Economistas ouvidos pelo DE consideram que as novas medidas anunciadas pelo Banco de Moçambique (BdM) vão ajudar a controlar a inflação. No entanto, prevê-se algum sufoco da economia devido ao encarecimento do dinheiro e escassez de divisas.
A reacção surge em virtude da decisão tomada nesta quarta-feira, 25 de Janeiro, pelo Comité de Política Monetária (CPMO) do BdM em manter a taxa de juro de política monetária (MIMO) em 17,25%, e aumentar os Coeficientes de Reservas Obrigatórias para os passivos em moeda nacional de 10,5% para 28%, e em moeda estrangeira de 11,5% para 28,5%.
Ao Diário Económico, o economista Egas Daniel, do IGC – Mozambique (International Growth Center), afirma que, do ponto de vista do impacto na restrição da oferta da moeda para o País, as medidas têm o mesmo efeito, “porque quando o BdM aumenta a taxa de reservas obrigatórias está a dizer que os bancos são obrigados a deixar mais dinheiro nos seus cofres do que disponibilizá-lo para o mercado para poder financiar a economia”.
“As medidas restritivas reduzem a capacidade de crédito dos bancos comerciais, ou seja, reduz-se a liquidez ou o crédito necessário para financiar a economia”, esclareceu Egas Daniel, para depois acrescentar que “ficamos sem ter a certeza se o custo de restringir o financiamento à economia não será maior do que os benefícios de conter os riscos inflacionários. Digamos, então, que a vantagem está em conseguir-se controlar a inflação, mas a desvantagem é que a economia fica sufocada sob o ponto de vista de necessidade de financiamento para a sua recuperação”.
Partilhando da mesma posição, o economista e académico Elcídio Bachita entende que “os bancos comerciais ficam com pouca liquidez para disponibilizar ao sector produtivo e, por via disso, o custo do dinheiro vai aumentar, o que irá retrair o sector privado, podendo provocar uma redução na produção e produtividade das empresas devido ao aumento do preço do factor de produção”.
Para Elcídio Bachita, as medidas restritivas do BdM podem, certamente, contribuir para alguma contracção da actividade económica. “As medidas monetárias tomadas não têm sido muito eficazes para garantir uma maior estabilidade de preços, uma vez que devem ser acompanhadas por uma política fiscal mais coesa para surtir os efeitos desejados”, disse.
Por sua vez, a economista e pesquisadora do Centro de Integridade Pública (CIP), Estrela Charles, olha para as medidas do Banco Central como “um certo desespero” para resolver o problema da inflação. Na óptica da pesquisadora, “numa economia como a nossa, onde boa parte dos produtos é importada, temos muito pouco espaço de manobra para poder tentar influenciar de forma rápida, em curtíssimo prazo, a questão da inflação”.
“Outra questão é a proporção do aumento. Este incremento (Coeficientes de Reservas Obrigatórias) quase que dobrou, sendo que o BdM poderia fazer os aumentos de forma paulatina para evitar grandes distorções. Depois, no curto prazo, poderemos ter escassez de divisas, porque o que a instituição está a fazer é praticamente recolher os dólares que existem na economia, o que vai provocar escassez desta moeda e poderá mexer com a taxa de câmbio”, assinalou Estrela Charles.
Já o economista da CTA, Samo Dique, considerou que “esta decisão foi motivada por uma tentativa de antecipar qualquer inversão na trajectória recente que a inflação tem vindo a registar e, de certa forma, conferir ao Banco Central maior espaço de gestão dos próximos movimentos na taxa MIMO, evitando-se assim os choques como os que tivemos em 2022 em que, por duas vezes, aquela subiu 200 pontos bases, tendo terminado o ano em 17,25% contra 13,25% de 2021”.