O crescimento económico de África deverá superar o do resto do mundo nos próximos dois anos, com o Produto Interno Bruto (PIB) real a rondar, em média, os 4% em 2023 e 2024. O dado é superior às médias globais projectadas de 2,7% e 3,2%, conforme revela o Grupo Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) no relatório sobre o Desempenho e Perspectivas Macroeconómicas para a região, divulgado em Abidjan, na última quinta-feira, 19 de Janeiro.
Com uma análise abrangente do crescimento regional, o relatório mostra que todas as cinco regiões do continente permanecem resilientes, com uma perspectiva estável a médio prazo, apesar de enfrentarem ventos contrários significativos devido a choques socioeconómicos globais. Também identifica riscos potenciais e apela a medidas monetárias e fiscais robustas, apoiadas por políticas estruturais para os enfrentar.
O relatório sobre o Desempenho e Perspectivas Macroeconómicas será divulgado no primeiro e terceiro trimestres de cada ano, complementando o actual Relatório Anual do Banco sobre as Perspectivas Económicas Africanas, que se centra em temas políticos emergentes relevantes para o desenvolvimento do continente.
O documento mostra que o crescimento médio estimado do PIB real em África abrandou para 3,8% em 2022, de 4,8% em 2021, num contexto marcado por desafios significativos na sequência do choque do covid-19 e da invasão russa da Ucrânia. Apesar da desaceleração económica, 53 dos 54 países africanos registaram um crescimento positivo. Todas as cinco regiões do continente permanecem resilientes, com uma perspectiva estável a médio prazo.
No entanto, o relatório envia uma nota cautelosa sobre as perspectivas, no seguimento dos actuais riscos globais e regionais, que incluem o aumento dos preços dos alimentos e da energia, o aperto das condições financeiras globais e o aumento associado dos custos do serviço da dívida interna. As alterações climáticas, com o seu impacto prejudicial no fornecimento interno de alimentos e o risco potencial de inversão de políticas em países que realizam eleições em 2023, representam ameaças igualmente desafiantes.
Falando durante o lançamento do documento, o presidente do Grupo Banco Africano de Desenvolvimento, Akinwumi Adesina, afirmou que esta a apresentação desta primeira edição ocorre numa altura em que as economias africanas enfrentam ventos contrários significativos, à medida que choques globais e domésticos minam o progresso.
“Com 54 países em diferentes fases de crescimento, diferentes estruturas económicas e dotações variadas de recursos, os efeitos de repercussão dos choques globais são sempre diferentes por região e por país. O abrandamento da procura global, condições financeiras mais restritivas e cadeias de abastecimento perturbadas tiveram, portanto, impactos diferenciados nas economias africanas”, disse Akinwumi Adesina.
“Apesar da confluência de choques múltiplos, o crescimento nas cinco regiões africanas foi positivo em 2022 e prevê-se que as perspectivas para 2023-24 sejam estáveis”, acrescentou.
As cinco economias com melhor desempenho antes do covid-19 em África deverão crescer, em média, mais de 5,5% em 2023 e 2024, recuperando a sua posição entre as dez economias de crescimento mais rápido do mundo. Estes países são o Ruanda (7,9%), a Costa do Marfim (7,1%), o Benim (6,4%), a Etiópia (6,0%) e a Tanzânia (5,6%).
Outros países africanos estão projectados para crescer mais de 5,5% no período de 2023 a 2024. São eles a República Democrática do Congo (6,8%), a Gâmbia (6,4%), a Líbia (12,9%), Moçambique (6,5%), o Níger (9,6%), o Senegal (9,4%) e o Togo (6,3%).
No lançamento do relatório, o economista Jeffrey Sachs, director do Centro para o Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Colúmbia, disse que as economias africanas estão a crescer consistentemente: “África pode e irá aumentar para um crescimento de 7% ou mais por ano de forma consistente nas próximas décadas e veremos, com base na resiliência explanada neste relatório, uma aceleração real do desenvolvimento sustentável do continente, para que seja a parte da economia mundial em mais rápido crescimento”, apontou, concluindo que “África é o lugar para investir”.
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