O chefe de Estado brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, vai visitar, em Julho próximo, Moçambique, Angola e África do Sul, com o objectivo de reforçar a cooperação do Brasil com o continente africano.
Depois da Argentina, Uruguai, Estados Unidos, China, Portugal, Espanha e Reino Unido, a próxima visita do Presidente brasileiro é a reunião do G7 no Japão, a 20 de Julho. Depois disso, dando continuidade à sua agenda internacional, Lula da Silva deve visitar o continente africano em pelo menos duas ocasiões, com objectivo de fortalecer a cooperação Sul-Sul (uma cooperação técnica entre países em desenvolvimento no Sul Global que visa partilhar conhecimentos e iniciativas de sucesso em áreas específicas).
Assim, em Julho, Lula da Silva participará na reunião da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) em São Tomé e Príncipe e, em Agosto, numa reunião dos BRICS (grupo de países que inclui Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Em seguida, o chefe de Estado brasileiro deverá visitar Moçambique e Angola.
O chefe do Estado brasileiro já tinha referido, em Fevereiro, em Washington, que a visita ao continente africano constituiria uma “reparação histórica e uma obrigação humanitária”. O Brasil mantém uma cooperação com África em áreas como a educação, a agricultura e a saúde. “Devemos muito da nossa cultura ao continente africano. É uma dívida que não pode ser paga em dinheiro, tem de ser paga em troca de ciência e tecnologia”, declarou o estadista, citado pelo portal 360 Mozambique.
Para a analista brasileira de Relações Internacionais, Mariana Cofferri, entre as principais vantagens do retorno de Lula da Silva à agenda da cooperação Sul-Sul está a atracção de mais investimentos económicos do continente africano. Além disso, outro ponto positivo, segundo Cofferri, é a retoma do protagonismo brasileiro nas mesas de decisão. “É uma tentativa árdua de reviver a era de ouro da cooperação Sul-Sul e a ascensão do Brasil na comunidade internacional. No entanto, é necessário que Lula da Silva procure contrapartidas e reciprocidade em cada uma dessas visitas, desvinculando o carácter meramente ideológico. É importante levar uma agenda bem consolidada, principalmente económica e de investimentos, para ser debatida”, explicou.
De acordo com a analista, “Lula da Silva deve prestar um olhar atento para manter o histórico de pragmatismo político e diplomático brasileiro, sem excluir a possibilidade de se chegar a acordos multilaterais e bilaterais, independentemente de alinhamentos políticos, garantindo a pluralidade da agenda comercial e económica, principalmente no que diz respeito à retoma dos debates e negociações de acordos que ainda estão pendentes, como o Mercosul-União Europeia”.
A especialista lembra ainda os serviços das construtoras brasileiras no continente africano com os escândalos da Lava-Jato. “A retoma da agenda, principalmente com Moçambique e Angola, traz à tona os escândalos de corrupção que deram origem à operação Lava-Jato, decorrentes dos investimentos brasileiros da Odebrecht ocorridos durante o primeiro Governo do Presidente Lula. É necessário que o Executivo crie mecanismos e fomente políticas de combate à corrupção, a nível nacional e internacional, para se desvincular desse cenário”.