A crise energética provocada pelo conflito bélico na Europa do Leste obrigou um conjunto alargado de países a adoptar políticas económicas restritivas para travar a subida de preços (inflação), que alteraram significativamente os padrões de consumo e a rendibilidade das empresas. Em Moçambique, o Governo anunciou um pacote de medidas de aceleração económica que visa atenuar a transmissão do choque externo, proteger as finanças públicas, preservar a capacidade produtiva interna e assegurar o normal funcionamento das cadeias de abastecimento de bens essenciais.
A recuperação da actividade económica, neste contexto, depende também da evolução da crise geopolítica, o que é algo que continua em grande incerteza. O efeito marcante desta crise, a nível económico, reflectiu-se na oferta, procura, sistema financeiro, confiança e finanças públicas.
A nível da oferta, verificou-se a interrupção de cadeias de abastecimento; perturbações nos canais de distribuição das matérias-primas, bens intermédios e bens de consumo; e redução da actividade no sector de produção industrial e serviços. Do lado da procura, observou-se um abrandamento da actividade creditícia devido à subida das taxas de juro e uma redução na demanda de bens de consumo, associada à aceleração da inflação causada pela revisão em alta dos preços dos combustíveis, que afectou o poder de compra das famílias e agravou os custos das empresas.
No que respeita ao sector financeiro, assistiu-se à volatilidade acrescida nos mercados financeiros, incluindo de capitais, aumento do risco de incumprimento financeiro dos mutuários, nomeadamente pressão sobre o crédito não produtivo.
A redução significativa dos níveis de confiança dos agentes económicos, associada ao escalar dos níveis de incerteza, com impacto nas decisões de investimento e financiamento empresarial, contribuiu para o arrefecimento da actividade do sector privado e no comércio internacional. A pressão sobre as contas públicas desencadeada pela subida inesperada da inflação e a redução de influxos externos teve impacto no saldo orçamental a nível da despesa pública.
Tendo em conta este cenário, o Plano de Recuperação Económica deve pugnar por medidas assertivas que possam alterar alguns dos desafios estruturais que inibem e limitam o desenvolvimento económico de Moçambique, nomeadamente: posicionar as empresas no centro da recuperação da economia, transformando-as no motor de crescimento e da geração de riqueza, criando condições para aumento da sua competitividade, qualificação das suas competências profissionais e valorização dos recursos humanos; criar condições para promover uma economia inclusiva e competitiva que funcione a favor da sociedade, utilizando de forma eficiente a capacidade produtiva instalada, atraindo investimento interno e externo; diversificar a economia a partir das bases existentes, tornando-a mais resiliente, estimulando a reorganização das cadeias logísticas e de produção, colocando a indústria nacional na primeira linha na produção de bens de equipamentos, na fabricação de máquinas; apostar na economia do mar, na reindustrialização do país, combinando o mapeamento de recursos endógenos com aplicação de tecnologias digitais.
Por fim, apoiar o investimento e a tesouraria das empresas saudáveis economicamente, criando instrumentos financeiros para resolver o problema de descapitalização, sobretudo nas empresas de pequena e média dimensão, permitindo viabilizar o acesso ao crédito bancário e outras fontes de financiamento como o Mercado de Capitais, Fundos de Capital de Risco, Garantias Mútuas, pode ser um caminho para fomentar a revitalização do tecido empresarial nacional.