José Júnior, responsável pelo projecto de reciclagem implementado pela organização não-governamental (ONG) portuguesa Oikos, apoiado pelo Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, apresentou este sábado, 25 de Fevereiro, maquinaria especializada que transforma os plásticos para nascerem mosaicos, azulejos e blocos.
“Aqui limpamos, separamos os plásticos e tentamos produzir novas peças”, explica José Júnior.
Segundo a agência Lusa, a maquinaria especializada tritura e molda os plásticos para nascerem mosaicos, azulejos, blocos e outras peças que uma equipa de jovens da ilha aperfeiçoa a cada dia, procurando agora compradores para tornar a oficina auto-sustentável.
A palavra espalha-se e faz com que crianças apareçam na oficina com um punhado de plásticos para vender. Neste sábado foi Momade Mularanja, um dos operadores de reciclagem, a avaliar os resíduos e a entregar 20 meticais (pouco menos de 50 cêntimos de euro).
“É sinal de que a população se está a apropriar da ideia” de que o plástico pode ser valorizado se for retirado do meio-ambiente e reciclado, refere José Júnior.
“Há muita coisa de plástico aí no mercado. Embalagens de massa, açúcar, bolachas” e muitas crianças a espalhá-las, queixa-se Berta Eusébio, técnica de salubridade do município da ilha de Moçambique que quer travar o risco de “o plástico poder ir ter a outro continente”.
É um processo que “vai levar tempo”, mas José Júnior acredita que se a solução nascer na comunidade, será mais fácil “mobilizar a população para uma acção cívica” em que o lixo deixa de ir para o chão e passa a ser reciclado “sem ser uma ameaça para os oceanos”.
A acção da oficina encaixa-se numa estratégia de preservação dos recursos do mar que inclui projectos junto das comunidades (com apoio do Camões e da Blue Ventures Conservation) para pôr fim à pesca desenfreada, actividade tão voraz que hoje há barcos “que regressam a terra sem nada”, conta Dane de Almeida, um dos elementos de ligação da Oikos às comunidades, responsável pela área de conservação marinha.
Os projectos estão “a tentar ajudar as comunidades a recuperar os recursos pesqueiros que estão a desaparecer” através de medidas de gestão que elas próprias implementam.
Atravessa-se o trecho de mar que separa a ilha do continente para chegar a Cabaceira Pequena, aldeia piscatória onde foi constituído um conselho de gestão local, que está reunido com as autoridades marítimas debaixo de uma das maiores árvores da povoação.
As condições de vida são precárias e discute-se a preservação da maior riqueza, a pesca.
Em debate está a instauração de zonas de veda, áreas demarcadas com bóias, onde não se pode pescar durante determinado período para permitir que os peixes se reproduzam, em vez de desaparecerem.
“A mensagem que tentamos passar é que não se podem tirar os peixes pequeninos”, diz Fátima Momade, activista comunitária que, tal como o resto da equipa, reconhece que a mudança de comportamentos leva tempo.
Ossumane Abudu, chefe do conselho comunitário de pesca, desce até à praia e aproxima-se da última embarcação do dia a chegar à Cabaceira: traz tainha e peixe-coelho, que é pesado e vendido logo ali na praia.
Antes de regressar a casa, faz-se ao mar para, a poucos quilómetros, verificar a colocação das bóias que marcam uma das zonas de veda, onde espera que ninguém pesque nos próximos meses.
“Criámos isto no ano passado e deu resultado porque os peixes que tinham desaparecido voltaram. Então, este ano queremos fazer isso de novo”, com regulamento e multas para quem transgredir, conta à Lusa.