Há muito tempo, visitei um projecto numa área remota de Moçambique. Era o pico do verão, e a pequena aldeia parecia o cenário de um filme de faroeste; não havia ninguém na rua, tudo estava seco e coberto de poeira laranja, e via-se o vapor que saia do chão pedregoso.
Fiquei ao lado da casa do administrador; eram as duas únicas construções em cimento da aldeia. No início da noite, davam-me um balde com água morna para tomar banho de caneca na casa-de-banho atrás da casa. Sempre que eu reaparecia da rotina de limpeza, Francisca, a esposa do administrador, dava-me uma chávena de chá preto com muito açúcar. Eu pegava a chávena e sentava-me na porta do meu quarto para ver a aldeia ganhar vida enquanto o sol começava a se pôr.
Enquanto bebia o meu chá, vi uma mulher que morava do outro lado da rua. Estava sentada debaixo de uma grande mangueira, numa esteira. Ao lado dela estava a sua casa, uma estrutura frágil feita de pedra e barro e um telhado de caniço que precisava ser substituído. Ela parecia muito jovem e havia um contraste óbvio entre seus modos infantis e um corpo que parecia muito abatido para ter outro filho. Eu a observei durante os próximos 7 dias.
A mulher, vamos chamá-la Carolina, acordava todas as manhãs às 6h. Visto que sou madrugadora, eu testemunhava como o dia dela se desenvolvia todas as manhãs. Com ritmo acelerado, a Carolina saia de casa com um tambor de 25 litros vazio na cabeça e um bebê que dormia nas costas amarrado numa capulana velha. Lá, ela esperava pacientemente pela sua vez de encher o tambor, umas vezes ajudando a outras mulheres a operar a alavanca enferrujada e outras vezes a brincar inocentemente do que chamamos no sul de ‘matacuzana’.
De volta a casa, ela acendeu o fogo, e vi como um menino ia para a escola com um uniforme mal ajustado. Ele não tomou matabicho. No fogo ela pôs uma panela de alumínio amassada e ferveu água para fazer ‘xima’. Antes de endurecer, ela removeu um pouco e despejou em 3 tigelas de plástico; acrescentou açúcar e óleo de gergelim e chamou seus filhos que comeram a papinha com entusiasmo.
Numa panela menor ela cozinhou folhas de batata-doce; não havia tomate, coco ou feijão para dar consistência ao prato. Esta refeição simples alimentou a Carolina, o menino que tinha acabado de voltar da escola e uma menina que não tinha mais de 10 anos e cuidava de seus irmãos pequeninos. Durante o resto do dia, a Carolina ficou sentada na esteira, trançando os cabelos das meninas, parecendo entretida. À medida que a noite se aproximava, as crianças iam tomar banho em turnos, e o dia culminou para a família com uma chávena de chá e mandioca fresca.
Durante 7 dias eu tentei encontrar o sentido lógico da citação de Albert Einstein ‘No meio da dificuldade está a oportunidade’. Mas a oportunidade não ocorre magicamente e é uma responsabilidade civil trabalhar para encontrar soluções práticas para desencadear mudanças positivas na vida de mulheres como a Carolina, através de; a) A erradicação do casamento infantil e da gravidez na adolescência; b) O empoderamento das mulheres Africanas através do empreendedorismo, c) A expansão de tecnologias modernas e a energia e, mais importante, d) A defesa dos direitos das mulheres na sociedade.