Economistas angolanos manifestaram-se cépticos quanto ao optimismo manifestado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre a economia do país, comunica o site Voz da América (VOA).
Na sua mais recente avaliação sobre a economia de Angola, o FMI estimou um crescimento económico, para este ano, na ordem dos 3,5%. Segundo a instituição, a economia recuperou em 2022, apoiada pela resiliência do sector não petrolífero e pelo aumento do petróleo no mercado internacional.
Os especialistas afirmam que a estatística é boa, mas o impacto prático destes números é nulo. Segundo o professor de economia e coordenador do Centro de Estudos e Investigação da Universidade Católica de Angola (CEIC), Alves da Rocha, os relatórios, tanto das organizações internacionais, como do FMI e do Banco Mundial, assentam muito em bases estatísticas, que nem sempre reflectem o que se passa na prática.
Alves da Rocha entende que o facto dos números apontarem para a diminuição do peso do PIB no sector petrolífero e para o aumento no peso na economia não significa que esta seja diversificada.
“Nós ainda temos problemas que são autênticos obstáculos a um verdadeiro crescimento mais intenso e inclusivo”, sublinhou. “A melhoria do ambiente de negócios tem a componente de alteração da mentalidade, da corrupção e da burocracia e, enquanto isto existir, os investidores privados não vão aderir à retoma do processo de crescimento da economia”, acrescentou Alves da Rocha.
O investigador e professor universitário não vislumbra grandes melhorias até 2035 como prevêem alguns.
“Este contexto dos 35 mil milhões de dólares de que precisamos para que, até 2035, possamos ir em direcção a uma economia verdadeiramente diversificada, onde os serviços preponderem na composição do PIB, nós não temos capacidade interna só com os empresários nacionais, para fazer este tipo de investimento. Terá, necessariamente, de vir do exterior”, destacou o especialista.
Já para o consultor económico angolano, Galvão Branco, as perspectivas positivas apontadas pelo FMI, por si só, são insuficientes.
“Para além deste crescimento não ser suficientemente robusto, ele é também dependente de um único produto – o petróleo”, disse concordando, no entanto, que este ano, existem, sim, “melhores expectativas, mas têm de ser acompanhadas de grandes investimentos, sobretudo na Educação”.