muito caros. O frango, por exemplo, continua a custar 300 a 320 meticais mas, no ano passado, por esta altura, chegámos a comprar por 250 meticais”.
Partilhando a mesma ideia, Paulo Mapswanganhe, funcionário numa empresa de segurança privada, entende que, ao contrário de os preços terem reduzido, “em alguns mercados, os produtos, como o óleo alimentar e verduras, tornaram-se ainda mais caros”.
“É difícil afirmar que realmente houve essa redução, porque tudo agora está muito caro. É provável que tenha havido essa queda, mas não foi notada, uma vez que o custo de vida se tornou insustentável há quase um ano”, secundou a fonte, sublinhando, no entanto, que “os moçambicanos estão a viver em aperto”.
Na verdade, o sentimento relativo à subida de preços não é apenas percepção de quem é consumidor. Isaura Soto, vendedora num dos mercados no centro da cidade, confirmou que realmente os preços estão mais altos e em alta.
“Actualmente o negócio está parado, pois os clientes estão sempre a reclamar dos preços que fixamos. Mas nós também queremos ter algum lucro”, justificou.
A este respeito, o economista e docente na Universidade Eduardo Mondlane (UEM), Constantino Marrengula, esclarece que baixar a inflação não significa que o custo de vida tenha também reduzido, ou seja, “apenas cresceu menos”. Por isso, “o problema é a maneira como a informação foi divulgada, sendo transmitida, às vezes, de uma perspectiva que é muito mais para celebrar vitórias”.
“A desaceleração da inflação significa, simplesmente, que a taxa de crescimento dos preços reduziu. Não significa que o custo de vida tenha baixado, ou seja, aumentou em 9,61% e não em dois dígitos como era nos meses anteriores”, explicou o economista frisando que “se os preços são altos, provavelmente já não podem subir muito, porque também dependeria da capacidade do poder de compra das pessoas”.