A Comissão Económica das Nações Unidas para África (UNECA) alertou esta terça-feira, 21 de Março, para as desigualdades sociais estarem a ameaçar tanto as melhorias sociais como a estabilidade no continente e apelou aos governos africanos para que implementem novos modelos de desenvolvimento.
“É cada vez mais improvável que os estados africanos alcancem muitas das metas estabelecidas nos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável até 2023”, disse Hanan Morsi, economista principal da UNECA, na 55.ª Conferência dos Ministros Africanos das Finanças, Planeamento e Desenvolvimento Económico em Adis Abeba.
“Os choques globais apagaram mais de duas décadas de progresso que o continente tem feito na redução da pobreza”, afirmou Hanan Morsi, acrescentando que “precisamos de intervenções sustentáveis”, referindo-se aos impactos económicos da pandemia do covid-19 e da guerra na Ucrânia.
Estes choques globais foram também agravados em África pelos impactos da crise climática, que resultaram no aumento da frequência e intensidade das catástrofes naturais, de acordo com Morsi.
Assim, os peritos em desenvolvimento da UNECA advertem que “a pobreza persistente e a desigualdade são susceptíveis de minar a prosperidade, a paz e a segurança em África, a menos que os governos adoptem modelos de desenvolvimento inovadores e participativos”.
De acordo com os dados compilados pela UNECA, a inflação em África foi de 12,3% em 2022 (muito superior à média global de 6,7%), fazendo com que as famílias do continente gastassem até 40% do seu rendimento em alimentos.
Nestas condições, 310 milhões de pessoas em África sofreram alguma forma de insegurança alimentar no ano passado (2022), incluindo seis milhões de africanos que enfrentam uma fome extrema.
“Cerca de 546 milhões de pessoas em África continuam a viver na pobreza, o que representa um aumento de 74% desde 1990”, salientou o economista da UNECA, recordando ainda que, de acordo com os estudos mais recentes, os países africanos com os mais altos níveis de pobreza são os lusófonos Guiné-Bissau e Moçambique, além do Burundi, Somália, Madagáscar, Sudão do Sul, República Centro-Africana, Maláui, República Democrática do Congo (RDCongo) e Zâmbia.
Em todos eles, entre 60% e 82 % das suas populações vivem abaixo do limiar da pobreza.
Albert Muchanga, comissário de Comércio e Indústria da UNECA, afirmou que uma crise iminente da dívida pública e a dependência dos países africanos de bens importados continua a agravar este cenário.
Em 2021, 39 países africanos eram importadores líquidos de produtos alimentares sendo que, no mesmo ano, o continente exportou produtos como o petróleo refinado no valor de 5,7 mil milhões de dólares e importou mais de 44 mil milhões de dólares.