Num estudo realizado com ratos, uma “tatuagem” de grafeno colada junto ao coração conseguiu tratar um batimento anormalmente lento. De acordo com os autores do estudo, publicado em Março na revista Advanced Materials, o dispositivo enviou sinais eléctricos que mantiveram o coração a funcionar correctamente.
O dispositivo electrónico é actualmente apenas uma prova de conceito, mas uma versão para uso em corações humanos pode estar pronta para testes em cinco anos, estima Igor Efimov, engenheiro cardiovascular na Northwestern University em Chicago, nos EUA, e autor principal do estudo.
Efimov e os colegas trabalham há anos na criação de dispositivos implantáveis que se ajustem ao corpo. Um dos seus principais desafios, explica a revista Science News, é como juntar electrónica rígida a tecidos moles, por vezes latejantes.
Na maioria dos pacemakers actualmente disponíveis, os médicos instalam eléctrodos, com a ajuda de longos fios, através de uma veia no coração. Cada vez que o coração bate, o que acontece cerca de 100 mil vezes por dia, os fios flectem, ajustando-se aos movimentos cardíacos. Como qualquer dispositivo com partes móveis, há um limite para o número de oscilações que o material permite, e o dispositivo acaba por se partir, diz Efimov.
Uma solução é usar materiais ultra-finos que acompanham os movimentos do coração, como uma película aderente a agarrar-se a um trémulo pedaço de gelatina.
Ao contrário dos componentes metálicos frequentemente usados na electrónica, o grafeno é “atomicamente fino”, diz Dmitry Kireev, engenheiro biomédico na University of Texas em Austin, EUA, que desenvolveu as tatuagens de grafeno.
As inovadoras tatuagens são constituídas por uma camada transparente de grafeno entre folhas de silicone elástico e polímero ultrafino. Uma fita de ouro liga o grafeno aos fios, que estão, por sua vez, ligados a uma fonte de energia, que envia electricidade através do dispositivo.
“As futuras versões da tatuagem serão sem fios“, diz Efimov, “talvez usando uma antena minúscula para captar sinais eléctricos de um dispositivo externo colocado no peito da pessoa”.
Efimov imagina que um dia possa haver eléctrodos de grafeno minúsculos, do tamanho de grãos de arroz, injectados no músculo cardíaco. Tal equipamento em miniatura poderia desempenhar funções de um pacemaker, sem os típicos componentes volumosos. “Tudo isto parece ficção científica, mas a tecnologia está quase aqui, diz Efimov. “Agora é a hora de a desenvolver”.