Os parceiros que apoiam as autoridades na área de VIH/Sida na província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, dizem ser difícil acompanhar os deslocados pelo conflito armado na região.
“Esta população nem sempre consegue comunicar com as unidades sanitárias”, conta Dércia Maguel, gestora de projectos na Fundação Aga Khan, em Pemba, ponto focal para a tuberculose e VIH/Sida.
As vítimas da insurgência que vivem com VIH foram obrigadas a fugir do local de residência nos últimos cinco anos e ficaram afastadas dos serviços que lhes prestavam cuidados de saúde, nomeadamente a distribuição de anti-retrovirais, sendo que os serviços públicos foram destruídos em vários distritos. E mesmo que encontrem apoio em novos locais de acolhimento, muitos estão nessas paragens apenas temporariamente.
Actualmente, há um regresso de populações que chegaram a viver em centros de deslocados, mas que querem voltar às zonas de origem, movimentos feitos sem o conhecimento das entidades da saúde, sobretudo das que trabalham na luta contra o VIH/Sida, dificultando o rastreio.
“É difícil. Nós perdemos o rasto dos pacientes e este é o maior desafio”, refere Dércia Maguel. “Precisamos encontrar estratégias” para, juntamente com a população, “assegurar que mesmo que o paciente retorne à sua proveniência, conseguirmos manter o seguimento”, sublinha.
Com mais de 154 mil seropositivos e uma taxa de sero-prevalência de VIH/Sida de 10,5%, Cabo Delgado é a província de Moçambique onde uma insurgência armada aterroriza vários distritos há cinco anos.
Alguns actores comunitários que trabalham na área da saúde são responsáveis por passar pelos centros de reassentamento de deslocados para atender pessoas com VIH/Sida, com a ideia de não os deixar sem anti-retrovirais para tomar. O medicamento é fulcral para manter a carga viral abaixo dos níveis de transmissibilidade.
“Acabámos por alcançar este grupo de pacientes através de brigadas móveis, onde os parceiros prestam apoio e nós participamos”, acrescenta a gestora da Aga Khan. “Estão presentes os técnicos da saúde de diferentes áreas”, refere.
Magido Sabune, director provincial de Saúde de Cabo Delgado, diz que há 102 unidades sanitárias a funcionar em Cabo Delgado (37 estão encerradas devido aos ataques de rebeldes) e que todas têm atendimento para VIH/Sida, fornecendo tratamento anti-retroviral.
“Graças à política que estamos a implementar, nenhuma unidade sanitária que esteja a trabalhar na província de Cabo Delgado deixa de oferecer anti-retrovirais” refere.
Aquele responsável não tem uma estimativa do número total de medicamentos disponibilizados no último ano, mas aponta os distritos onde há mais utentes: Muidumbe, Mueda, Chiúre e Montepuez.
Estima-se que em 2022 tenha havido 24 mil novas infecções por VIH em Cabo Delgado, uma descida face às 25 600 em 2021, mas a um ritmo que complica a pretensão das autoridades de saúde de erradicar a pandemia até 2030.
A província enfrenta há cinco anos uma insurgência armada com alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico. O conflito levou a uma resposta militar desde Julho de 2021 com apoio do Ruanda e também de países da África Austral, acumulando um balanço superior a um milhão de deslocados, de acordo com o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), e cerca de 4000 mortes, segundo o projecto de registo de conflitos ACLED.