Intervindo durante a Conferência sobre Financiamento à Indústria via Mercado de Capitais e Banca de Desenvolvimento, organizada pela Associação Industrial de Moçambique (AIMO) e realizada na quinta-feira, 24 de Novembro de 2022, em Maputo, Salim Valá advogou que a industrialização é um caminho seguro a trilhar-se em Moçambique para um crescimento económico rápido, inclusivo e sustentável, contribuindo para a geração de emprego, redução das desigualdades sociais e erradicação da pobreza.
Salim Valá recomendou uma aposta firme e consistente na industrialização, defendendo que “o País deve ter uma estratégia de crescimento económico com inclusão, que permita melhor inserção no contexto global”.
“Há sinais que mostram que, nas próximas décadas, o desenvolvimento económico de Moçambique vai ser liderado pela indústria transformadora, ainda pouco desenvolvida. Ora vejamos: das 100 maiores empresas do País, 14% são do ramo industrial; das 11 empresas cotadas, três são indústrias; as três indústrias cotadas na bolsa representam 90,2% do mercado accionista e 8,54% da capitalização bolsista global; noutras bolsas de valores, o sector industrial é um dos principais viveiros de empresas a listar-se”, assinalou.
Citando académicos como Justin Lin (2011), Carlos Lopes (2020) e Ha-Joon Chang (2014), Salim Valá explicou que “os principais constrangimentos que afectam a indústria transformadora estão relacionados com deficientes infra-estruturas, baixo nível da força de trabalho, problemas com energia e água, fracas ligações empresariais na cadeia de valor, difícil acesso ao financiamento e dificuldades de competir com indústrias de países mais desenvolvidos e industrializados”.
Não obstante o mercado bolsista nacional ser de pequena dimensão, com pouca profundidade, ele já acolheu várias ofertas públicas de sucesso, casos da CDM (em 2001), CMH (em 2008) e HCB (em 2019), tendo mais recentemente acolhido a operação da Tropigalia (entre Outubro e Novembro deste ano).
A BVM tem disponíveis actualmente três mercados de bolsa: o mercado de cotações oficiais, para as grandes empresas e Estado, o segundo mercado, para as PME, e o terceiro mercado, de incubação, transição e preparação para as PME e startups. Do total das 11 empresas cotadas, sete estão no MCO, uma no segundo mercado e três no terceiro mercado. Os instrumentos financeiros disponíveis são as acções, obrigações e papel comercial, e a BVM está a equacionar a introdução de novos produtos e instrumentos financeiros no ano 2023.
O PCA da BVM sublinhou que “um país sem uma indústria nacional forte dificilmente será um país desenvolvido e economicamente independente, pois estará eternamente preso na ‘armadilha das matérias-primas’ e vulnerável à volatilidade do preço das ‘commodities’ no mercado internacional”.
Valá reconheceu que industrializar um país não é tarefa de um sector ou apenas do Governo, pois “deve ter-se uma visão e estratégia consistentes e de longo prazo, nas quais se articulam esforços conjugados e complementares do Governo, sector privado, sociedade civil, instituições de formação e investigação (academia), parceiros de cooperação, instituições financeiras, enfim, todas as ‘forças vivas’ da sociedade e do sistema económico nacional”.
No que diz respeito à BVM, Salim Valá apontou que “estamos preparados para fazer a nossa parte nesse esforço e recomendamos à Associação Industrial de Moçambique (AIMO) que trabalhe com as empresas do sector industrial no sentido de serem mais bem geridas e governadas, a ter uma melhor saúde económico- financeira, a serem mais transparentes e a não terem receio de abrir o seu capital a outros investidores, para assim atraírem financiamento barato e dispersarem o risco do investimento”.
“Acreditamos que, com a parceria cristalizada através do memorando de entendimento assinado com o presidente da AIMO, o engenheiro Rogério Samo Gudo, a BVM terá mais empresas do sector industrial cotadas e a usar os produtos do mercado de capitais, mas também empresas da área do agro-negócio, turismo, tecnologias, do sector financeiro, entre outras”, referiu.
A finalizar a sua intervenção, Salim Valá advogou que “não devemos inflacionar as nossas expectativas em relação ao gás natural do Rovuma ou outros minerais e hidrocarbonetos. Transformar recursos naturais valiosos no País agrega mais valor do que ter os recursos e exportar de forma primária”. E concluiu: “na verdade, a promoção da industrialização é o caminho mais promissor e pragmático para a transformação económica rápida, abrangente, inclusiva e sustentável de Moçambique”.