A ética é um conjunto de padrões e valores de um indivíduo ou grupo, que serve como guia para o comportamento humano em relação ao que são atitudes certas ou erradas. Sendo assim, a ética é muito importante para a construção de uma sociedade melhor, contribuindo para a manutenção de relações de confiança e respeito mútuo.
A integridade implica agir de acordo com os valores e princípios éticos. Pode ser definida como a qualidade de ser honesto e justo e destaca-se por ser uma escolha pessoal.
Enquanto a ética pode ser imposta a uma pessoa, a integridade não. Esta última tem de vir de dentro!
Sendo a ética um conjunto de padrões e valores individuais ou de grupo, todos os dias, no habitual trânsito de Maputo, questiono-me sobre estes padrões individuais que se tornam colectivos!
Vejamos, o semáforo está vermelho, mas os carros intencionalmente continuam a sua marcha. Independentemente da sua classe social ou nível de escolaridade, a maioria dos automobilistas segue o comportamento do automobilista à sua frente, mesmo sendo este errado, e propositadamente “abandonam” os seus valores individuais e seguem um padrão colectivo de atitudes erradas… Entretanto, o automobilista que respeita as regras de trânsito quase que fica constrangido ao tomar a atitude certa!
Mas este mesmo automobilista que infringe as regras, ao viajar para outro país, adopta um comportamento diferente! Porque os outros, “lá fora” não o fazem, ele também não o fará…
E questiono-me… Será que perdemos a capacidade de manter os nossos valores individuais, independentemente da acção colectiva? Em que momento perdemos a nossa integridade?
E se este “abandono” de valores acontece de forma rotineira e banal com simples acções, como é que as organizações garantem o cumprimento e compatibilidade das suas pessoas, aos seus valores corporativos?
Será que ética e integridade se ensinam?
A maioria das organizações integram um código de conduta, ao qual lideranças e colaboradores devem adequar-se para que não haja incompatibilidade de valores. Por sinal, a ética e a moral estão em alta nas organizações, pois estão associadas a temas contemporâneos de grande relevância, como responsabilidade social, governança corporativa e compliance.
De acordo com o Relatório Global de Integridade EY 2022 (ey-global-integrity-report-2022.pdf ) estas são as cinco acções que visam acelerar a agenda de integridade corporativa e, assim, melhorar os níveis de Compliance das organizações:
1. Conheça realmente o seu negócio:
As avaliações de risco de fraude e corrupção estão no centro da jornada para proteger sua organização. Além disso, essas avaliações precisam ser levadas a sério, de forma robusta, regular e expondo quaisquer lacunas ou fraquezas.
2. Coloque o ser humano em conformidade:
Reconheça que sistemas e processos não cometem fraudes – os humanos cometem. As melhores estruturas de conformidade podem ser violadas se não houver uma cultura de fazer a coisa certa, o que torna a criação de uma cultura de integridade forte, tão importante quanto o ambiente de controle.
3. Seja capacitado pelo poder dos seus próprios dados
Trate o crescimento do volume de dados como uma oportunidade para o ajudar no combate à fraude e não como uma ameaça. Use os seus próprios dados para detectar comportamentos irregulares e orientar a sua resposta para preveni-los e investigá-los. Procure maneiras de colectar dados que apoiem a sua jornada ESG e que se alinhem à sua agenda de integridade.
Maneiras práticas de ajudar a proteger os dados com integridade (ey-integrity-report-pt-2021.pdf)
• Promover uma cultura de integridade de dados que englobe a organização e a sua cadeia de abastecimento, fortalecida com comunicações e formações regulares;
• Actualizar a formação para ter em conta os novos ambientes de trabalho e regulamentações e distribuí-la pelos trabalhadores de todas as funções, cargos e níveis de antiguidade;
• Utilizar tecnologia avançada como parte de um programa de conformidade eficaz para monitorar actividades de negócios e sinalizar áreas de risco potencial − por exemplo, como parte de um plano de resposta de violação cibernética para detectar e quantificar dados que possam ter sido perdidos;
• Realizar uma avaliação de risco ao introduzir novas tecnologias avançadas que incorporam cenários éticos onde a integridade dos dados pode ser comprometida.
4. Eduque, não treine
Como o relatório destacou, a mensagem de integridade está a chegar lentamente e, ainda assim, o apetite por negligência é crescente. Continue a jornada de comunicação e conscientização passando pela formação, para que todos entendam o “porquê” e o “o quê” da integridade nos negócios.
5. Fale alto e apoie a denúncia
Algumas das considerações que as organizações necessitam ter na implementação de um canal de denúncia passam por: (ey-integrity-report-pt-2021.pdf)
- Dê às pessoas a oportunidade de denunciar suspeitas de irregularidades, de boa-fé e faça com que se sintam seguras, estabelecendo que há protecção contra retaliação. E implemente canais de reporte de irregularidades anónimos e confidenciais;
- Reflexão e definição do Governance do canal;
- Capacitar uma equipa interna de apoio ao canal com formação avançada;
- Garantir o anonimato, a confidencialidade e a possibilidade da comunicação bidireccional entre a pessoa autora do reporte e a equipa de gestão do canal;
- Considerar diferentes geografias, culturas e idiomas caso exista operação noutros países;
- Reflectir uma eventual parceria com equipas externas para a gestão do canal para garantir a independência, expertise e acelerar o processo de triagem;
- Trabalhar a comunicação para disseminar mensagens que activem cognitivamente todas as pessoas a sentirem que são agentes activos de mudança na sua organização.
O desenvolvimento de uma agenda de integridade não protege apenas as empresas, evitando multas e penalidades. Ela também pode ajudá-las a prosperar financeiramente e oferecer valor a longo prazo aos seus accionistas. A integridade dos negócios permite que as organizações de sucesso permaneçam fiéis às suas missões, cumpram as suas promessas, respeitem as leis e normas éticas, promovam a confiança pública e aumentem a resiliência em tempos de crise. Isso, por sua vez, permite que acumulem capital, tanto financeiro quanto reputacional.
É essencial que as organizações coloquem a integridade no centro das suas operações. E a integridade é mais do que políticas escritas, é algo que todos devemos ter no nosso “ser”, como disse inicialmente, desde o conselho de administração até aos colaboradores mais juniores, parceiros de negócios e terceiros.