No último dia da 4.ª edição da Semana das Fintech – Mozambique Fintech Week 2023 debateu-se a transição para o ecossistema digital na área dos seguros, por forma a acompanhar a transformação que se tem vindo a verificar neste segmento, de forma global, e reforçar a competitividade das empresas do sector a nível interno, beneficiando os clientes de acesso mais ágil e eficaz a todo o tipo de (novos) serviços, um passo “determinante” para concluir o processo de inclusão financeira em Moçambique.
O conceito de “digital” é, de há tempos para cá, e de forma cada vez mais acelerada, uma das prorrogativas para pessoas e organizações que pretendam ser cada vez mais eficientes, sendo fundamental para as empresas terem em conta a transformação digital.
De acordo com Francelina Sitoe, directora do Instituto de Supervisão de Seguros de Moçambique (ISSM), é preciso “entender exactamente o que significa essa transformação, qual o seu impacto na sociedade e como aplicá-la nos processos de negócio”. Para o efeito, a questão que se deve colocar, para a responsável é: “quanto vai custar a digitalização, ao invés de se se deve ou não digitalizar”, assinala.
Neste último dia de conferência, evidenciou-se que as empresas constituídas antes do surgimento da Internet enfrentam actualmente um grande desafio: muitas das regras que orientavam o progresso dos negócios na era pré-digital não se aplicam mais. Neste sentido, os painelistas concordaram que as empresas ‘agarradas ao papel’ são obsoletas e que esta visão tradicionalista inviabiliza o acesso, agilidade e mobilidade.
Francelina Sitoe notou que a transformação digital “começa por ser um processo de mudança de mentalidade nas empresas que passam a usar a tecnologia para cumprir o objectivo de se tornarem mais modernas, melhorarem os seus desempenhos, aumentarem o alcance de mercado e ampliarem os avanços tecnológicos com impacto no desenvolvimento e crescimento do país. “Por outras palavras, ela muda radicalmente as organizações e garante-lhes lugar no futuro”, complementa.
Trata-se de uma mudança na estrutura das organizações, a partir da qual a tecnologia passa a ter um papel estratégico central e não apenas uma presença superficial. Um processo que leva tempo e consome recursos, sendo por isso vital, na visão de Tauanda Chare, fundador da insurtech MóvelCare, apostar nas infra-estruturas. “São elas que nos indicam o real investimento que está a ser feito no desenvolvimento tecnológico, ilustrando assim o crescimento efectivo das economias”, completou.
Francelina Sitoe reforçou esta premissa, reiterando que, “sem digitalização, não há progresso e, para tal, temos de abraçar a inovação e colocar todos os sectores no ecossistema digital, por forma a atrair novos clientes, sob pena de ser perder peso competitivo no mercado”.
Tauanda Chare evidenciou, por sua vez, que “este é o momento certo para fazer ofertas com recurso ao dinheiro móvel, sem descurar a comunidade rural, criando serviços digitais que não se centram apenas em ganhos financeiros, mas na transformação social e na melhoria dos serviços”. Daí a ideia de criação de cada vez mais plataformas sem depender da Internet e que possam funcionar através de qualquer telemóvel ou computador, com o intuito de aproximar a população rural a serviços financeiros como seguros.
O jovem empreendedor notou ainda que para se assistir a uma efectiva inclusão financeira, é fundamental investir-se na educação para combater “a falta de conhecimento sobre o acesso a serviços financeiros, em especial os seguros digitais”. Estes últimos, prossegue, “são parte crucial da inclusão financeira. A falta de instrução financeira compromete o desenvolvimento digital, financeiro e do próprio País e deveria dar-se prioridade a este tema de forma global”.
Sobre recomendações para aumentar a usabilidade de seguro digital, Francelina Sitoe sugeriu “aprovar-se um regulamento específico para o seguro digital na próxima revisão da legislação”, enquanto Tauanda Chare reforçou a necessidade de “parcerias entre as entidades reguladoras e seguradoras, com a criação de uma plataforma KYC por forma que agilize processos e diminua riscos e crimes financeiros”.
FINTECH apresentam soluções
Na recta final do último dia da 4.ª edição da Semana das Fintech as cinco empresas a concurso do Fintech.MZ Innovation Awards’23 apresentaram igualmente algumas das suas soluções tecnológicas.
A Tablu Tech mostrou os benefícios da MoDI, solução de e-KYC que permite que a documentação do cliente seja validada e partilhada de forma segura e privada entre instituições financeiras.
Já a Nidjula explicou como está a desenvolver um Serviço de Identidade Digital facilitando a realização do processo KYC/CDD de forma segura, rápida e eficaz. No caso do StockPro, trouxe um software de gestão que tem como objectivo ajudar as PME a aumentar a sua produtividade e eficiência por meio da automação.
Adicionalmente, o foco principal da Kamaleon é contribuir para a redução da exclusão digital, melhorar a qualidade da formação e capacitar as comunidades rurais com infra-estruturas digitais móveis alimentadas por painéis solares, tendo para isso criado o Tablet Comunitário.
Por último, a SmartRisk apresentou a sua plataforma de inclusão financeira dedicada a microcréditos, garantindo a partilha de informações de status de crédito e o histórico de um mutuário de forma simples, rápida e em segurança.
E o vencedor da segunda edição dos “Fintech.Mz Innovation Awards” é…
E a fechar uma semana repleta de debate, inovação e soluções que prometem servir de alavanca ao desenvolvimento dos serviços financeiros digitais em Moçambique, na segunda edição dos “Fintech.Mz Innovation Awards” o grande vencedor da edição deste ano foi a solução MoDI, desenvolvida pela Tablutech.