O acelerómetro dos smartphones regista dados que podem ser preciosos para analisar o estado de conservação das pontes e, através das informações recolhidas das vibrações, antever eventuais problemas estruturais.
Segundo Thomas Matarazzo, um engenheiro civil da Academia Militar dos Estados Unidos, os banais smartphones podem ajudar a diagnosticar problemas em qualquer ponte por onde passe.
De acordo com a sua explicação, cada ponte tem uma frequência modal, ou seja, a forma como as vibrações se propagam pela estrutura e depois, em sequência, para o automóvel e smartphone. Da mesma forma que edifícios elevados também têm estas frequências quando abanam com o vento ou durante um terramoto.
São três os dados importantes que influenciam essa frequência: a massa, a duração e a rigidez, aponta o engenheiro. “Se observarmos uma mudança significativa nas propriedades físicas de uma ponte, então as respectivas frequências modais vão mudar”. É como se fosse um termómetro de medir a temperatura da ponte, em que as mudanças das frequências podem representar sintomas de alguma doença.
Um artigo mencionado pelo portal Wired refere que as pontes têm sensores muito caros utilizados para monitorizar e detectar mudanças da frequência modal. Mas a maioria das pontes construída a nível mundial ainda não tem os sensores. É que, além de serem necessárias centenas deles para cobrir uma ponte mais longa, é ainda necessário fazer a manutenção aos mesmos, na troca das baterias num determinado prazo de tempo.
Segundo Thomas Matarazzo, um engenheiro civil da Academia Militar dos Estados Unidos, os banais smartphones podem ajudar a diagnosticar problemas em qualquer ponte por onde passe
A solução poderá estar mesmo no uso de smartphones comuns, segundo um estudo publicado pelo engenheiro no jornal Nature Communications Engineering. O desafio será mesmo extrair a informação útil no campo com precisão suficiente. Para o seu estudo foram recolhidos dados de experiências controladas no terreno e viagens não controladas pela Uber (empresa multinacional americana, prestadora de serviços na área do transporte privado urbano) na ponte de São Francisco, a Golden Gate Bridge, e outra em Itália. A equipa desenvolveu um método de análise para recolher as propriedades tanto dos métodos oficiais como os recolhidos por dados comuns.
O engenheiro salienta que ao introduzir estes dados gerados pelos smartphones na construção de uma nova ponte poderá adicionar cerca de 14 anos à sua vida, sem custos adicionais. Ou seja, os seus resultados sugerem que os dados massivos e sem custos recolhidos pelos smartphones podem ter um papel vital na monitorização da saúde das infra-estruturas.
No caso da Golden Gate, que tem 1280 metros, foram recolhidos dois conjuntos de dados: um, em que foram feitas 102 viagens pela ponte, registando dados num iPhone 5 e iPhone 6; outro, em que os dados foram recolhidos por condutores da Uber em 72 viagens durante as suas operações normais. É referido que, de forma impressionante, as duas bases de dados, apesar de pequenas, conseguiram oferecer resultados correctos, demonstrando que os sensores dos smartphones podem ser aplicados facilmente, de forma barata e imediata.