O Grupo Visabeira, presente em Moçambique há várias décadas, com investimentos em sectores que vão desde a construção à energia, passando pelo turismo, telecomunicações e imobiliário, assenta a sua estratégia no evoluir das necessidades do mercado. À E&M, o novo CEO da Visabeira Global, em Moçambique, Pedro André de Sousa, fala sobre o presente e o futuro a breve prazo de um grupo empresarial com história no País
A Visabeira é um grupo empresarial português com negócios na área das telecomunicações, turismo, construção, energia ou logística em vários mercados e com mais de 40 anos de existência.
Com um volume de facturação a chegar, em 2021, à casa dos mil milhões de euros, conta actualmente com uma carteira de investimentos que se expande bem para lá das fronteiras portuguesas, dos EUA a Inglaterra, passando por África, estando presente de forma directa em 17 mercados.
A Moçambique, chegou em finais da década de 80 do século passado, quando começou com a Televisa, por muitos anos o seu maior negócio (e ainda hoje está no Top 3).
Quando começou a operar, fazia apenas a manutenção da infra-estrutura de rede fixa, mas as tecnologias mudaram e, neste momento, está já a completar a instalação da rede 4G em todo o País.
Um dos grandes impulsos à sua actividade deu-se com a ‘explosão’ da rede móvel, que permitiu à Visabeira assumir o negócio da implementação de torres de telecomunicações e redes de fibra óptica. De então para cá, abraçou novas áreas de negócio, como a das renováveis, turismo e imobiliário, e não irá ficar por aqui. Pedro André de Sousa explica à E&M por onde pode passar o futuro.
A evolução da presença da Visabeira em Moçambique confunde-se um pouco com o desenvolvimento do próprio País, concorda com esta visão?
O Grupo está presente em Moçambique desde o final da década de 80 do século passado, naquele que é o seu principal negócio, ou seja, na área da engenharia e infra-estruturas de redes de telecomunicações, através das empresas Televisa e TvCabo.
A Televisa, que foi criada em parceria com a antiga empresa pública Telecomunicações de Moçambique (TDM), começou exactamente por ter a TDM como principal cliente, mas hoje é uma empresa que trabalha com diferentes operadores e tem vindo a reforçar a sua posição de líder na expansão da rede de fibra óptica e no projecto de cobertura 4G, que continua a ser implementado em todo o território nacional.
Nesta área, devo assinalar o papel de especial importância da TV Cabo Moçambique, uma empresa pioneira no continente africano, assumindo a inovação tecnológica e a qualidade dos seus serviços. Na área da construção de infra-estruturas, a Sogitel e a Edivisa são empresas de referência que operam neste segmento bem como na execução de empreitadas de construção civil e infra-estruturas e comércio e serviços.
O destaque é também para a Mercury, empresa de trading, que se dedica à importação e comercialização de um alargado leque de mercadorias, entre os quais os produtos utilizados pelo próprio Grupo Visabeira. E depois temos também uma experiência forte no sector imobiliário, sobretudo através da Imovisa. Olhamos igualmente para as energias, uma outra importante área de actividade em Moçambique, em que actuamos através da Electrotec, uma parceria com competências e capacidades para operar nas infra-estruturas de electricidade ao longo de todo o território moçambicano.
O turismo é uma das apostas do País e, como disse, a Visabeira está a investir neste segmento do seu negócio, de que é exemplo a inauguração recente do Milibangalala, na zona Sul. Este investimento em unidades turísticas para um segmento elevado é para continuar?
O turismo é uma área em que o Grupo aposta, mas apesar de ser talvez a área que nos dá maior notoriedade não é, ainda assim, o nosso principal negócio. É um sector que acreditamos ter muito potencial em Moçambique, mas cujo investimento será ajustado em função das exigências do mercado.
“Temos vindo a crescer muito no imobiliário. Com a empresa Sogitel, trabalhamos em obras de referência como construção de hospitais, escritórios e residências particulares”
Neste momento, depois da inauguração e de uma excelente aceitação por parte da generalidade dos clientes que nos visitaram em Milibangalala, estamos a investir um pouco mais nesse resort para o dotar de um maior espaço de conferências e maior capacidade de alojamento, respondendo às necessidades apresentadas pelo mercado. Esta continuação do investimento no Milibangalala tem de ser executada sem interferir no ambiente do resort, por isso, é um investimento que se vai prolongar até ao início de 2023. É um sector (o turismo) que acreditamos ter muito potencial no País, mas cujo investimento, nomeadamente em novas unidades, será ajustado exactamente em função das exigências do mercado.
Em relação à área de energia, o foco tem maior incidência sobre a rede eléctrica ou está a ter em conta também as renováveis?
Já tivemos projectos de renováveis, mas a esse nível temos pouca experiência. Neste momento, o nosso maior trabalho está na expansão da rede eléctrica, estamos também atentos aos projectos de geração de energia enquanto empreiteiros e em projectos nossos.
Associado ao crescimento do País temos o projecto “Energy for All” que trouxe muito trabalho para Moçambique. Temos um veículo, a Electrotec, que tem estado a crescer bastante nos últimos anos neste segmento. No período do covid-19, em que muitos negócios travaram, a electricidade continuava a crescer e os nossos negócios nesse mercado ganharam uma importância significativa, algo que aconteceu também nas telecomunicações e na TV Cabo que tiveram, nessa altura, um grande crescimento.
Quais são, actualmente, os principais projectos da Visabeira no País?
Temos vindo a crescer muito na construção e no real estate. Com a Sogitel, trabalhamos em obras de referência como construção de hospitais, escritórios, residências particulares e nos nossos próprios investimentos.
Temos como exemplos de clientes o Milibangalala, a que já me referi, no qual foi tudo feito por nós, desde a arquitectura, engenharia até à própria construção. Mas fizemos recentemente a ampliação do Instituto de Coração (ICOR) em Maputo, e estamos a trabalhar na construção de um centro de formação e de um hospital na cidade da Beira.
A Imovisa, nossa empresa no ramo da construção, estabeleceu uma parceria com o Banco de Moçambique e, de uma maneira geral, a construção fica como um negócio complementar às telecomunicações.
Depois, somos importadores e representamos algumas marcas de vinho. Os projectos de turismo têm impacto, quer do ponto de vista do reconhecimento do investidor, quer para a criação de empregos e pagamento de impostos.
E aqui somos uma referência porque penso que não há ninguém que seja proprietário de cinco hotéis – três em Maputo, um em Gorongosa e outro no Songo –, e estamos a explorar um em Lichinga, no edifício do INSS que não foi construído por nós.
No agro-negócio, temos um pequeno projecto de exploração pecuária em Xinavane, província de Maputo, que usamos para fornecer aos nossos hotéis, e para suprir algum défice de qualidade que eventualmente encontremos.
Os nossos investimentos estão alinhados com a sede, em Portugal, mas aproveitamos algumas condições internas que encontramos, em cada mercado, para crescer.
Ficamos atentos a áreas de negócios novas, mas normalmente entramos com parcerias. O agro-negócio, por exemplo, é uma área a que estamos atentos por ser fundamental para o desenvolvimento de Moçambique.
Olhando mais para o cenário macro, quais são as perspectivas da empresa no curto e médio prazo?
Tenho visto diferentes projecções a curto e médio prazo, e alguns ajustamentos em função de certos episódios que vão acontecendo. Mas a nossa ideia fundamental é que Moçambique é um país com enorme potencial de crescimento, desde logo porque há ainda muita coisa para fazer.
E nas áreas onde temos maior presença (e até maior experiência ao nível internacional), ou seja, na área das telecomunicações e energia, pensamos que o potencial de crescimento no curto prazo é grande. Aliás, temos vindo a crescer, apesar da conjuntura recente provocada pela pandemia do covid-19.
Ao nível pessoal, estando a residir já há bastante tempo em Moçambique, a minha ideia fundamental é que há sempre espaço para crescer em determinados contextos. Portanto, penso que é possível crescer sem ser necessariamente um dos grandes players do oil & gas, estando presente no mercado e tendo experiência.
A nossa experiência em telecomunicações, energia e construção – áreas que estes grandes projectos vão necessariamente absorver –, e sendo um player que está também num turismo de negócios, diria que não gostaríamos de ficar reféns do oil & gas. Mas é evidente que esses projectos são muito importantes para a economia do País e, consequentemente, são importantes para nós, assim como para todas as empresas. Acredito que há muita coisa para fazer em Moçambique e há muito potencial. Então, é inevitável o crescimento económico.
Enquanto empresário de uma multinacional portuguesa, o que acha da relação de negócios Moçambique-Portugal, há alguma evolução? E que balanço faz da recente cimeira luso-moçambicana?
A visita do primeiro-ministro de Portugal a Moçambique e a celebração de acordos e mecanismos para a cooperação económica e cultural entre os dois Estados são, certamente, benéficos para o estímulo dos negócios entre ambos os países. Agora é preciso dar continuidade.
A sensação de que se podia fazer mais é natural e nós, como interessados, queremos que haja uma aceleração de protocolos económicos, mas também culturais e ligados à educação, uma vez que criam uma ligação entre os povos. Por isso, para mim foi muito bom que a cimeira tenha acontecido.
Naturalmente há essa sensação de poder fazer-se mais, mas, sendo sincero, no meu ponto de vista, gozamos de um bom clima de negócios entre os dois países e temos de tirar partido disso. Cada um dos países tem a sua agenda e desafios, mas estamos numa boa fase, temos de aproveitar e dar o nosso máximo.
Tendo sido recentemente indigitado para o cargo, gostaria de destacar um objectivo pessoal a alcançar no seu mandato à frente da Visabeira em Moçambique?
Olhe, gostaria de ficar associado a um efectivo crescimento na área da energia. Pessoalmente, penso que há muitas oportunidades nesse segmento. Assinámos alguns acordos a esse nível precisamente por acreditar que as energias têm um enorme potencial de crescimento a curto e médio prazo em Moçambique.
No meu mandato, se tiver de destacar claramente algum objectivo, esse passaria por dar continuidade ao crescimento no ramo das telecomunicações e manter e melhorar a percepção que as pessoas têm do nosso posicionamento na área do turismo. Mas, acima de tudo, desenvolver bastante a área da energia.
Tenho objectivos de curto prazo como fechar alguns negócios na área do imobiliário, que precisam de muita atenção porque dependem de factores e dinâmicas próprias do mercado. Mas o grande foco é mesmo manter a solidez do trabalho de vários anos e continuar a ser um player fundamental nas telecomunicações em Moçambique.
Texto Pedro Cativelos • Fotografia Mariano Silva