Nenhum momento é tão decisivo na trajectória de uma empresa quanto o do primeiro financiamento. É quase como que uma certeza de que o negócio vai vingar, já que o financiamento toma a forma de um “atestado de confiança” da entidade que o concede. É como se dissessem: “Eu acredito que essa empresa vai ter sucesso. Toma o dinheiro e boa sorte!” Mas, aparentemente, esta confiança é mais facilmente estendida às grandes empresas, em detrimento das de menor dimensão. E esse cenário repete-se em quase todos os mercados!
Na prática, as PME possuem um papel vital na contribuição para a economia de qualquer país. São responsáveis pela criação de novos postos de trabalho, colaborando, assim, quer para o aumento da taxa de emprego, quer para a redução da pobreza, contribuem como fonte de actividades de inovação, alavancando o desenvolvimento do talento empreendedor, para além de serem uma força que flexibiliza a estrutura industrial, promovendo um grande dinamismo à economia.
Assim sendo, porque é tão difícil para estas empresas obterem financiamento?
Vamos olhar para o caso específico de Moçambique e tentar perceber as razões deste fenómeno que, muitas vezes e em última instância, contribui para a extinção do negócio.
Num mercado em que, de acordo com vários estudos, entre 95% e 98 % das empresas registadas são, efectivamente, de pequena dimensão, e considerando que a importância das PME se reflecte ao nível de vários indicadores, como é o caso do emprego e do Produto Interno Bruto, torna-se difícil, à primeira vista, compreender os entraves que são colocados ao financiamento deste segmento.
Vamos, juntos, analisar?
Começaríamos por questionar: quais os factores que afectam o acesso ao crédito bancário por parte das PME? Alguns dos apontados são:
• Fraco nível de capitalização destas empresas;
• A, por vezes, inconsistência das suas actividades;
• Uma elevada exposição à dívida;
• Assimetria de informação;
• As exigências quanto aos rácios de capitais, e;
• Os critérios mais apertados na gestão de risco.
Todos estes factores, em separado ou em conjunto, têm levado a banca a preferir investir nas grandes empresas, em detrimento das PME.
São de louvar as iniciativas, quer de bancos, quer de instituições destinadas a apoiar o desenvolvimento empresarial, que visam dotar as PME de conhecimentos sobre acesso ao financiamento
Uma nova empresa, regra geral, não possui o autofinanciamento necessário para concretizar os seus projectos, razão pela qual é comum estas empresas recorrerem ou a financiamento de familiares e amigos ou às instituições de crédito. Quando se decidem por esta última opção, voltam-se contra si as características do seu próprio segmento: o fraco volume de negócios e a falta de historial de crédito para os bancos procederem a uma análise do risco. Neste caso, resta às instituições de crédito recorrerem à análise do projecto de investimento e ao histórico do proprietário das referidas empresas. Forma-se, assim, um ciclo do qual se torna difícil para as PME escapar. Mas, então, como é suposto as empresas deste segmento sobreviverem?
São de louvar as iniciativas, quer de bancos, quer de instituições destinadas a apoiar o desenvolvimento empresarial, que visam dotar as PME de conhecimentos sobre acesso ao financiamento, planeamento de negócios, soluções financeiras de apoio ao investimento, entre outras.
Porém, estas iniciativas parecem pecar pelo facto de terem como finalidade última tornar as PME qualificadas às exigências dos operadores da indústria do GNL. E todas as outras PME cujas operações não fazem parte da cadeia de valor dos players do Oil & Gas? Não terão elas também direito a apoio para o seu desenvolvimento?
Ao abrigo do Programa de Desenvolvimento do Conteúdo Local é considerado vital o papel das empresas-âncora enquanto facilitadoras no suporte às PME através do circuito de confirmação entre banco-fornecedor. Mas estará este papel a ser desempenhado, na prática? Ou serão as próprias PME desconhecedoras dos circuitos que facilitam o seu crescimento?
Não nos propomos, neste artigo, a trazer respostas, mas sim promover o debate em torno deste tema. Assim, em jeito de conclusão, deixamos aqui ficar algumas questões para reflexão:
• Será esta dificuldade no financiamento resultante do facto de as PME possuírem uma “informação opaca” que não inspira confiança aos bancos?
• Estarão os bancos a sobrecarregar, desnecessariamente, estas empresas com elevadas taxas de juro e exigência de garantias?
• Estará o tão necessário apoio do Estado a este segmento a falhar no seu propósito?
• Estarão as PME a negligenciar certas etapas que contribuiriam para o seu próprio desenvolvimento?
Votos de uma boa reflexão!