O Instituto Superior de Transportes e Comunicações (ISUTC), em parceria com a Bolsa de Valores de Moçambique (BVM), introduziu, pela primeira vez em Moçambique, o curso de mercados de capitais com o objectivo de formar profissionais que lidam com esta área e muni-los de capacidade técnica para actuar no mercado.
A primeira edição, segundo os organizadores, foi um “sucesso” e, desta vez, perspectivam-se ganhos ainda maiores, principalmente em termos de participantes.
Em entrevista ao Diário Económico (DE), a directora do ISUTC Executive Education, Cheila Hoana, explicou com detalhes como foi a edição passada e o que se espera desta que está prestes a iniciar.
Qual é o balanço que faz da primeira edição do curso de introdução aos mercados de capitais?
O curso de introdução aos mercados de capitais realizado em 2022 foi um sucesso! Para uma primeira edição foi espantoso, ao ponto de não conseguirmos receber mais inscrições pela limitação do espaço físico, e não só, tendo em conta que, para uma formação, ter mais de 30 participantes não é pedagogicamente aceitável.
Fizemos uma dinâmica diferente em que a cada fecho de módulo aplicámos um inquérito de satisfação e, no feedback, os participantes mostravam-se muito satisfeitos.
Quantos alunos participaram na primeira edição e que tipo de alunos foram?
Além de vários colaboradores dos nossos parceiros Banco BIG e Bolsa de Valores de Moçambique (BVM), tivemos a participação das principais instituições financeiras de referência e de colaboradores de outras organizações relevantes do mercado, totalizando 27 participantes.
Tendo em conta que está prestes a iniciar a segunda edição, qual é a vossa expectativa, ao nível do número de formandos, módulos do curso e principais novidades relativamente ao anterior?
Para a segunda edição deste curso, esperamos 25 participantes em sala, a discutir, durante dez sessões, os problemas actuais de acesso ao financiamento e de que forma o mercado de capitais poderá ser uma solução. E desta vez, na vertente workshops, será apresentada a IPO (Inicial Public Offering) das acções da Tropigália, contando com o apoio do Banco BIG para este efeito.
Este tipo de formação é relativamente recente em Moçambique. O que conduziu a esta aposta por parte da vossa instituição? E quais os vossos parceiros e objectivos para este modelo que parece ter encontrado, no curto e médio prazo?
A formação executiva, no geral, é pouco explorada. As pessoas têm as suas formações de base, que são a licenciatura e, em alguns casos, mestrados e doutoramentos. Contudo, os desafios com que se deparam no mercado de trabalho exigem outras habilidades para atender aos problemas actuais e aprendizado constante. Por meio de formações de curta duração poderão proporcionar uma actualização que acompanha a dinâmica laboral.
Se formos a fundo, veremos que a maior parte dos problemas resolvem-se com formação. Se as pessoas não estiverem formadas, farão as coisas da forma como sempre fizeram e, se assim for, não haverá progresso. No caso concreto do curso de Introdução aos Mercados de Capitais, entendemos que os gestores enquanto responsáveis por decidir sobre as melhores alternativas de financiamento para as suas empresas podem não equacionar a hipótese de recorrer ao mercado de capitais justamente por não terem acesso às ferramentas que os possibilitem entender o valor, a importância e as vantagens que este mercado oferece. Logo, é nosso papel enquanto instituição de formação, junto com a BVM como parceira, fazer algo pelo nosso País, e o nosso contributo é através do desenho deste tipo de acção formativa.
A actividade crescente da BVM em Moçambique nos últimos anos, assim como um aumento generalizado do interesse do tecido económico no papel que a mesma pode desempenhar em prol da economia, é algo que, também para si, é visível. Como vê este crescimento de mercados de capitais e qual a sua importância?
É um facto que o mercado de capitais desempenha um papel crucial para o crescimento económico de um País e são essenciais para uma economia saudável. Sabendo que temos as 100 maiores empresas nacionais, que contribuem significativamente para a economia moçambicana, a participar deste mercado é fundamental. É expectável sairmos dos actuais 15% da participação destas para, pelo menos, 50%.
Não é algo fácil, mas com uma maior consciencialização é possível. A Bolsa assim como o Instituto Superior de Transportes e Comunicações (ISUTC) entendem que a formação nestas matérias de mercados de capitais é o caminho para se chegar aos níveis desejados. No caso concreto, em que temos uma bolsa de valores que tem feito mais do que o seu papel enquanto bolsa – através das acções que tem desencadeado para aumentar o número de empresas cotadas, nomeadamente na difusão das vantagens e pertinência de aceder à bolsa, apoio às empresas que não reúnem os requisitos para serem cotadas, mas que têm um grande potencial e podem, sim, contribuir para a dinamização da economia –, esta abertura e apoio tornam o mercado de capitais mais estruturado para suprir as necessidades de investimento dos agentes económicos.
Como vê a evolução deste tipo de formação no futuro?
Tencionamos continuar com o forte compromisso de fornecer educação executiva da mais alta qualidade, melhorando em todos os aspectos, e garantir que a nossa oferta atenda às necessidades do mercado, proporcionando uma evolução do conhecimento e contribuindo para o desenvolvimento económico e social do País.
Temos um plano ambicioso e queremos sempre inovar. O quadro de formadores é excelente, e as parcerias que temos e as que tencionamos firmar propiciam a que tenhamos sempre temas actuais, com mais dinâmica, mais objectividade e, acima de tudo, que agreguemos valor.