A opinião é do presidente da Câmara de Energia de Moçambique (CEM), Florival Mucave, para quem a transição energética constitui ainda um grande desafio para o País devido aos vários constrangimentos internos existentes.
“Moçambique ainda não está preparado. Há países ocidentais que falam da transição energética para os próximos dez ou 20 anos, e outros falam de 2030, por exemplo”, altura em que se almeja utilizar somente as energias renováveis.
Florival Mucave referiu que, apesar dos recursos existentes, “a nossa prioridade, hoje, é o acesso à energia eléctrica através do programa Energia Para Todos até 2030, e este é um grande desafio, visto que a maior parte da população usa lenha para cozinhar, enquanto o mundo está a falar da descarbonização total”.
Este posicionamento foi manifestado esta quarta-feira, 2 de Novembro, durante a conferência sobre transição energética, que decorreu em Maputo, e na qual o presidente da CEM salientou que um dos grandes obstáculos existentes no País é o facto de a economia nacional ser uma das mais pobres do mundo, e sem recursos financeiros para investir em medidas de mitigação e de adaptação.
De acordo com o responsável, “precisamos dos fundos climáticos, o que não quer dizer que tenhamos de pedir dinheiro. Devemos organizar projectos internamente, que possam atrair investidores para as áreas da energia, [uma vez que] Moçambique tem a possibilidade de ser uma potência regional neste segmento. Não há outro país na África Austral que tenha um potencial energético como o nosso. Logo, devemos aproveitar esse potencial e investir nos meios certos e na formação”.
Olhando para a actual agenda global sobre transição energética, o interveniente disse ser importante que Moçambique tenha uma posição concertada, para que se posicione de forma positiva e pragmática, abrindo espaço para a participação do sector privado e da sociedade civil.
“Moçambique tem as três maiores reservas de gás natural do mundo, e qualquer interrupção na exploração dos recursos naturais terá implicações muito graves na economia moçambicana e no seu desenvolvimento socioeconómico. Há um debate internacional, do qual Moçambique faz parte, que incide na necessidade de reduzir e, até, a dada altura parar a produção de combustíveis fósseis e adoptarmos somente as energias renováveis, tendo em conta a importância de se combater as mudanças climáticas”, concluiu Florival Mucave.
A conferência sobre transição energética em Moçambique teve como foco principal de debate “a agenda Net-Zero, Gás Natural como energia de transição, a importância das energias renováveis na matriz energética nacional e a aspiração de energia para todos até 2030”.
O objectivo do encontro foi assinalar um ponto de partida sólido para que o sector privado moçambicano pudesse debater a questão da transição energética, e ter consciência dos desafios climáticos que assolam o mundo e Moçambique, em particular.