O novo representante especial do secretário-geral das Nações Unidas (ONU) para a África Ocidental e Sahel, o moçambicano Leonardo Simão, promete seguir com atenção o que está a acontecer no Chade, país que recebe muitos refugiados em fuga do conflito que flagela o Sudão.
Leonardo Simão, que foi oficialmente nomeado a 2 de Maio por um mandato de três anos prorrogáveis, assume o cargo no início do mês de Junho no escritório que está baseado em Dacar, Senegal.
“O mais difícil, penso, vai ser lidar com as questões relacionadas com a segurança, porque os problemas ligados ao terrorismo na zona, associados ao crime organizado, são uma matéria bastante complexa. E o crime organizado está ligado ao tráfico de recursos, de pessoas, de drogas, de armas, o que configura um assunto bastante complexo”, disse Simão, que terá sob sua jurisdição um total de 17 países, entre eles dois de expressão portuguesa – Guiné Bissau e Cabo Verde.
Região de muitas crises
O Sudão não estará sob sua responsabilidade, mas o Chade sim, país que recebe muitos cidadãos que fogem do conflito no Sudão.
“Estão lá os refugiados. É preciso dar-lhes assistência, dar apoio. E, além dos problemas que o Chade já está a ter, tem de ter mais esta carga adicional de olhar para as centenas de refugiados do seu próprio país”, sublinhou o diplomata.
Leonardo Simão apontou também os primeiros passos da sua nova missão: “a primeira tarefa será a familiarização com cada um dos países, com cada um dos temas, dos assuntos, e ver qual é o papel das Nações Unidas em colaboração com organismos regionais, como a União Africana, a CEDEAO, e diversas outras organizações sub-regionais da zona, e trabalhar com elas para que os objectivos sobre os quais estão a trabalhar, quer para países individuais, quer para o conjunto de países, sejam alcançados”, afirmou.
Entretanto, o especialista em relações internacionais, Calton Cadeado, disse à Voz da América (VOA) que Leonardo Simão “é um bom político que consegue fazer um bom exercício de diplomacia. Sabemos da sua formação de base (médico), mas ele fez-se um político-diplomata a tal ponto que é bem visto nos corredores diplomáticos internacionais”, sublinhou.
Diplomacia para o Conselho de Segurança da ONU
Médico de profissão, Leonardo Simão foi ministro dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação de Moçambique por dois mandatos (1994 e 2005) e embaixador itinerante de Moçambique encarregado de promover internacionalmente a candidatura do País ao cargo de membro não-permanente do Conselho de Segurança da ONU, que ocupa desde Janeiro deste ano.
O sucesso desse trabalho pode ter pesado na escolha de Simão.
Calton Cadeado destacou que a nomeação é um elemento de prestígio para a diplomacia moçambicana, um reconhecimento do valor que a diplomacia tem na resolução de conflitos e, também, sinónimo de amizade que o secretário-geral das Nações Unidas mostra por Moçambique.
O especialista reconhece, no entanto, que o trabalho de Simão não será fácil. “Acredito que pelo pragmatismo, pela sabedoria de Leonardo Simão, ele não está à espera de resolver assuntos grandes num tão curto espaço de tempo. Até porque conhece a realidade que algumas pessoas com as quais terá trabalhado no período em que esteve na gestão máxima da diplomacia de Moçambique podem encontrar neste momento. Mas ele recorrerá à assessoria aqui de Moçambique, obviamente, porque tem o lado técnico que precisa de ser trabalhado naquela zona. Terá a equipa dele, sim senhor, mas com certeza que vai precisar também de pessoas daqui que o possam apoiar”, concluiu Calton Cadeado.
Natural de Manjacaze, província de Gaza, de 69 anos de idade, casado e pai de duas filhas, até à nomeação para o novo cargo era director executivo da Fundação Joaquim Chissano e presidente do Conselho de Administração da Fundação Manhiça.