O Presidente sul-africano e líder do Congresso Nacional Áfricano (ANC), Cyril Ramaphosa, admitiu no fim-de-semana que o partido enfrenta uma significativa quebra de apoio eleitoral abaixo de 50%, apelando à reconfiguração da aliança governativa à esquerda, relata o jornal Notícias.
“Pela primeira vez na história da nossa democracia, a nossa participação no voto nacional caiu abaixo de 50%. Outra grande preocupação é o declínio substancial na proporção de jovens registados para votar”, declarou o dirigente do ANC, partido no poder desde 1994 na África do Sul.
Ramaphosa, que falava na abertura da 55.ª conferência nacional electiva do partido, em Joanesburgo, considerou como “preocupante” o facto de os jovens continuarem sem votar e a não se registarem para os actos eleitorais.
“Cerca de 9% dos jovens registaram-se em 2021, contra 41% em 1999”, referiu.
Sobre a governação da aliança tripartida entre o ANC, o Partido Comunista (SACP) e a Cosatu, a maior confederação sindical no país, o dirigente sul-africano sublinhou que o facto de os membros da Cosatu serem também membros do ANC e funcionários do Governo causa tensões no relacionamento governativo.
De acordo com Ramaphosa, o ANC “precisa de ter uma conversa séria sobre as suas parcerias de aliança”, incluindo sobre a pretensão antiga de o SACP querer disputar as eleições.
Ramaphosa referiu que após quase três décadas de democracia depois da queda do regime de segregação racial do apartheid no país, a aliança governativa precisa de ser “reconfigurada para implementar a Revolução Democrática Nacional, e esta conferência deve orientar isso”.
“A desunião no ANC não surge de diferenças ideológicas, políticas ou estratégicas, mas de uma disputa por cargos no Estado, e pelos recursos a eles alocados”, referiu.
Sobre a galopante corrupção pública no país, os delegados na conferência referiram-se à captura do Estado e lavagem de dinheiro quando Ramaphosa aludiu às medidas do seu Executivo para combater a captura do Estado pela grande corrupção pública desde 2017.
“Tomámos medidas decisivas para acabar com a captura do Estado, restaurar empresas estatais, reconstruir instituições públicas e permitir que o sistema de justiça criminal persiga os perpetradores da corrupção”, afirmou, destacando a acção de várias instituições no combate à corrupção.
“Orientados por uma das resoluções na nossa última conferência, constituímos a Comissão de Inquérito à Captura do Estado”, referiu o Presidente.
Ramaphosa, que substituiu o ex-presidente da África do Sul Jacob Zuma, e antigo líder do ANC entre 2009 e 2018, salientou que “uma das instruções mais claras da conferência de 2017 foi acabar com a captura do Estado e lidar com a corrupção nas próprias fileiras do ANC”.
Sobre os violentos tumultos em Julho de 2021, que causaram mais de 330 mortos, Ramaphosa reiterou que a violência foi uma “insurreição fracassada”.