O director para a Integração Regional e Comércio na Comissão Económica das Nações Unidas para África (UNECA), Stephen Karingi, defendeu na última quinta-feira, 26 de Janeiro, que o sector privado é fundamental para garantir a implementação do acordo de livre comércio no continente.
“O sector privado africano representa 80% da produção total, dois terços do investimento, e três quartos do crédito, e emprega 90% da população em idade activa”, disse Stephen Karingi, que falava à margem da abertura de um ‘Diálogo para a Prosperidade em África’, em Acra, capital do Gana.
Até 2045, de acordo com os cálculos da UNECA, o comércio intra-africano nos sectores agro-alimentar, industrial e de serviços aumentará em quase 35%, quando comparado com a evolução prevista sem o acordo de livre comércio no continente (AfCFTA, na sigla em inglês).
O encontro no Gana foi aberto oficialmente pelo vice-presidente do país, Mahamudu Bawumia, que afirmou que África tinha as condições para se desenvolver e industrializar.
“Temos tudo o que precisamos para transformar África numa potência global do futuro, e o AfCFTA preparou o cenário para a industrialização do continente”, anunciou o governante, citado num comunicado enviado à Lusa.
Intervindo no encontro, a secretária-geral adjunta do director para África do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Ahunna Eziakonwa, afirmou que “é através do AfCTA que iremos industrializar o continente e criar, em vez de exportar empregos”, salientando que, “uma África que produz as necessidades do seu povo não é apenas a África que queremos, é a África que precisamos”.
Apesar da assunção da necessidade de sucesso do AfCFTA, Stephen Karingin reconheceu que o sector privado africano, do qual 90% são Pequenas e Médias Empresas (PME), enfrenta desafios na condução do comércio transfronteiriço devido a barreiras não pautais, como procedimentos aduaneiros complexos, falta de acesso ao financiamento, elevados custos de transporte e logística, e falta de acesso à informação, para além da excessiva dependência das importações de produtos essenciais, que expõem o continente a choques externos, como a pandemia do covid-19 e a guerra entre a Rússia e a Ucrânia.
“Quando o covid atacou, os países africanos foram confrontados com a falta de acesso a produtos médicos básicos porque África importa mais de 90% dos seus produtos; quando a crise Rússia-Ucrânia surgiu, vários países africanos enfrentaram uma crise de segurança alimentar porque as exportações de trigo e milho da Rússia e da Ucrânia foram suspensas“, lamentou Stephen Karingi.
O acordo de livre comércio em África entrou em vigor no princípio de 2021, depois de um adiamento devido à pandemia, e criou o maior bloco regional de livre comércio do mundo, abarcando já 43 países africanos que se comprometeram a reduzir ou eliminar as barreiras alfandegárias e potenciar o comércio intra-africano.
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