A capacidade de Moçambique para continuar a servir a dívida depende da retoma do projecto de gás natural liquefeito da TotalEnergies, avaliado em 20 mil milhões de dólares, de acordo com uma análise da S&P Global Ratings, citada pela Bloomberg, esta quinta-feira, 2 de Março.
O projecto, outrora considerado como o maior investimento privado de África, foi interrompido em 2021 na sequência de ataques terroristas do Estado Islâmico, no norte de Moçambique. No entanto, o progresso na contenção da onda de violência levou à especulação de que o trabalho poderá ser retomado nos próximos meses, mas a TotalEnergies ainda não tomou uma decisão.
O director-executivo da petrolífera francesa, Patrick Pouyanne, assegurou em Fevereiro que não tinha pressa em recomeçar. Contudo, Moçambique debate-se com pagamentos de dívidas crescentes que poderiam ser difíceis de satisfazer sem as receitas provenientes do projecto.
Os pagamentos anuais dos empréstimos obrigacionistas de Moçambique de 900 milhões de dólares vão passar de 5% para 9% no próximo ano. Segundo a S&P Global Ratings, os principais pagamentos de 225 milhões de dólares começam a partir de 2028.
“É realmente crítico que estes projectos de gás entrem em linha e que possam gerar as receitas”, disse Leon Bezuidenhout, analista da S&P, numa entrevista na semana passada. “Mesmo agora, ainda há custos de serviço da dívida bastante elevados antes do aumento dos pagamentos destas euro-obrigações”.
Situação de Segurança
A presença de tropas estrangeiras do Ruanda e um destacamento separado da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral ajudaram a melhorar a situação de segurança na província de Cabo Delgado, onde está localizado o projecto Moçambique LNG.
Ainda assim, as incursões frequentes realizadas na sua maioria por pequenos grupos de insurgentes continuam, uma vez que estes conseguem escapar às autoridades em áreas densamente florestadas. O conflito já provocou mais de 4000 mortes (dados do The Armed Conflict Location & Event Data Project) e pelo menos um milhão de deslocados, de acordo com um balanço feito pelas autoridades moçambicanas.
As euro-obrigações de Moçambique caíram 0,8% para 75,2 cêntimos para o dólar em Londres na quarta-feira, o nível mais baixo desde 9 de Dezembro. A S&P avalia as notas no CCC+.
Aposta de gás
A TotalEnergies está a investir milhares de milhões em Moçambique. O projecto de gás da empresa situa-se, como sabemos, na Área 1 da bacia do Rovuma, província de Cabo Delgado.
O Fundo Monetário Internacional concordou, no ano passado, com um pacote de apoio de 456 milhões de dólares após um interregno de seis anos, desbloqueando ainda mais verbas de outros credores concessionais, incluindo o Banco Mundial.
Este facto proporciona um amortecedor. Para o FMI, a dívida de Moçambique é sustentável mesmo sem as receitas do projecto da TotalEnergies. Em Novembro, o País exportou a sua primeira carga de GNL a partir de uma plataforma de produção flutuante muito mais pequena que a Eni SpA construiu, mas essas receitas não cobrirão os pagamentos da dívida, de acordo com Samira Mensah, analista de crédito sénior da S&P.
Regresso gradual
Por outro lado, pelo menos um fornecedor do projecto está optimista quanto ao trabalho começar gradualmente. Alessandro Puliti, CEO da Saipem, que tem um contrato para o projecto Moçambique GNL, disse aos investidores no mês passado que vê um regresso gradual a partir de Julho.
No entanto, em Fevereiro, o CEO da TotalEnergies, Patrick Pouyanne, garantiu que tomaria a decisão de regressar após um relatório de peritos sobre a situação de segurança que deveria ter sido apresentado no final do mês passado.
Entretanto, a invasão russa da Ucrânia fez com que os mercados globais de gás natural sofressem um aumento em termos de procura, originando também uma maior procura por abastecimentos alternativos por parte dos compradores europeus.
“Com as tensões geopolíticas em torno da Ucrânia, toda a gente quer o GNL e a Rússia está um pouco fora da equação”, disse Ravi Bhatia, director para África da S&P, numa entrevista.
Discussion about this post