O chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA) de Portugal, Henrique Gouveia e Melo, considerou ontem, 29 de Novembro, que a guerra contra os grupos armados na província de Cabo Delgado, Norte de Moçambique, também passa pela segurança nas águas.
“A segurança é transversal” e inclui o mar, que é “uma fronteira permeável que, se não for controlada, pode ser usada por grupos armados para criar instabilidade”, referiu Gouveia e Melo.
O militar português falava à margem da 3.ª Conferência da Economia do Mar, organizada em Maputo pela Câmara de Comércio Portugal Moçambique.
Reconhecendo que “o mar é um elemento agreste e difícil de controlar”, o almirante Henrique Gouveia e Melo defendeu a necessidade de os Estados concentrarem esforços na protecção das suas águas territoriais, assinalando que estes espaços podem ser palco de actividades criminosas.
Ainda sobre o combate aos grupos armados em Cabo Delgado, Gouveia e Melo observou que Portugal “dá o apoio possível”, notando que o país “não tem capacidades ilimitadas”.
“Nós damos apoios que são aceites por Moçambique e aqueles que nós também podemos dar”, enfatizou.
“É uma preocupação, porque afecta um país que é um nosso irmão”
O chefe do Estado-Maior da Armada de Portugal frisou que o seu país estará sempre com Moçambique na luta contra a violência radical, porque “os dois povos são irmãos”.
“É uma preocupação, porque afecta um país que é um nosso irmão”, frisou Henrique Gouveia e Melo, que nasceu na cidade de Quelimane, na província da Zambézia, centro de Moçambique.
Na sua intervenção na conferência, Gouveia e Melo destacou a importância do mar para a economia de Moçambique e dos países vizinhos, que dependem dos portos moçambicanos para o seu comércio internacional.
“Moçambique ocupa uma posição estratégica, porque os portos moçambicanos são uma porta de entrada para as trocas comerciais dos países do interior”, destacou.
A província de Cabo Delgado enfrenta há cinco anos uma insurgência armada com ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
A insurgência levou a uma resposta militar desde Julho de 2021 com apoio do Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projectos de gás, mas surgiram novas vagas de ataques a sul da região e na vizinha província de Nampula.
O conflito já fez um milhão de deslocados, de acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), e cerca de 4000 mortes, segundo o projecto de registo de conflitos ACLED.