Uma equipa de investigadores descobriu uma molécula capaz de estimular as próprias células imunológicas dos doentes a combater vários tipos de cancro. O estudo foi publicado no Journal for ImmunoTherapy of Cancer.
A investigação surgiu no seguimento de estudos anteriores, que descobriram como libertar os “travões” do sistema imunitário, como as proteínas CTLA-4, PD-1 e PD-L1, que impedem a acção dos linfócitos T na luta contra o cancro.
Ao aplicar estas técnicas de bloqueio destas proteínas, a equipa comprovou a melhoria da resposta anti-tumoral de doentes com vários tipos de cancro, sem os efeitos colaterais graves, típicos dos tratamentos com quimioterapia.
Helena Florindo, professora no Instituto de Investigação do Medicamento da Faculdade da Farmácia da Universidade de Lisboa (FFUL), e autora correspondente do estudo, explicou à RFI o tipo de molécula que foi descoberto e sintetizado.
“Estamos a falar de uma molécula pequena, basicamente é um composto químico, como muitos outros já existentes, que, no nosso caso, quisemos que fosse uma alternativa a anti-corpos, que já são administrados por injecção, em clínica, mas que têm um custo muito elevado”, começou por referir a cientista portuguesa.
O objectivo da equipa de investigação é criar um comprimido que possa ser mais eficaz e que produza menos efeitos secundários do que as terapias que existem actualmente na luta contra o cancro.
“O que queríamos com esta molécula era, depois, administrá-la sob a forma de um comprimido, por via oral. O que ela faz é diminuir o bloqueio que o cancro desenvolve à resposta, à protecção que o nosso organismo normalmente desenvolve, que o tumor, ao longo da sua progressão, acaba por ultrapassar e bloquear”, explica a cientista.
Esta molécula poderá vir a ser uma alternativa mais acessível e eficaz à terapia através de anti-corpos, utilizada actualmente na luta contra o cancro, conforme explicou a investigadora.
“É uma molécula produzida por uma síntese química simples. Por exemplo, nós produzimo-la no nosso laboratório, mas é claro que, para depois sintetizar e para administração aos doentes, tem de ser em fábricas especializadas e em condições especializadas. Já os anti-corpos são moléculas biológicas, é uma produção diferente, mais complexa”, referiu ainda.
De acordo com Helena Florindo, esta molécula poderá ser eficaz no combate a vários tipos de cancro, entre eles o da mama ou o do pulmão, cancros que, actualmente, são tratados com recurso a terapias com anti-corpos.
“Estamos a falar, por exemplo, de melanoma metastático, de fases muito agressivas deste tumor, cancro do pulmão, da bexiga ou da mama. Já existem vários tipos de tumores para cujos tratamentos este tipo de anti-corpos está aprovado”, explica.
“Às vezes, o que acontece é que alguns doentes não conseguem completar a terapêutica por alguns efeitos adverso. Nós esperamos que esta pequena molécula possa também ser utilizada por esses doentes pela indução de menores efeitos adversos”, acrescentou.
Segundo Rita Acúrcio, a primeira autora do estudo, a equipa usou recursos computacionais e bio-informáticos para encontrar pequenas moléculas que tivessem capacidade de inibir essas proteínas.
Os resultados, obtidos após estudos feitos em ratinhos que produzem proteínas PD-1 e PD-L1 humanas, foram “um controlo do crescimento do tumor e um aumento do número de células imunológicas activas” na massa sólida do tumor, refere a investigadora e professora da FFUL.
O próximo passo da equipa assenta em ensaios clínicos em seres humanos, que poderão demorar cerca de dois anos, e “avaliar a eficácia da molécula quando administrada por via oral, uma vez que tal constituiria uma alternativa bastante importante para os doentes”, explica a investigadora.
A equipa está ainda a tentar optimizar a molécula para que o efeito no tratamento dos tumores possa ser superior ao que acontece no tratamento com anti-corpos.