Um ataque armado contra transportes públicos numa estrada em Cabo Delgado, Norte de Moçambique, matou no sábado, 4 de Fevereiro, um motorista da Médicos Sem Fronteiras (MSF), anunciou a organização humanitária em comunicado e relataram à Lusa familiares de passageiros.
“Durante um ataque na estrada entre Macomia e Pemba, perto de Mitambo, um funcionário da MSF foi ferido quando viajava durante o seu dia de folga em transportes públicos para visitar a sua família em Pemba”, descreveu a organização humanitária.
Foi o segundo ataque do género, na mesma zona da Estrada Nacional 380 (N380, uma das principais da região), em três dias.
A vítima acabaria por morrer “poucas horas depois, enquanto recebia cuidados médicos, deixando para trás a sua mulher e cinco filhos”, acrescentou.
O ataque armado com disparos de armas de fogo e saque de bens culminou com duas viaturas de transporte queimadas e pelo menos mais duas pessoas feridas, descreveram à Lusa familiares de passageiros.
Houve sobreviventes que fugiram a pé para povoações nas redondezas.
“A província de Cabo Delgado está assolada por um conflito desde 2017 que aterroriza as populações“
“Já confirmei [o ataque] junto de parentes [na aldeia 19 de Outubro], mas não estou sossegada porque familiares meus saíram de Macomia para Pemba e não tenho notícias deles”, lamentou uma idosa de 69 anos a partir de Macomia.
Federica Nogarotto, chefe de missão da MSF em Moçambique, lamentou a morte e destacou os riscos em que incorre quem presta apoio à população no Norte do País.
“Hoje estamos de luto. Perdemos um colega que, como todos os funcionários, estava totalmente empenhado em ajudar famílias deslocadas, muitas vezes enfrentando riscos significativos”, referiu.
A organização diz estar “alarmada com a violência contínua no Norte de Moçambique” e com os “ataques indiscriminados que matam e ferem civis em Cabo Delgado regularmente”.
Na quarta-feira, um grupo armado matou pelo menos duas pessoas (fontes que estiveram no local indicam, sem precisar, que o número deverá ser maior) e feriu outras na mesma zona, num outro ataque contra viaturas que incluíam transportes públicos, relataram fontes locais.
“O conflito já provocou mais de 4000 mortes e pelo menos um milhão de deslocados”
As incursões acontecem numa altura em que as forças moçambicanas lançaram a operação Vulcão IV, que cobre uma parte dos distritos de Macomia e Muidumbe, visando eliminar esconderijos dos rebeldes.
A Médicos Sem Fronteiras desenvolve actividades em Cabo Delgado desde 2019, incluindo cuidados primários de saúde, saúde mental e apoio psicossocial e distribuição de bens essenciais.
A província de Cabo Delgado está assolada por um conflito desde 2017 que aterroriza as populações. Grupos de rebeldes armados têm pilhado e massacrado aldeias e vilas um pouco por toda a província e uma variedade de ataques foi reivindicada pelo ‘braço’ do auto-proclamado Estado Islâmico naquela região.
O conflito já provocou mais de 4000 mortes (dados do The Armed Conflict Location & Event Data Project) e pelo menos um milhão de deslocados, de acordo com um balanço feito pelas autoridades moçambicanas.
Desde Julho de 2022 que uma ofensiva militar de Maputo, com apoio do Ruanda, e posteriormente da SADC, possibilitou um clima de maior segurança na região que não era sentido há anos, e recuperou localidades que estavam controladas pelos rebeldes, como a vila de Mocímboa da Praia, ocupada desde 2020.
Discussion about this post