A TotalEnergies anunciou, esta sexta feira, 3 de Fevereiro, a nomeação de um especialista em direitos humanos para avaliar a situação em Cabo Delgado e decidir se há condições para retomar o projecto de exploração de gás que se estava a construir na região. Decisão sobre fim da ‘força maior’ está prevista para o final deste mês.
“Durante esta visita, Patrick Pouyanné disse ter confiado a Jean-Christophe Rufin”, médico, escritor e diplomata falante de português, reconhecido “especialista em acção humanitária e direitos humanos”, uma missão independente para avaliar a situação humanitária na província de Cabo Delgado”, lê-se num comunicado.
A missão vai avaliar também “as acções tomadas pelo Mozambique LNG”, o consórcio liderado pela Total, e deverá propor “acções adicionais a serem implementadas, se necessário”.
“O relatório desta missão será entregue no final de Fevereiro e as suas conclusões serão partilhadas com todos os parceiros do Mozambique LNG, que decidirão se estão reunidas as condições para retomar as actividades do projecto”, refere-se na nota.
O perímetro industrial em construção em Palma para liquefacção de gás natural da bacia do Rovuma é o maior investimento privado em África, suspenso desde Março de 2021, após um ataque armado por insurgentes que aterrorizam a região há cinco anos.
“Desde 2021, a situação na província de Cabo Delgado melhorou significativamente, graças, em particular, ao apoio prestado pelos países africanos que se comprometeram a restabelecer a paz e a segurança”, disse hoje Patrick Pouyanné.
O líder da TotalEnergies referiu que “o reinício das actividades exige o restabelecimento da segurança na região, a retoma dos serviços públicos e o regresso à vida normal das populações da região”.
“A missão confiada a Jean-Christophe Rufin deverá permitir aos parceiros do Mozambique LNG avaliar se a situação actual permite o reinício das actividades no respeito pelos direitos humanos”, concluiu.
Como médico, escritor e diplomata, o especialista escolhido já desempenhou diversas funções.
Em representação do Estado francês, Rufin foi adido cultural e de cooperação no Brasil no final dos anos 1980 e década de 90, país sobre o qual escreveu no romance “Rouge Brésil” (“Vermelho Brasil”), de 2001.
No âmbito da acção humanitária, como médico, esteve em missões desde 1977 à Nicarágua, Eritreia, Sudão e Filipinas, tendo sido vice-presidente da organização Médicos Sem Fronteiras (1991-92) e presidente da Acção Contra a Fome (2003-2006).
A província de Cabo Delgado enfrenta há cinco anos uma insurgência armada com ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
A insurgência levou a uma resposta militar desde Julho de 2021 com apoio do Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projectos de gás, mas surgiram novas vagas de ataques a sul da região e na vizinha província de Nampula.
O conflito já fez um milhão de deslocados, de acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), e cerca de 4000 mortes, segundo o projecto de registo de conflitos ACLED.
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