Apesar de ainda pequeno, em comparação com a banca, o mercado segurador tem, apesar de tudo, crescido nos últimos anos, impulsionado por alguns novos segmentos que vão surgindo, mas também pelos impactos da pandemia e dos ciclones. Num mercado fortemente concorrencial, a meta dos operadores passa pela inovação. Com poucos anos no mercado, é aí que está a aposta da corretora do Standard Bank.
Há alguns anos era impensável falar em seguros especializados em Moçambique, um mercado em que a cultura de contratar serviços desta área não só demorou a chegar como experimentou (e ainda experimenta) taxas de penetração bastante reduzidas. Apesar disso, o mercado está a crescer, há novos players que chegaram ao mercado nos últimos anos. É o caso da Standard Corretores que, apesar de recente, aposta na cobertura de novos segmentos.
Claro que, neste caso, o facto de estar associada um grupo bancário secular, sólido e com elevada penetração em vários segmentos, especialmente no corporativo e empresarial, como é o caso do Standard Bank Moçambique, acaba por permitir o desenvolvimento de múltiplas soluções financeiras sob um só tecto; aprofundar a informação sobre os clientes podendo, por isso, garantir melhores coberturas e serviços contratados. O panorama, o posicionamento no mercado e as ambições desta corretora são descritos pela directora-executiva, Ana Gunde.
O que é, hoje, a corretora de seguros do Standard Bank?
A Standard Insurance Corretora de Seguros foi licenciada em 2019 e é uma subsidiária do Standard Bank Moçambique. Quando começámos, a ideia era dar resposta às oportunidades que o banco identificou ao nível das empresas.
É que, apesar de termos o que se chama de banca de seguros, que cobre os clientes individuais, havia uma lacuna em termos de prestação de serviços de seguros às empresas que eram clientes do banco. Tínhamos a visão de fornecer aos nossos clientes serviços de seguro genéricos, que são os que existem no mercado, mas também os especializados, como o caso do seguro mineiro, seguro de petróleo e gás, seguro cibernético, do terrorismo, etc. São estes seguros que fornecemos através de parceiros locais e internacionais que nos dão suporte técnico.
“Como corretora, o nosso papel é de advisory aos nossos clientes. Não assumimos o risco. Falamos com o cliente, analisamos o risco e as seguradoras assumem”
Como corretora, o nosso papel é de advisoring aos nossos clientes. Não assumimos o risco. Falamos com o cliente, analisamos o risco, damos o advisoring e as seguradoras é que assumem o risco. O nosso papel é, portanto, garantir que estamos a colocar o seguro a uma seguradora de bom nome e que paga os sinistros quando ocorrem.
Qual é a vantagem de a seguradora estar associada ao Standard Bank?
O banco identificou essa necessidade de ampliar e tornar mais universal o serviço aos seus inúmeros clientes dos vários segmentos. Esta foi, para nós, uma opção estratégica e alinhada com as expectativas de crescimento da economia nacional. Com a chegada dos grandes projectos de oil & gas e o seu impacto no cenário macroeconómico, era, a nosso ver, essencial haver uma corretora que pudesse dar advisory às empresas sobre as questões de risco associado às suas actividades.
Outro aspecto fundamental, e que é uma vantagem competitiva clara, é o facto de estarmos associados a uma marca como o Standard Bank, assente na credibilidade e confiança. Sendo uma marca que existe há cerca de 160 anos enquanto grupo, enquanto corretores com pouco tempo de actuação, atingimos um reconhecimento mais acelerado por parte do mercado por via disso mesmo.
Trabalham com várias seguradoras, mas garantem a qualidade de serviço Standard Bank, alinhado com os padrões do banco, é assim?
Temos um número limitado de seguradoras com quem trabalhamos precisamente por existirem requisitos que temos de preencher para termos as seguradoras no nosso painel. Há algumas que não responderam às nossas solicitações e outras que conseguiram fornecer o que precisávamos e são estas que trabalham connosco. Fazemos, portanto, advisory às empresas, temos poucos serviços individuais e os que temos são todos estratégicos. O nosso foco principal são as empresas.
Falou de alguns seguros mais especializados. Pode identificá-los?
Em primeiro lugar, a nossa oferta de serviços de seguros é adaptada às necessidades e desafios da economia e da sociedade moçambicana.
Temos, por exemplo, uma oferta de seguros contra desastres naturais, um dos grandes riscos que passámos a ter nos últimos anos. Hoje em dia, infelizmente, sempre que há ciclones, Moçambique é muito afectado por estes fenómenos. Antigamente, as zonas de risco eram específicas e estavam identificadas, mas agora temos registado ciclones em vários outros pontos do País. E temos de saber e poder dar resposta a isso enquanto seguradora.
Depois, há outros novos desafios, como a cibersegurança, um tema cada vez mais presente na agenda das empresas. Também disponibilizam soluções a esse nível?
O mercado está a começar a reconhecer e aceitar esses riscos, mas os requisitos ainda são inúmeros. As seguradoras e resseguradoras querem saber quais são as medidas e como podem ser mitigados os riscos, isto porque os hackers estão sempre muito mais avançados e investem muito mais do que as empresas. É um risco que afecta todos e já há consciência disso, e nós estamos, sem dúvidas, atentos a esse fenómeno e a trabalhar sobre ele, para poder proporcionar soluções inovadoras.
Com poucos anos no mercado, em que posição se encontra a seguradora neste momento?
Este é o nosso terceiro ano no mercado, e devo lembrar que pelo meio tivemos uma pandemia global, mas se olharmos aos resultados do Instituto de Supervisão de Seguros de Moçambique (ISSM), que é a entidade reguladora do nosso mercado, estamos em sexto lugar em termos de volume de negócios.
Estando entre os primeiros dez operadores significa que, de facto, estamos a crescer e a desenvolver-nos de forma muito positiva. Isso mostra que existem oportunidades de crescimento e amadurecimento no mercado e que ainda temos muito por onde crescer.
Qual é, na sua opinião, o estágio actual do mercado segurador em Moçambique?
O nosso mercado é muito dinâmico, competitivo e agressivo. Temos 19 seguradoras, 128 corretoras de seguros, mas destas, apenas dez concentram cerca de 90% da quota total do mercado. A competição está, assim, nestas corretoras de que também fazemos parte.
O mercado é muito competitivo, mas ainda está em desenvolvimento também, com uma dimensão muito pequena ao nível do número de apólices emitidas. Com a entrada em cena do sector do oil & gas e com o desenvolvimento económico que daí advirá, temos todos a esperança de ver o mercado crescer, porque, em termos de taxas de penetração de serviços de seguros, ainda está abaixo dos 2%, o que é muito reduzido comparado com outros países. Mas também sabemos que tivemos as situações do terrorismo no Norte do País e da pandemia do covid-19 que afectaram o mercado.
E há, agora, o desafio da inflação que também está a preocupar as seguradoras…
Sem dúvida. Com a previsão da inflação média do próximo ano a subir para perto dos 11,5%, isto é um desafio para as seguradoras, já que significa que os pagamentos para os sinistros vão aumentar. Não tendo nós, País, uma indústria de viaturas, se a inflação sobe, o custo de reparação das viaturas também sobe.
Mas o desafio não é apenas esse. É também a contínua redução do preço na emissão de seguros porque o mercado está ‘apertado’ por causa da competição entre as várias seguradoras e operadores. Ou seja, enquanto o custo dos sinistros sobe, o preço de emissão dos seguros tem de cair e isto é um problema.
O segmento dos seguros de saúde tem crescido?
De facto, tem crescido, primeiro, devido ao covid-19. Nos anos que passaram, o produto que tinha maior quota era o automóvel, a seguir os incêndios, mas, desde 2020, a quota do ramo saúde subiu bastante porque as pessoas despertaram para essa necessidade.
Hoje, a área automóvel tem crescido menos do que a da saúde e ambas já estão quase ao mesmo nível em termos de quota de mercado. Temos serviços de seguros de saúde ao nível da Standard Insurance Corretora de Seguros, mas estão voltados para as empresas, uma vez que as seguradoras não têm grandes pretensões de fazer seguros individuais.
“A digitalização dos processos para criar conveniência aos clientes e evitar a burocracia é a forma de aproximar os seguros do mercado
Quais são os próximos objectivos da corretora?
Temos muita esperança na área do oil & gas por causa da marca Standard Bank e de como está posicionada a esse nível, que nos pode alavancar no sentido de conseguirmos mais espaço nesse mercado. Depois, ao nível das infra-estruturas, firmámos recentemente uma parceria com a maior corretora da China que, acreditamos, vai contribuir para o aumento de alguns negócios, já que é um país que está muito evoluído no desenvolvimento de infra-estruturas.
Outro objectivo muito importante é a digitalização porque, infelizmente, o covid-19 abalou os mercados e despertou-nos para uma realidade contrária aos moldes tradicionais de como fazemos seguros. O que pretendemos é descobrir como podemos digitalizar os processos para criar conveniência aos clientes e evitar a burocracia para dinamizar e aproximar os seguros do mercado. Se, por exemplo, ocorrer um sinistro, em vez de o cliente ter de ir preencher um formulário, pode apenas tirar uma fotografia da situação e enviar-nos através de um aplicativo. Estamos nesse processo. Claro que há limitações nos regulamentos, mas estamos a trabalhar a pensar na digitalização e em como torná-la realidade.
Depois, e nos próximos três anos, a nossa meta é estarmos no ‘Top 5’ das seguradoras em termos de crescimento e aumentar o número de mulheres a trabalhar neste sector, já que temos poucas, não só no sector dos seguros, como em todo o sector financeiro. Esse é um desígnio da instituição, e meu também, e tenho estado envolvida em formas de empoderar outras mulheres. Fui a primeira, e até agora única, mulher CEO de uma seguradora e gostaria de ver outras mulheres seguir por este caminho.
Por fim, gostaríamos de ser uma marca de referência, no sentido de que se alguém precisar de seguros, se pense e recomende a Standard Insurance. Por isso, vamos continuar a formar e empoderar as nossas equipas no sentido prestar os melhores serviços para, mais do que competir no preço, possamos competir na qualidade.
Quais os grandes desafios do sector, de um modo geral?
A falta de quadros. Mas isso acontece porque não temos colégios ou universidades que dêem formação especializada em seguros. Pessoas que se formam nesta área fazem-no à distância (o que é difícil) e estão ligadas a academias no Zimbabué, África do Sul ou Inglaterra.
Os poucos quadros que têm conhecimentos sólidos e experiência são difíceis de reter. Depois, outro dos desafios a ter em conta na actualidade é a necessidade de educar os clientes e potenciais clientes. Em momentos de crise, a primeira coisa que muitas empresas fazem para reduzir custos ainda é, infelizmente, dispensar os seguros. Se queremos uma economia saudável, temos de mudar esse mindset.
E quanto aos seguros de garantias de que se tem falado, é uma solução viável?
Já houve sinistros de mercado que comprovaram que, em Moçambique, não há apetite para seguros de garantias. Existem algumas seguradoras que fazem, mas os requisitos são maiores.
O desafio é que, por exemplo, uma empresa que esteja a iniciar actividade, e que queira fornecer serviços a outra empresa, como a Sasol ou Total, estas pedem três anos de contas auditadas. Mas uma empresa que está no início de actividade não tem este requisito. Assim, mesmo que exista um contrato de fornecimento já assinado, as seguradoras não estão confortáveis em avançar.
Texto Pedro Cativelos • Fotografia Mariano Silva